Translate

quarta-feira, 14 de maio de 2014

UM BOM VIZINHO

 

                                              CAPITULO TRÊS




VIII

Rodrigo convidou Mário Regino para a festa de fim de ano da empresa de engenharia, em uma boate no Centro. Mário Regino aceitou e perguntou se Samanta também ia.
- Ela vai dormir na casa da mãe dela. Ontem tivemos mais uma discussão.
Mário Regino aconselhou com uma certa malícia:
- Tem que se botar no lugar dela Rodrigo, Samanta está com três meses e meio de gravidez...
- Já estou de saco cheio dela me perturbando com aquela historinha que não posso beber, que ela vomita toda vez que chego em casa fedendo a cachaça, que agora está engordando e cheia de espinha na cara... Pô,satura ficar todo dia escutando o mesmo lenga-lenga de sempre! Meu Deus, que meu filho ou filha nasça logo de uma vez, pra acabar com esse inferno na minha casa!
Mário Regino usou de diplomacia:
- Então vamos aproveitar essa festa para esfriar sua cabeça. Você precisa relaxar, Rodrigo. Eu sei como anda estressado. Merece um pouco de paz no espírito. Hoje está proibido de se aporrinhar. Amanhã você pensa nisso. Mas pelo menos vai pensar com a mente mais arejada!
Rodrigo concordou e disse:
- A gente só dá valor a um amigo numa hora dessas...

A festa foi na Casa Nice. Várias mesas estavam reservadas à empresa e um DJ animava o ambiente com músicas pop, e alguns funcionários arriscavam alguns passos de dança em uma pista improvisada.
Rodrigo escolheu uma mesa que ficava perto do bar. No meio da música alta, apontou e disse no ouvido de Mário:
- Aquele sujeito ali de bigode e óculos redondos é o babaca que pega no meu pé todo dia na firma. Amigo, se ele ainda continuar no ano que vem, vou acabar pedindo transferência para uma filial bem longe daqui.
- Esquece o cara nessa noite - disse Mário Regino, solícito. Ele notou o sujeito e pensou: "Então é esse...Bom, muito bom."
Um garçom colocou uma garrafa de uísque cheia na mesa, e Rodrigo encheu seu copo. Mário Regino podia dizer: Vamos com calma, rapaz. Mas preferiu o silêncio. "Deixa que o idiota beba à vontade, que se afogue na droga do uísque. Que fique bêbado de não lembrar de nada! Hoje ele vai se divertir. E vou ajuda-lo nessa missão!"
Inventando uma desculpa que ia no banheiro e saiu pelo salão e contornando as mesas cheias.Percebeu que Rodrigo, mesmo com seu cargo, não era muito querido pelos colegas, já que ficou sozinho bebendo um copo atrás do outro de uísque. Talvez fosse o novo chefe... que já aprontava a rasteira para derrubar aquele alcoólatra da empresa. No caso desse chefe Mário ia pensar depois, agora estava procurando por outra pessoa . E não foi difícil achar depois das descrições detalhadas que obteve de Rodrigo; em pé na frente do balcão do bar duas moças bebiam Martíni.
Uma delas era a secretária de Rodrigo, Glorinha. Mário Regino chegou por trás das moças e disse:
- Seu chefe está lá sozinho na mesa precisando de uma companhia bonita como você.
Glorinha, que nunca vira aquele homem gordo e careca na sua vida, estranhou. Mário Regino sorriu e se identificou:
- Me desculpe, sei que deve estar pensando agora: quem é esse maluco que tá falando comigo? Oi, meu nome é Mário Regino, amigo do seu chefe Rodrigo. Fui convidado por ele para essa festa, mas minha mulher me ligou agora, parece que não está se sentindo muito bem e preciso ir embora logo, só que eu não queria deixa-lo sozinho. Sei que ele tá tendo uma crise no trabalho e parece que os colegas estão boicotando o pobre rapaz... - ele fitou o ar intrigado da moça e perguntou, em um modo servil: - Eu não errei de moça... Você é Glória, a secretária dele, não é?
Glorinha, uma morena bronzeada de praia, que mostrava as marcas de biquíni nos ombros descobertos no tomara que cai azul que vestia, sorriu, exibindo lindos dentes. Ela respondeu:
- Desculpe se fui grossa , estava distraída conversando com minha amiga... - A outra moça, que não se identificou e que Mário Regino nem fazia questão de saber quem era, foi para o outro extremo da boate, onde se juntou com um grupo de rapazes.
Mário Regino arriscou:
- Distraída porque estava pensando em alguém especial, não é? Tipo, como um cara que me interessa tanto ainda não me deu uma cantada?
Glorinha parecia ofendida com a indireta, mas Mário Regino não se intimidou com aquele falso moralismo. Continuou falando:
- Então esse mesmo cara agora está sozinho numa mesa afogando suas mágoas em doses homéricas de uísque. Veja só, não quero que se sinta ofendida, e nem me pergunte como eu sei das coisas. Só vou dizer o que sei. Somos vizinhos de porta, e sempre voltamos juntos de carro. E durante a viagem, no meio dos engarrafamentos, ele costuma me contar bastante coisa. E uma das coisas que ele me contou que se não fosse tímido, ia chamar uma certa pessoa para sair com ele. O problema que ele é tímido com as mulheres. Pode não parecer porque ele fala muito, mas uma coisa é contar piadas para os amigos e outra é de se aproximar de uma mulher bonita. - Mário Regino analisava a expressão da morena, e dava mostras que estava dando resultado. - Outro dia ele me confessou: Mário, se não é essa timidez, chegaria na Glorinha para falar de tudo, menos de trabalho... Estou apaixonado por ela.
- Ele é casado - disse Glorinha, interessada na história.
- Glorinha... Posso te chamar assim, posso? Não seria a primeira e nem a última vez que um chefe se apaixona por sua secretária. Quanto ao casamento dele com Samanta, estão passando por uma crise conjugal. Ele me disse que tá cansado dela. Mas não vou falar do casal porque sou amigo tanto dele com dela também. O importante é o que ele me disse. Já dei meu recado. Só desejo que Rodrigo seja feliz, e sei que hoje ele não está feliz.
Glorinha olhou em direção das mesas e viu Rodrigo, sozinho, bebendo o uísque. Ela disse:
- Coitado dele... Tá com uma carinha de infeliz... vou lá conversar com ele.
- Vai sim - incentivou Mário Regino. - Ele vai adorar com certeza!
Enquanto a morena caminhava, despejando toda sensualidade nas suas curvas, Mário Regino saiu da boate.
Tinha mais coisas para fazer do que ficar segurando vela para otário!

