EM
BUSCA DO AMOR PERDIDO
Não adianta que me
botem aqui dentro
Porque não vou
esquecê-la
Meu amor supera
granitos e concretos
E nem essas grades vão
me intimidar.
O amor não distingue
classe social
Não sabe quem é rico ou
pobre
Não pergunta a idade
Nem sua escolaridade.
Na vida sempre precisei
trabalhar
Já ergui paredes,
misturei cimento
Empurrei muito carrinho
de mão
Fiquei pendurado em
andaimes suspensos.
Mas não me envergonho
disso
Nem na época que fiquei
desempregado
E que furtei para comer
E me escondi para não
morrer.
Sempre fui persistente
E consegui o trabalho
de caseiro
No sítio em Rio Bonito
Um lugar bastante
tranquilo, com muito verde.
E foi ali que então
Pude saber a verdadeira
essência
Do que era o amor
Já que antes nem imaginava
que podia existir.
Foi no instante que a
vi na piscina;
Eu de longe só
admirando
Com receio que ela
risse de mim
Da minha condição
social.
Mas ela, de tão bela em
seus olhos azuis
Um dia me viu remexendo
na terra
Cuidando do jardim e
das flores
E foi então que vi seu
sorriso cândido
Para mim.
Sozinho em meu quarto
Na pequena casa nos
fundos do sítio
Não conseguia mais
dormir direito
Porque a imagem daquele
sorriso
Não saía de dentro da
minha cabeça.
Aguardava ansioso os
feriados
E as festas de fim de
ano
Que eram quando vinham
da cidade
E passavam vários dias
no sítio.
Eram nesses instantes
Que eu a cortejava de
longe;
Minha vida inteira fui
de uma tímidez com as mulheres
Que não sabia como
podia chegar nelas sem gaguejar.
Mas descobri que o
destino gosta de brincar
E nessa brincadeira pude
vê-la sozinha na piscina
Tomei coragem
Consegui chegar perto e
dizer
Que ela era a flor mais
bonita que eu já tinha visto.
Ela riu, e parecia
envergonhada
Me disse que precisava
entrar
Então a deixei ir
Feliz com nossa
primeira aproximação.
O problema eram os pais
dela
Conservadores,
moralistas, capitalistas
Nunca permitiriam que
sua filha
Se envolvesse com um
caseiro.
Eles não sabem o que significa
a essência do amor
Incondicional,
gigantesco
Que não nos deixa
esquecer
Em nenhum momento da
nossa amada;
Sempre estive em busca
de uma vida assim
E graças a ela esqueci
dos meus sofrimentos passados
Dentro de mim tive
certeza
Que o sentimento era
recíproco.
Precisei disfarçar
E fingir para os pais dela
Que ela para mim era apenas
minha patroa.
Mas essa mentira me
torturava.
Uma hora sabia que ia
ter que declarar
Berrar em alto som como
eu a amava,
Que o primeiro sorriso
que ela me ofereceu
Acendeu minha chama
intensamente.
Um dia perguntei a ela se
tinha vergonha
Porque eu era apenas um
caseiro
Ela apenas me olhou
espantada
Mas não respondeu nada.
Ofereci uma rosa
vermelha
Que ela aceitou e
depois fugiu correndo.
A timidez dela me
encantava
E seu modo meigo e
educado
Que não me via como um
subalterno,
Que me via como seu
homem...
E no dia que a vi à sós
tomei coragem e perguntei
Se ela queria ver as
rosas que eu havia colhido.
Ela procurou pelos pais
Mas não os viu por
perto.
E aceitou em me
acompanhar até minha casinha
Para admirar as rosas.
Mas eu menti
Não tinha nenhuma rosa
e nem margarida
Eu que tinha minha flor
ao meu lado.
Quando ficamos sozinhos
na pequena sala
Declarei tudo que
sentia para ela
Exaltei que sempre
estivera em busca
Do meu amor perdido.
E para minha surpresa
Ela não queria mais
ficar ali sozinha comigo
Perguntei se era pela
nossa classe social
Mas ela não quis me
responder.
Agarrei-a a força, quis
beija-la
Mas ela se debatia nos
meus braços.
Eu entendia que aquela
negação
Era por causa do
controle rígido dos seus pais
Que proibiam qualquer
romance
Entre classes sociais
diferentes,
E que o capital era
mais importante que qualquer sentimento.
Por isso no fundo sabia
Que mesmo oprimida pela
ganância dos seus pais
Ela também me desejava
E que só precisava de
um pretexto
Para se entregar
completamente para mim.
Então meu lado macho
falou mais alto
Joguei-a no sofá e rasguei
suas roupas;
Ela não reagiu
Nem disse absolutamente
nada
Só me fitava com
aqueles seus olhos azuis.
E tivemos nosso
primeiro momento de amor
E gozei como nunca
havia antes gozado
Com uma outra.
As lágrimas saiam de seus olhos
Azuis como o mar, como
o céu de abril;
E segurei seu pescoço
Nossos hálitos se
misturaram
E novamente fizemos amor.
Mas minha excitação era
tamanha
Que apertei demais seu
pescoço
Na hora que atingi meu
gozo,
E vi suas pernas
brancas manchadas pelo sêmen e sangue
Provando que eu fui seu
primeiro amante...
Percebi também
Que seus olhos, tão
azuis
Agora estavam opacos,
sem vida.
Foi nesse momento que
entraram na casa:
O pai capitalista, me
empurrou de cima dela
A mãe que gritou pelo
nome da filha
Tentei dizer que nós
nos amávamos
Por isso ocultamos de
todos
Do grande amor das
nossas vidas.
Outras pessoas entraram
na casa
E começaram a me bater
Nunca apanhei tanto na
minha vida
Só porque tinha o amor
no meu coração.
Enquanto me espancavam
Podia ouvir a mãe dela
repetindo:
Minha filha
Minha filhinha
Nem seis anos ainda
tinha!
Mesmo sangrando,
arrebentado
Não sentia nenhuma dor
física
E eu também repetia:
Minha amante
Minha namorada
A única que sorriu para
mim!
Me amarraram, ameaçaram
me matar
E enquanto via minha
amada sendo levada pelo colo do pai dela
Quis dizer seu nome
Mas percebi que não
sabia como ela se chamava
Era apenas o meu amor.
Agora me trancaram
sozinho nessa cela
Mas repito que nenhuma
grade e nenhum concreto
Eliminará o sentimento
que tenho aqui dentro do meu peito
E é com ele que sonho
E é com ele que vibro
Que um dia muito em
breve
Estarei de volta ao
lado
Do grande amor da minha
vida.
Rogerio de C. Ribeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário