SE
ME CHAMAREM, DIGA QUE NÃO ESTOU
Quando nasci, meu pai
profetizou:
- Ele vai ser alguém na
vida!
Quando fiz um ano, minha
mãe disse:
- No próximo
aniversário vamos fazer uma festa!
Quando fiz cinco anos,
meus pais disseram:
- Você vai ganhar um
irmãozinho!
Quando fiz seis anos,
minha mãe disse:
- Porquê você é tão mau
com seu irmão?
Quando fiz oito anos,
minha professora disse:
- De castigo! Tem que
escrever mil vezes no quadro negro: "Nunca mais vou falar palavrão dentro
da escola" !
Quando fiz dez anos,
minha tia perguntou:
- O que fez com sua
prima na área?
Quando fiz onze anos,
minha tia perguntou novamente:
- O que tava fazendo
com seu primo na área?
Quando fiz treze anos,
meu pai recriminou:
- Brinco é coisa de
menina!
Quando fiz quatorze
anos, minha mãe questionou:
- O que faz aí no
banheiro que demora tanto?
Quando fiz quinze anos,
meu irmão avisou:
- Papai falou que quem
usa batom é mulher!
Quando fiz dezesseis
anos, meu amigo disse:
- Olha a revista que
comprei... é sueca!
Quando fiz dezoito
anos, o sargento gritou:
- Olhem pro tamanho do
pauzinho dele!
Quando fiz dezenove
anos, minha namorada perguntou:
- Você é virgem????
Quando fiz vinte e dois
anos, minha mãe comunicou:
- Não quero mais saber
do seu pai. Me apaixonei pelo Vinicius.
Quando fiz vinte e três
anos, Vinicius, meu ex-melhor amigo disse:
- Só fiquei com sua mãe
pra ficar mais perto de você.
Quando fiz vinte e
quatro anos, eu disse para minha família:
- Sou gay.
Quando fiz trinta e
dois anos, meu parceiro disse:
- Fiz o teste. Deu
positivo.
Quando fiz trinta e
cinco anos, Jeanette, minha amiga, me consolou:
- Que Jacques descanse
em paz.
Quando fiz trinta e oito
anos, meu médico disse:
- Negativo. Você não é
portador.
Quando fiz quarenta
anos, meu pai disse:
- Meu filho, sinto sua
falta. Venha morar na minha casa.
Quando fiz quarenta e
dois anos, meu irmão disse:
- Papai nunca quis
dizer antes, mas sempre se orgulhou de tê-lo como filho.
Quando fiz quarenta e
cinco anos, minha tia disse:
- Sua mãe sempre esteve
ao seu lado.
Quando fiz cinquenta
anos, meu novo namorado disse:
- Não me importa se é
soropositivo. Eu te amo.
Quando fiz cinquenta e
cinco anos, meu primo disse:
- Obrigado pela dica.
Fui chamado para a peça.
Quando fiz sessenta
anos perguntei ao meu parceiro:
- Aceito ou não o
convite para dirigir a nova peça?
Quando fiz sessenta e
dois anos, meu editor disse:
- Seu livro é sucesso
de vendas!
Quando fiz setenta e um
anos, meu editor disse:
- A crítica acabou com
seu livro.
Quando fiz oitenta
anos, o médico disse:
- Câncer na próstata.
Quando fiz oitenta e um
anos, me despedi:
- Para meus amigos,
inimigos, parentes, serpentes, meu irmão e meu parceiro de longa data,
meus primos e meus sobrinhos, para os que me apoiaram e também para aqueles que
me vaiaram, ao meu sucesso e ao meu fracasso, para Deus e o Diabo, quero que
saibam que minha vida foi muito boa, teve momentos tristes, mas também alegres.
Tive que superar obstáculos, mas passei por elas sem me ferir. Até minha opção
sexual, que escondi por bom tempo, um dia acordei e pensei: Que se fodam aqueles
que virarem a cara pra mim. Eles que não são merecedores da minha amizade. E
quando fiz isso, me tornei mais feliz. Tudo bem que teve tempestades, mas são
das intempéries que vem a bonança. Escrevi livros, dirigi peças, plantei árvores. Só não tive filhos, mas não é sempre que a gente tem tudo o que quer. Só digo com toda sinceridade, sei que meu tempo está chegando no fim, mas ora bolas, como é bom
viver!
Quando fiz oitenta e
dois anos, não disseram mais nada.
Rogerio de C. Ribeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário