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sábado, 24 de maio de 2014

CONTO COMPLETO


                                                    UM BOM VIZINHO


I

Mário Regino assistia o programa Esporte Espetacular enfiado na sua velha poltrona de couro desfrutando a paz que reinava no ambiente já que Laurinda, sua esposa, ainda continuava agarrada pelos braços de Morfeu quando de repente escutou vindo do corredor do lado de fora móveis sendo arrastados de frente à porta do seu apartamento. Levantou-se da poltrona com certa dificuldade e foi arrastando os chinelos de dedo pelo sinteco de tacos gastos e abriu a porta para saber quem era o responsável pelo barulho.
No apartamento 802, viu que a porta estava aberta e dois homens carregavam um armário na sala vazia. Um rapaz magro e com cabelos crespos estava parado no corredor ao lado da soleira da porta observando o movimento dos homens da mudança. O rapaz ouviu a porta do vizinho se abrindo, virou-se rápido e mostrou um sorriso exibindo dentes perfeitos e brancos. Ele disse:
- Bom dia! Tomara que esse barulho não esteja incomodando o senhor em pleno domingo!
Mário Regino retrucou:
- Não me incomodou em nada. Estranhei um pouco porque o dia para mudanças sempre é nos sábados.
- Ia ser ontem, mas tivemos que embalar tudo correndo para poder entregar o apartamento que alugávamos. Graças a Deus, esse aqui é nosso.
- Isso é bom - disse Mário Regino enquanto avaliava o jovem na sua frente com seus olhos porcinos. - E sua família é grande?
O jovem riu.
- Não, por enquanto só eu e minha esposa. Somos recém-casados.
Mário Regino concordou e sorriu,mostrando seus dentes pequenos e amarelos :
- Bacana. Meus parabéns. Sejam bem vindos, vizinhos.
Dois homens com uniforme pediram licença e passaram por eles carregando uma geladeira frost free e foram direto para a cozinha do apartamento. Enquanto Mário Regino avaliava o preço daquela geladeira, ouviu uma voz de mulher; provavelmente era a esposa do rapaz.
- Mas que educação minha - disse o jovem batendo na testa e estendeu a mão. - Meu nome é Rodrigo.
- Oi, Rodrigo, e o meu é Mário Regino - ele estendeu sua mão balofa e apertou a outra com força. - Vou repetir de novo que o casal seja bem vindo,e precisando de alguma coisa é só bater . Vizinhos são pra isso mesmo!
Rodrigo riu.
- Tem toda razão, e  te digo o mesmo.
Uma moça loura de corpo esguio, veio da cozinha. Ela vestia uma camiseta branca e um pequeno short que exibia grossas coxas. Rodrigo passou seu braço em torno da cintura dela e apresentou:
- Amor, esse é nosso vizinho Mário Regino. Minha esposa, Samanta.
Mário Regino balançou a cabeça fingindo desinteresse, mas seus olhos varriam todo corpo da moça avaliando. Sentiu uma súbita ereção e pôs as mãos em frente para disfarçar. Disse:
- Qualquer coisa, é só bater.
Antes de fechar e trancar a porta, arriscou uma última olhada para o jovem casal e os móveis que enchiam o apartamento deles.

II

Mário Regino lia o jornal no momento que sua esposa Laurinda acordou. Ele baixou o jornal no seu colo e conferiu que no seu relógio de pulso marcava onze e meia da manhã.
Laurinda saiu do quarto com uma velha camisola que cobria um corpo magro e seco. Tinha os cabelos embaraçados com alguns grampos presos e pendurados. Mário Regino comentou:
- A cama tava boa! Teve uma hora que achei que tinha morrido. Mas seria muita sorte para mim...
- Não enche o saco, Regino - disse Laurinda, a voz pastosa. - Essa noite mal preguei o olho. E ainda  hoje de manhã, com aquela barulheira lá fora...
"O que você sabe é dormir, fumar e ver televisão. Que bela mulher que tenho", pensou Mário Regino.
No almoço, Mário Regino ouviu vozes vindo do apartamento vizinho. Deduziu que fosse a família do rapaz ou da esposa gostosa. Enquanto enrolava o macarrão no garfo, viu Laurinda, que já tinha terminado de comer ,sentada na sua frente em silêncio  e acendendo um  cigarro fedorento na mesa com um isqueiro BIC; Sua vontade era pegar o seu prato cheio de macarrão com molho de salsicha e joga-lo na cara dela. Procurou manter o controle, continuou mastigando e aguçou a audição, tentando ouvir o que conversavam lá fora.