IX

No domingo, dois dias depois da festa, parado numa fila na padaria da esquina do prédio onde morava, Mário Regino viu Rodrigo em pé no balcão com um copo de conhaque na mão.
Segurando um pacote com quatro pães e cem gramas de mortadela, aproximou-se do rapaz.
- Já nessa hora da manhã, Rodrigo? Não deu nem nove horas...
Rodrigo esvaziou o copo e disse:
- Você não sabe a maior, Mário... Só tô chegando agora.
- Chegando agora de onde... da festa?... O que aconteceu?
Rodrigo exibiu um rosto cansado, a barba por fazer e os olhos injetados.
- Amigo, preciso te contar o que me aconteceu... Logo depois que você saiu, a minha secretária sentou na mesa comigo. Não sei o que deu na minha cabeça, só sei me deixei levar pela sedução dela. E não demorou muito, só o tempo de duas garrafas de uísque e alguns papos sem noção, e quando fui ver tava num quarto de motel com Glorinha. No sábado dei um dinheiro para o táxi dela e fiquei dormindo o dia inteiro pra curar minha ressaca. Aquele uísque era paraguaio...
- E Samanta?
- Não te falei que ela está na casa da mãe dela, da minha caríssima sogra que nunca gostou do seu único genro. Ela está chegando hoje de tarde. Ontem ela tentou ligar para mim várias vezes para o meu celular, mas eu não atendi.
Rodrigo segurou no braço de Mário Regino e disse, com seus olhos vermelhos de fogo:
- Quando ela chegar, vou inventar uma desculpa esfarrapada. Vou dizer que ontem saímos, eu e você, para comermos peixe na Barra. Ela vai desconfiar, principalmente agora que está com sua auto estima pra baixo, e vai te perguntar. Samanta confia muito em você. É só você assinar em baixo o que eu te disse.
Mário Regino afastou a mão do jovem do seu braço e disse, sério:
- Pode deixar que confirmo.

CONTINUA
(No próximo capítulo: Mário Regino cara a cara com duas mulheres)

Rogerio de C. Ribeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário