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terça-feira, 6 de maio de 2014

EM BUSCA DO AMOR PERDIDO

Não adianta que me botem aqui dentro
Porque não vou esquecê-la
Meu amor supera granitos e concretos
E nem essas grades vão me intimidar.

O amor não distingue classe social
Não sabe quem é rico ou pobre
Não pergunta a idade
Nem sua escolaridade.

Na vida sempre precisei trabalhar
Já ergui paredes, misturei cimento
Empurrei muito carrinho de mão
Fiquei pendurado em andaimes suspensos.

Mas não me envergonho disso
Nem na época que fiquei desempregado
E que furtei para comer
E me escondi para não morrer.

Sempre fui persistente
E consegui o trabalho de caseiro
No sítio em Rio Bonito
Um lugar bastante tranquilo, com muito verde.

E foi ali que então
Pude saber a verdadeira essência
Do que era o amor
Já que antes nem imaginava que podia existir.

Foi no instante que a vi na piscina;
Eu de longe só admirando
Com receio que ela risse de mim
Da minha condição social.

Mas ela, de tão bela em seus olhos azuis
Um dia me viu remexendo na terra
Cuidando do jardim e das flores
E foi então que vi seu sorriso cândido
Para mim.

Sozinho em meu quarto
Na pequena casa nos fundos do sítio
Não conseguia mais dormir direito
Porque a imagem daquele sorriso
Não saía de dentro da minha cabeça.

Aguardava ansioso os feriados
E as festas de fim de ano
Que eram quando vinham da cidade
E passavam vários dias no sítio.

Eram nesses instantes
Que eu a cortejava de longe;
Minha vida inteira fui de uma tímidez com as mulheres
Que não sabia como podia chegar nelas sem gaguejar.

Mas descobri que o destino gosta de brincar
E nessa brincadeira pude vê-la sozinha na piscina
Tomei coragem
Consegui chegar perto e dizer
Que ela era a flor mais bonita que eu já tinha visto.

Ela riu, e parecia envergonhada
Me disse que precisava entrar
Então a deixei ir
Feliz com nossa primeira aproximação.

O problema eram os pais dela
Conservadores, moralistas, capitalistas
Nunca permitiriam que sua filha
Se envolvesse com um caseiro.

Eles não sabem o que significa a essência do amor
Incondicional, gigantesco
Que não nos deixa esquecer
Em nenhum momento da nossa amada;

Sempre estive em busca de uma vida assim
E graças a ela esqueci dos meus sofrimentos passados
Dentro de mim tive certeza
Que o sentimento era recíproco.

Precisei disfarçar
E fingir para os pais dela
Que ela para mim era apenas minha patroa.
Mas essa mentira me torturava.

Uma hora sabia que ia ter que declarar
Berrar em alto som como eu a amava,
Que o primeiro sorriso que ela me ofereceu
Acendeu minha chama intensamente.

Um dia perguntei a ela se tinha vergonha
Porque eu era apenas um caseiro
Ela apenas me olhou espantada
Mas não respondeu nada.

Ofereci uma rosa vermelha
Que ela aceitou e depois fugiu correndo.
A timidez dela me encantava
E seu modo meigo e educado
Que não me via como um subalterno,
Que me via como seu homem...

E no dia que a vi à sós tomei coragem e perguntei
Se ela queria ver as rosas que eu havia colhido.
Ela procurou pelos pais
Mas não os viu por perto.

E aceitou em me acompanhar até minha casinha
Para admirar as rosas.
Mas eu menti
Não tinha nenhuma rosa e nem margarida
Eu que tinha minha flor ao meu lado.

Quando ficamos sozinhos na pequena sala
Declarei tudo que sentia para ela
Exaltei que sempre estivera em busca
Do meu amor perdido.

E para minha surpresa
Ela não queria mais ficar ali sozinha comigo
Perguntei se era pela nossa classe social
Mas ela não quis me responder.

Agarrei-a a força, quis beija-la
Mas ela se debatia nos meus braços.
Eu entendia que aquela negação
Era por causa do controle rígido dos seus pais
Que proibiam qualquer romance
Entre classes sociais diferentes,
E que o capital era mais importante que qualquer sentimento.

Por isso no fundo sabia
Que mesmo oprimida pela ganância dos seus pais
Ela também me desejava
E que só precisava de um pretexto
Para se entregar completamente para mim.

Então meu lado macho falou mais alto
Joguei-a no sofá e rasguei suas roupas;
Ela não reagiu
Nem disse absolutamente nada
Só me fitava com aqueles seus olhos azuis.

E tivemos nosso primeiro momento de amor
E gozei como nunca havia antes gozado
Com uma outra.

As  lágrimas saiam de seus olhos
Azuis como o mar, como o céu de abril;
E segurei seu pescoço
Nossos hálitos se misturaram
E novamente fizemos amor.

Mas minha excitação era tamanha
Que apertei demais seu pescoço
Na hora que atingi meu gozo,
E vi suas pernas brancas manchadas pelo sêmen e sangue
Provando que eu fui seu primeiro amante...

Percebi também
Que seus olhos, tão azuis
Agora estavam opacos, sem vida.

Foi nesse momento que entraram na casa:
O pai capitalista, me empurrou de cima dela
A mãe que gritou pelo nome da filha
Tentei dizer que nós nos amávamos
Por isso ocultamos de todos
Do grande amor das nossas vidas.

Outras pessoas entraram na casa
E começaram a me bater
Nunca apanhei tanto na minha vida
Só porque tinha o amor no meu coração.

Enquanto me espancavam
Podia ouvir a mãe dela repetindo:
Minha filha
Minha filhinha
Nem seis anos ainda tinha!

Mesmo sangrando, arrebentado
Não sentia nenhuma dor física
E eu também repetia:
Minha amante
Minha namorada
A única que sorriu para mim!

Me amarraram, ameaçaram me matar
E enquanto via minha amada sendo levada pelo colo do pai dela
Quis dizer seu nome
Mas percebi que não sabia como ela se chamava
Era apenas o meu amor.

Agora me trancaram sozinho nessa cela
Mas repito que nenhuma grade e nenhum concreto
Eliminará o sentimento que tenho aqui dentro do meu peito
E é com ele que sonho
E é com ele que vibro
Que um dia muito em breve
Estarei de volta ao lado
Do grande amor da minha vida.


Rogerio de C. Ribeiro


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