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quarta-feira, 7 de maio de 2014

EM BUSCA DO AMOR PERDIDO = COMO SURGIU...

O conto Em Busca do Amor Perdido foi escrito nos anos 1990, na minha velha máquina de escrever Olivetti Linea 88. Imaginei uma história em forma de poema, e quem a declamava era um estuprador. Imaginei o que se passava na cabeça dele. Se a atração que sentia era uma tara ou se realmente acreditava que era correspondido. 
Abomino qualquer tipo de violência, tanto que até hoje evito olhar para fotos sanguinolentas que são publicadas à exaustão na Internet, ou assistir programas populistas no estilo Datena ou Marcelo Rezende. O que acontece na vida real já é bastante cruel para eu basear minhas narrativas.
Prefiro eu mesmo imaginar uma situação e depois escrever. Mesmo sendo violenta, cruel, abominável, a ficção sugere que é apenas um devaneio do autor.
Já disse antes que não costumo escrever historinhas água com açúcar com finais de "e viveram felizes para sempre". Não, tenho ciência que alguns contos meus são cruéis, e hoje vejo que algumas que escrevi há vinte e poucos anos,acreditava que eram pessimistas e fora da realidade; mas hoje vejo que acontecem na vida real.
Ontem vi na tevê o caso da pobre coitada que foi linchada e morta por uma denúncia na internet. Há mais de trinta anos escrevi um conto chamado O Espetáculo, que narra sobre um linchamento de um homem, e os agressores que o trucidavam não faziam a menor ideia porque batiam nele. Em breve estarei postando essa história no meu blog.
Onde quero chegar com isso? O Espetáculo foi escrito em 1981, 1982 e na época disseram que eu era um doente por ter escrito uma coisa daquelas. E ontem, em maio de 2014, um povo influenciado por uma rede social dilaceram uma pobre coitada... Comemoravam e batiam... Tenho certeza que a maioria nem sabia porque batia, estavam ali na onda da multidão em fúria.
Voltando ao tema do meu artigo. Quando escrevi o conto Em Busca..., também disseram que minha mente era doentia, que devia escrever sobre alegria, de felicidade. Meu único argumento foi que não consigo. Meu tio Léo Montenegro, morto em 2003, escreveu uma coluna diária no Jornal O Dia que se chamava O Avesso da Vida, durante 37 anos. Adorava ler suas histórias, que era uma sátira ao subúrbio carioca e os tipos que vivem lá. Tentei por algumas vezes escrever como ele, e fracassei em todas elas. Na verdade, cada um é um, e se todos fossem comediantes, o que seriam das tragédias?
No conto Em Busca, procurei escrever de uma forma para tentar enganar o leitor com um poema piegas, que seria declamado pelo estuprador. E imaginei o que se passa dentro da cabeça de um sujeito desse, se acreditava mesmo que era correspondido por uma menina de cinco anos como se fosse a coisa mais normal do mundo.
A mente humana é complexa, repleta de labirintos, e no caso desse poeta, apenas buscava um amor perdido.

Rogerio de C. Ribeiro


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