III

Um mês se passou e os dois vizinhos se encontraram em frente do elevador na manhã de uma terça-feira. Rodrigo usava um terno de linho e carregava uma pasta na mão. Ele disse:
- Como vai, vizinho?
Mário Regino, em sua velha camisa de botões e meio apertada, que  mostrava uma protuberante barriga, respondeu que ia bem.
- Estou indo para a cidade, quer uma carona? - Perguntou Rodrigo
Mário Regino, que todos dias pegava um ônibus que sempre vinha lotado até o centro da cidade, respondeu:
- Se não incomodar...
- Incomoda nada! - Rodrigo riu. Era um riso franco e jovial. - Todo dia vou pro centro de carro sozinho. Vai ser um prazer.
E Mário Regino foi de carona. Era um Palio de duas portas e com ar condicionado. No caminho do Méier para a cidade, foram batendo papo e Mário Regino soube que o rapaz trabalhava como consultor chefe em um famoso escritório de engenharia, 
Mário Regino sentiu dentro dele um súbito mal estar, não sabia se a razão disso era por causa do cinto de segurança que apertava sua imensa barriga ou do fato que o rapaz possuía um ótimo emprego enquanto que ele, aos 48 anos  era apenas um medíocre funcionário administrativo, que mal dava para segurar o salário até o fim do mês.

Dias depois se encontraram na portaria do prédio, e novamente Rodrigo ofereceu carona . Mário Regino se fez de rogado, que não queria abusar. No que Rodrigo disse:
- Mário, eu te conheço há pouco tempo, mas sei muito bem diferenciar um sujeito aproveitador de um trabalhador honesto. Já disse antes que não me custa te dar carona e afinal de contas, pra que servem os vizinhos? - Disse e deu um tapa nas costas de Regino, rindo.
Mário Regino apenas sorriu.
E nos meses seguintes a amizade entre os dois foi se aprofundando . Rodrigo era expansivo, gostava de conversar, e Mário Regino era do tipo que só escutava. Às vezes almoçavam juntos em um restaurante na Rua do Rosário, e Rodrigo sempre pagava a conta. Nos fins de semana, marcavam no playground do prédio onde tinha uma mesa de sinuca, e jogavam. As partidas eram sempre regadas a várias garrafas de cerveja. Rodrigo, além de falar bastante, bebia compulsivamente. Já Mário Regino que mal tocava no seu copo,  ainda derramava ele cheio na pia que tinha ao lado da churrasqueira.

IV

Aos domingos se reuniam na casa de Rodrigo para assistirem ao futebol. Vascaíno doente, Rodrigo exibia os uniformes que colecionava, inclusive um que pertencera ao seu pai autografado pelo Roberto Dinamite. Bastante embriagado das cervejas que consumira desde a manhã , ele mostrou a camisa e disse:
- Olha só essa aqui Mário, essa camisa é de 1974, no ano que Vasco foi campeão brasileiro... Meu pai era conselheiro do clube e ganhou do Dinamite... Meu pai... - Havia lágrimas nos seus olhos. - Pobre do meu pai, morrer daquela forma...
Pela enésima vez Mário Regino ouviu a história do pai de Rodrigo que morreu em 1982 atropelado na Praça da Bandeira por um Chevette que corria em alta velocidade. Na época Rodrigo tinha seis anos , e hoje com quase 30 anos ainda sentia muita falta dele.
Samanta pediu, um pouco nervosa:
- Amor, dá pra parar de beber um pouco, você está chateando seu Mário...
Laurinda, que estava de pé na janela com um cigarro preso entre os dedos e segurando um copo de plástico com um restinho de cerveja que já estava preta pelas cinzas que depositava ali, disse:
- O Mário? O Seu Mário Regino? Esse aí adora ouvir histórias... se for triste então...hummmm...lambe os beiços...
Mário Regino fuzilou a esposa num olhar, mas Laurinda pouco se importou. Continuou dizendo:
- Queridinha, tem como pegar uma outra cerveja, mas dessa vez bem gelada? Adoro quando marcamos essas nossas reuniões nos domingos. Antes nosso andar aqui era um marasmo... quando eu ficava sozinha só olhando a cara de Regino. Um verdadeiro tédio! Regino nunca foi de falar muito... Agora pelo menos temos conversas agradáveis com vocês, existe juventude...
A vontade que Mário Regino sentiu foi se levantar da cadeira onde estava sentado, ir até Laurinda e apertar seu pescoço até que quebrasse. Mas fingiu que não tinha ouvido o matraquear da da sua mulher estúpida  e bebericou seu copo de cerveja quente, que para ele nesse momento tinha gosto de urina.
V

