Boa
tarde, estou de volta para contar como vieram as ideias de alguns contos que
publiquei nas duas últimas semanas.
Meus
leitores e visitantes desse meu singelo blog. Já escrevi antes que algumas
histórias já vem prontas, e outras começo e termino dias ou meses depois. É o
caso de O Prêmio, que a princípio seria um conto sobre uma dona de casa normal,
mãe de três filhos casada com um corretor de imóveis, que certo dia vê uma
propaganda na televisão sobre um álbum de figurinhas, que dava um prêmio para a
pessoa que conseguisse completa-lo. O prêmio torna-se uma obsessão para essa
mulher, que conforme vai comprando os pacotes de figurinha, deixa transparecer
seu lado escuro, e no decorrer da narrativa extrapola seu lado psicopata. Bem,
imaginei um conto com umas quinze, vinte páginas no Word, e já ultrapassou mais
de 120 páginas até o momento que escrevo esse artigo.
Outro
dia li um artigo que tratava de dois tipos de escritores: Um que planeja tudo
antes, anota uma sinopse que segue ao pé da letra, já sabe quem são os
personagens, o enredo, o começo e o fim. E outros que escrevem de modo
intuitivo, começa com uma ideia e vai descobrindo o enredo conforme a história
vai seguindo. No meu caso, tem contos que sei como começa e termina, e outros
que a história me guia.
Dificilmente
mudo o final de uma história quando reescrevo. Posso contar no dedo os contos
que modifiquei o final. Um que me veio na memória foi PRIORIDADE PATERNA, que
troquei duas vezes o contexto. Primeiro escrevi na terceira pessoa; depois foi
na primeira pessoa e com um final xis e depois mantive a terceira pessoa e pus
um final Y, que pra mim foi satisfatório. Esse conto ( que foi escrito em 1995
e as pessoas que leram me criticaram pelo tema pesado ) realmente é como um
soco na boca do estômago, mas tive que escreve-lo, e depois que lançar aqui no
blog vou contar como foi a ideia dele. Outros contos meus sei que são
escabrosos, mas como disse, se não
escrevo, eles ficariam na minha cabeça para sempre.
Esse
artigo é sobre a ideia dos contos que lancei aqui no blog. Vou começar com:
UM BOM VIZINHO = Escrito em 1996, nesse ano
morava em um prédio no centro de Niterói. Nunca fui de fazer amizade com
vizinhos, normalmente só dizia bom dia, boa noite, o básico. Alguns desses
vizinhos ficavam conversando entre eles no corredor e mantinham amizade entre
eles. Fiquei pensando: E se um desses vizinhos for um invejoso, que gosta de
fuxicar da vida alheia? A princípio meu conto seria uma vizinha fofoqueira, que
ia arruinar a vizinha da frente com suas mentiras. Depois pensei: Porquê não um
homem? Um cara com inveja do vizinho mais jovem, que tinha um bom emprego e uma
linda esposa. Disse para mim mesmo: Legal. E o nome do conto já veio de
sopetão:Um bom vizinho. E o nome dele foi batizado em homenagem ( se é que
posso dizer que é homenagem ), de uma conhecida minha de trabalho, que sorria
na sua frente e quando você dava as costas, te crucificava para os outros. Por
isso o nome Mário Regino. E me lembrei também de uma aventura de Asterix, o
herói gaulês que eu li muito quando criança, que teve um episódio chamado A
Cizânia (Discórdia). Eu era moleque quando li e fiquei impressionado. Tão
impressionado que utilizei essa artimanha para Mário Regino, que criou a
discórdia, que as palavras são cruéis, mortais, quando mal administradas.
FATOS
= Esse é um dos contos mais antigos, foi escrito em 1980. No final dos anos
setenta, li um conto do A Vida Como Ela É..., de Nelson Rodrigues, que no final
o marido matava a mulher a pontapés. Eu nunca tinha lido nada igual antes.
Achei formidável. Decidi (tinha 13 anos) que ia escrever como ele. Só muitos
anos depois, quando li vários contos de Nelson, percebi que o estilo dele era
traição, obsessão... Mas antes eu não sabia, achava que minhas tragédias eram
iguais. Foi tentando imitar ele que sem querer criei o meu estilo, que é bem
diferente. FATOS foi escrito ainda na influência de Nelson Rodrigues. E esse
conto foi um dos poucos que mudei o final. Nesse ano eu estudava à noite, e na
aula de português a professora mandou que fizéssemos uma redação com tema
livre. Eu adorei! Peguei o caderno, a caneta e pensei no título. Quando clicou
na minha cabeça o nome Fatos, a história veio junta. Em vinte minutos escrevi e
entreguei a professora, enquanto os outros alunos lutavam para escrever um
parágrafo. A professora leu, ficou horrorizada ( eu tinha 16 anos na época, e
1980 era época da ditadura, da censura ) e me perguntou na lata onde eu tinha
copiado a redação. Falei que tinha escrito, mas ela não acreditou. Mesmo não
acreditando, me deu uma boa nota.
OLHOS
QUE SEGUEM = Esse conto é desse ano. O sobrinho da minha esposa que mora no
Litoral do Paraná trabalha com a Secretaria de Cultura. Enquanto conversávamos
sobre curta-metragem, ele me disse que tinha ideia de produzir um filme que
seria pela optica de um cachorro para seu dono, um pescador. Eu disse que podia
escrever e ele daria uma olhada, se gostasse... Bem, acho que não gostou, disse
que o final era triste, mas eu gostei, por isso postei ele no blog.
ONDE
ESTÁ VOCÊ AGORA = A história veio por causa dessa frase na música do Peninha,
que Caetano gravou. Ouvi a frase e veio o conto na hora. Um pai preocupado com
o bem estar do seu filho, e que lia notícias de crianças que sumiam. Dei início
ao conto em 1997, parei na metade (mas sabia como terminava), e por mil coisas,
não fui adiante. E mês passado o reescrevi, agora ele todinho. Até o final era
o mesmo que pensei há quase 17 anos.
LEDO
ENGANO - Também de 1996, queria escrever sobre o absurdo. Tudo invertido. E o
enredo foi baseado em partes comigo mesmo. Em 1986 trabalhava no Bamerindus
perto da Rodoviária Novo Rio, e saía oito horas da noite. Seguia com um grupo
até o ponto de ônibus para Niterói, mas uma vez apressei meus passos e fui na
frente. No que dobrei a esquina da Francisco Bicalho, tinha um camburão na
calçada e policiais apontavam suas armas para um grupo encostado na parede. E
fui convidado, também, com um revólver na minha cara, para fazer companhia aos
emparedados. E veio um sujeito que tinha sido assaltado e o policial
perguntava: Foi esse, esse, esse - e apontou para mim - e pensei que só faltava
o cara ficar na dúvida. Mas não era ninguém e fui dispensado, não sem antes o
pessoal do banco que vinha atrás ficar me sacaneando por causa disso durante um
bom tempo. Quando o título veio "Ledo Engano", Engano Alegre, usei o
absurdo que aconteceu comigo com o personagem, só que com ele o absurdo foi
total.
A
origem dos contos foi assim. Em breve estarei de volta para falar dos próximos
que irei postar.
Até
breve!
Rogerio
de C. Ribeiro
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