EM BUSCA DO AMOR PERDIDO = COMO
SURGIU...
O
conto Em Busca do Amor Perdido foi escrito nos anos 1990, na minha velha
máquina de escrever Olivetti Linea 88. Imaginei uma história em forma de poema,
e quem a declamava era um estuprador. Imaginei o que se passava na cabeça dele.
Se a atração que sentia era uma tara ou se realmente acreditava que era
correspondido.
Abomino qualquer tipo de violência, tanto que até
hoje evito olhar para fotos sanguinolentas que são publicadas à exaustão na
Internet, ou assistir programas populistas no estilo Datena ou Marcelo Rezende. O
que acontece na vida real já é bastante cruel para eu basear minhas narrativas.
Prefiro
eu mesmo imaginar uma situação e depois escrever. Mesmo sendo violenta, cruel,
abominável, a ficção sugere que é apenas um devaneio do autor.
Já
disse antes que não costumo escrever historinhas água com açúcar com finais de "e viveram felizes para sempre". Não, tenho ciência que alguns contos meus são
cruéis, e hoje vejo que algumas que escrevi há vinte e poucos anos,acreditava que eram pessimistas e fora da realidade; mas hoje vejo que acontecem na vida
real.
Ontem
vi na tevê o caso da pobre coitada que foi linchada e morta por uma denúncia na
internet. Há mais de trinta anos escrevi um conto chamado O Espetáculo, que
narra sobre um linchamento de um homem, e os agressores que o trucidavam não
faziam a menor ideia porque batiam nele. Em breve estarei postando essa
história no meu blog.
Onde
quero chegar com isso? O Espetáculo foi escrito em 1981, 1982 e na época disseram que eu era um doente por ter escrito uma coisa daquelas. E ontem, em maio de 2014,
um povo influenciado por uma rede social dilaceram uma pobre coitada...
Comemoravam e batiam... Tenho certeza que a maioria nem sabia porque batia,
estavam ali na onda da multidão em fúria.
Voltando
ao tema do meu artigo. Quando escrevi o conto Em Busca..., também disseram que
minha mente era doentia, que devia escrever sobre alegria, de felicidade. Meu
único argumento foi que não consigo. Meu tio Léo Montenegro, morto em 2003,
escreveu uma coluna diária no Jornal O Dia que se chamava O Avesso da Vida,
durante 37 anos. Adorava ler suas histórias, que era uma sátira ao subúrbio
carioca e os tipos que vivem lá. Tentei por algumas vezes escrever como ele, e
fracassei em todas elas. Na verdade, cada um é um, e se todos fossem
comediantes, o que seriam das tragédias?
No
conto Em Busca, procurei escrever de uma forma para tentar enganar o leitor com
um poema piegas, que seria declamado pelo estuprador. E imaginei o que se passa
dentro da cabeça de um sujeito desse, se acreditava mesmo que era correspondido
por uma menina de cinco anos como se fosse a coisa mais normal do mundo.
A
mente humana é complexa, repleta de labirintos, e no caso desse poeta, apenas
buscava um amor perdido.
Rogerio
de C. Ribeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário