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sábado, 24 de maio de 2014

IDEIAS PARA OS CONTOS ABAIXO:

Boa tarde, estou de volta para contar como vieram as ideias de alguns contos que publiquei nas duas últimas semanas.

Meus leitores e visitantes desse meu singelo blog. Já escrevi antes que algumas histórias já vem prontas, e outras começo e termino dias ou meses depois. É o caso de O Prêmio, que a princípio seria um conto sobre uma dona de casa normal, mãe de três filhos casada com um corretor de imóveis, que certo dia vê uma propaganda na televisão sobre um álbum de figurinhas, que dava um prêmio para a pessoa que conseguisse completa-lo. O prêmio torna-se uma obsessão para essa mulher, que conforme vai comprando os pacotes de figurinha, deixa transparecer seu lado escuro, e no decorrer da narrativa extrapola seu lado psicopata. Bem, imaginei um conto com umas quinze, vinte páginas no Word, e já ultrapassou mais de 120 páginas até o momento que escrevo esse artigo.

Outro dia li um artigo que tratava de dois tipos de escritores: Um que planeja tudo antes, anota uma sinopse que segue ao pé da letra, já sabe quem são os personagens, o enredo, o começo e o fim. E outros que escrevem de modo intuitivo, começa com uma ideia e vai descobrindo o enredo conforme a história vai seguindo. No meu caso, tem contos que sei como começa e termina, e outros que a história me guia.

Dificilmente mudo o final de uma história quando reescrevo. Posso contar no dedo os contos que modifiquei o final. Um que me veio na memória foi PRIORIDADE PATERNA, que troquei duas vezes o contexto. Primeiro escrevi na terceira pessoa; depois foi na primeira pessoa e com um final xis e depois mantive a terceira pessoa e pus um final Y, que pra mim foi satisfatório. Esse conto ( que foi escrito em 1995 e as pessoas que leram me criticaram pelo tema pesado ) realmente é como um soco na boca do estômago, mas tive que escreve-lo, e depois que lançar aqui no blog vou contar como foi a ideia dele. Outros contos meus sei que são escabrosos, mas  como disse, se não escrevo, eles ficariam na minha cabeça para sempre.

Esse artigo é sobre a ideia dos contos que lancei aqui no blog. Vou começar com:

UM BOM VIZINHO = Escrito em 1996, nesse ano morava em um prédio no centro de Niterói. Nunca fui de fazer amizade com vizinhos, normalmente só dizia bom dia, boa noite, o básico. Alguns desses vizinhos ficavam conversando entre eles no corredor e mantinham amizade entre eles. Fiquei pensando: E se um desses vizinhos for um invejoso, que gosta de fuxicar da vida alheia? A princípio meu conto seria uma vizinha fofoqueira, que ia arruinar a vizinha da frente com suas mentiras. Depois pensei: Porquê não um homem? Um cara com inveja do vizinho mais jovem, que tinha um bom emprego e uma linda esposa. Disse para mim mesmo: Legal. E o nome do conto já veio de sopetão:Um bom vizinho. E o nome dele foi batizado em homenagem ( se é que posso dizer que é homenagem ), de uma conhecida minha de trabalho, que sorria na sua frente e quando você dava as costas, te crucificava para os outros. Por isso o nome Mário Regino. E me lembrei também de uma aventura de Asterix, o herói gaulês que eu li muito quando criança, que teve um episódio chamado A Cizânia (Discórdia). Eu era moleque quando li e fiquei impressionado. Tão impressionado que utilizei essa artimanha para Mário Regino, que criou a discórdia, que as palavras são cruéis, mortais, quando mal administradas.

FATOS = Esse é um dos contos mais antigos, foi escrito em 1980. No final dos anos setenta, li um conto do A Vida Como Ela É..., de Nelson Rodrigues, que no final o marido matava a mulher a pontapés. Eu nunca tinha lido nada igual antes. Achei formidável. Decidi (tinha 13 anos) que ia escrever como ele. Só muitos anos depois, quando li vários contos de Nelson, percebi que o estilo dele era traição, obsessão... Mas antes eu não sabia, achava que minhas tragédias eram iguais. Foi tentando imitar ele que sem querer criei o meu estilo, que é bem diferente. FATOS foi escrito ainda na influência de Nelson Rodrigues. E esse conto foi um dos poucos que mudei o final. Nesse ano eu estudava à noite, e na aula de português a professora mandou que fizéssemos uma redação com tema livre. Eu adorei! Peguei o caderno, a caneta e pensei no título. Quando clicou na minha cabeça o nome Fatos, a história veio junta. Em vinte minutos escrevi e entreguei a professora, enquanto os outros alunos lutavam para escrever um parágrafo. A professora leu, ficou horrorizada ( eu tinha 16 anos na época, e 1980 era época da ditadura, da censura ) e me perguntou na lata onde eu tinha copiado a redação. Falei que tinha escrito, mas ela não acreditou. Mesmo não acreditando, me deu uma boa nota.

OLHOS QUE SEGUEM = Esse conto é desse ano. O sobrinho da minha esposa que mora no Litoral do Paraná trabalha com a Secretaria de Cultura. Enquanto conversávamos sobre curta-metragem, ele me disse que tinha ideia de produzir um filme que seria pela optica de um cachorro para seu dono, um pescador. Eu disse que podia escrever e ele daria uma olhada, se gostasse... Bem, acho que não gostou, disse que o final era triste, mas eu gostei, por isso postei ele no blog.

ONDE ESTÁ VOCÊ AGORA = A história veio por causa dessa frase na música do Peninha, que Caetano gravou. Ouvi a frase e veio o conto na hora. Um pai preocupado com o bem estar do seu filho, e que lia notícias de crianças que sumiam. Dei início ao conto em 1997, parei na metade (mas sabia como terminava), e por mil coisas, não fui adiante. E mês passado o reescrevi, agora ele todinho. Até o final era o mesmo que pensei há quase 17 anos.

LEDO ENGANO - Também de 1996, queria escrever sobre o absurdo. Tudo invertido. E o enredo foi baseado em partes comigo mesmo. Em 1986 trabalhava no Bamerindus perto da Rodoviária Novo Rio, e saía oito horas da noite. Seguia com um grupo até o ponto de ônibus para Niterói, mas uma vez apressei meus passos e fui na frente. No que dobrei a esquina da Francisco Bicalho, tinha um camburão na calçada e policiais apontavam suas armas para um grupo encostado na parede. E fui convidado, também, com um revólver na minha cara, para fazer companhia aos emparedados. E veio um sujeito que tinha sido assaltado e o policial perguntava: Foi esse, esse, esse - e apontou para mim - e pensei que só faltava o cara ficar na dúvida. Mas não era ninguém e fui dispensado, não sem antes o pessoal do banco que vinha atrás ficar me sacaneando por causa disso durante um bom tempo. Quando o título veio "Ledo Engano", Engano Alegre, usei o absurdo que aconteceu comigo com o personagem, só que com ele o absurdo foi total.

A origem dos contos foi assim. Em breve estarei de volta para falar dos próximos que irei postar.

Até breve!

Rogerio de C. Ribeiro

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