Depois que Mário Regino conheceu Rodrigo, o seu vizinho, vieram as insônias nas madrugadas. Enquanto ouvia o ronco de Laurinda ao seu lado na cama , ruminava sobre o estilo e padrão de vida do casal do apartamento 802.
As comparações martelavam sua cabeça: Rodrigo era bem sucedido na vida profissional e amorosa; e fazia questão de deixar isso bem claro para que qualquer pessoa soubesse; já ele era apenas um insignificante funcionário administrativo que controlava centavos para  comprar pão de manhã. Apesar de magro, Rodrigo exibia um corpo atlético e com seu charme atraía mulheres bonitas; ele era gordo, calvo e feio. Desde criança Sempre fora meio estranho . Nunca teve sorte com nenhuma mulher durante sua juventude, e só casou-se com Laurinda, porque foi a única que demonstrou que se interessava por dele. Só demonstrou, porque na realidade ela queria que algum trouxa a bancasse, o que conseguiu com ele. O apartamento do jovem casal quitado à vista era mobiliado com ótimo gosto, seus móveis eram novos, e sua tevê LED era a mais cara do mercado. E o seu apartamento, que ainda devia prestações pela Caixa Econômica, os móveis velhos quebrados eram da tempo do seu casamento, e sua tevê só sintonizava a Globo com chuviscos na imagem, o apartamento também fedia a mofo e uma legião de baratinhas francesas circulavam pela pia da cozinha, dentro da velha geladeira e no armário de cozinha onde faltava uma porta pelos pratos e copos. Enquanto Rodrigo e Samanta saíam para restaurantes de massas ou em churrascarias, ele era obrigado a engolir a comida insossa e mal feita que Laurinda fazia enquanto fumava um cigarro em cima do outro. A comida vinha com aroma de alcatrão e gosto de nicotina. Rodrigo e Samanta, que demonstravam publicamente o amor que sentia pelo outro, Mário Regino e Laurinda, o tédio e o desprezo que um sentia pelo outro.
Essas comparações que o incomodavam. Na tempo que o apartamento 802 ficou vazio (e foi por muito tempo; o último morador foi um viúvo que vivia enclausurado, e quando caiu doente um dos filhos o levou ao hospital e não voltou mais), Mário Regino foi seguindo com sua vida medíocre, mas também tranquila. Mas agora, com Rodrigo o elegendo como seu melhor amigo, e tomando-o como uma figura paterna para substituir o pai que ficou estraçalhado com a pancada violenta que levou do Chevette, e de repetir à exaustão sua prosperidade , isso tudo estava lhe tirando o sono.
Mário Regino não queria pensar nisso, mas seu íntimo urrava: Ele sentia ódio daquele garoto. A raiva que minava dentro dele era tanta que chegou a verter umas lágrimas dos olhos porcinos. Até de Deus sentia raiva... enquanto alguns tinham tudo, ele, Mário Regino, não tinha nada.

VI

A vida dos dois vizinhos se modificaria de forma drástica depois do dia que Rodrigo anunciou que ia ser pai. 
Almoçavam em um restaurante de massas na rua da Quitanda, e entre garfadas de lasanha verde e falando amenidades, Rodrigo de repente declarou:
- Vou ser pai. Samanta tá grávida de dois meses!
Mesmo com a boca cheia de lasanha, Mário Regino o parabenizou. Rodrigo parecia exultante e pediu uma garrafa de vinho ao garçom.
- Não vai te causar problemas de beber na hora de serviço?
- Que nada, um copinho só não mata ninguém. E além do mais - Rodrigo encheu as taças e entregou uma a Mário Regino. - uma notícia como essa merece uma bela comemoração!
Ele ergueu sua taça e Mário Regino pegou a sua que estava cheia até a ponta com vinho tinto. Saudaram, e Rodrigo esvaziou sua taça em três goles.
Mário Regino deixou sua taça cheia esquecida ao lado. Ainda preferia a lasanha.

VII

Um mês e meio depois, retornavam do centro da cidade no carro novo que Rodrigo comprou, um Renault quatro portas; estavam parados em um gigantesco engarrafamento na Radial Oeste. Mário Regino notou Rodrigo meio chateado, e falando pouco, que não era seu normal. Perguntou se algo grave havia acontecido, e o rapaz disse:
- Samanta...nos últimos dias ela anda muito estranha comigo, Mário. Eu sei que pode ser a gravidez, mas nunca imaginei que quando  as mulheres ficam grávidas também se tornam chatas!
- Eu não posso expressar nenhuma opinião sobre isso... - É claro que não posso, pensou ele, esmagado no cinto de segurança, olhando os faróis de freios dos carros em frente acendendo e apagando, acendendo e apagando... Nunca tivera filhos, o que não era tão ruim assim. Repetia para si mesmo: Minha mulher é seca, minha mulher é árida, um deserto do Saara! Quando se casou com Laurinda, já na primeira noite ela mostrou na cama que era mais fria que um freezer vazio e com o termostato ligado no volume máximo. Quando a penetrava, ela admirava o teto com seus olhos vazios e bocejava. Perguntava de minuto a minuto se ele já havia gozado. E ele suando, no início não queria acreditar naquilo; mas no decorrer dos anos a frieza também o contagiou, e quando tinha necessidade, a penetrava com olhos fechados para não ter mais que vê-la bocejando na sua cara. É por esse motivo que agradecia por não ter tido filhos.
Rodrigo agarrava o volante e mantinha sua atenção no engarrafamento. Quando falou, foi mais por desabafo do que reclamação:
- Engraçado... No início tudo é bom, tudo são flores. Você sabe, já passou por isso. Mas quando a mulher engravida, é o sinal que a lua de mel acabou, que foi pro espaço. Samanta anda chata, reclama de tudo até do cheiro do meu sabonete e desodorante. Tô achando que ele sente nojo de mim.
- Impressão sua - Mário Regino disse, mas não acreditou nas suas palavras. - É só uma fase, isso vai passar...
Quando os carros em frente puderam andar um pouco mais, Rodrigo aproveitou a brecha para dobrar com o Renault na primeira esquina. Mário Regino perguntou para onde iam, e o rapaz informou:
- Logo ali tem um barzinho de um amigo meu. Podemos comer bolinho de bacalhau que é uma beleza. Vamos beber uma cervejinha até que esse engarrafamento acabe.
- Mas você está dirigindo!
- Ah, Mário, e daí? Uma cerveja não vai me nocautear!
Parou o Renault em frente do bar com algumas mesas vazias na calçada. Sentaram em uma delas e um mulato deixou um isopor com meia dúzia de garrafas de cervejas no gelo. Rodrigo encheu os copos, esvaziou o seu em um só gole  e disse:
-Tem horas que uma cerveja opera milagres para mim. Nos últimos dias tenho tido muita pressão lá no trabalho, um novo chefe que veio transferido e parece que não foi muito com minha cara. Todo dia anda questionando minhas tarefas. Isso também está me afetando. Me aporrinho na empresa e quando chego em casa, onde espero pelo menos ter paz na minha cabeça, vem Samanta enchendo meu saco também.
Ele virou a garrafa, encheu seu copo de novo e continuou:
- Eu não te falei antes, mas Samanta agora vive se queixando que todo dia quando chego em casa estou fedendo a bebida. Poxa, do jeito que ela fala dá a impressão que sou um alcoólatra, do tipo daqueles que mal acordam  já enche um copo de conhaque! Vira e mexe azucrina  meu ouvido para  eu largar a cerveja. Vê se faz sentido, Mário, já sou cobrado o dia inteiro por um chefe que só quer me boicotar e ainda ela pede que tenho que largar meu prazer que é de beber uma gelada? O que ela quer, que eu me transforme em outra pessoa? Ela já me conheceu assim, bebendo...
Aquela confissão do Rodrigo atiçou a curiosidade de Mário Regino. Finalmente encontrou um ponto fraco naquele rapaz tão senhor de si. Deixou que ele monologasse à vontade e pediu outro isopor com mais cervejas. Seu copo continuava intacto, mas sabia que Rodrigo não ia notar esse pequeno detalhe.
Saíram do bar quase meia-noite. Rodrigo ia tropeçando nas próprias pernas em direção do Renault. Mário Regino permanecia sóbrio. No caminho para o Méier, Rodrigo falava em uma voz arrastada:
- Pra mim você é como um pai, Mário. Tive muita sorte de ter te conhecido. Nunca na vida tive um amigo de verdade como você, que me ajuda com seus conselhos...
"Conselhos? Nunca te dei conselhos, pirralho. Você não deixa ninguém abrir a boca. Só você tem o direito da palavra, do discurso... É, discurso, porque quando fala, parece que está em cima de um palco, segurando microfone , enchendo o saco e a paciência dos outros que pra você são apenas meros espectadores"...
Mário Regino cortou sua linha de pensamentos e escutou Rodrigo dizendo:
- ... ela me dá mole todos dias... Outro dia veio com uma roupa decotada que pareciam que seus peitos iam pular fora. Foi pegar um relatório na minha mesa e quando se abaixou na minha frente me impregnou todo com seu perfume... e sabe, pra você posso contar, na hora me bateu um tesão... se não é Samanta, sei não, acho que ia cometer uma loucura ali na minha sala mesmo...
Mário Regino não quis fazer mais nenhum comentário. Apenas sorriu, e dessa vez  era um largo e esfuziante sorriso .
VIII

Rodrigo convidou Mário Regino para a festa de fim de ano da empresa de engenharia, em uma boate no Centro. Mário Regino aceitou e perguntou se Samanta também ia.
- Ela vai dormir na casa da mãe dela. Ontem tivemos mais uma discussão.
Mário Regino aconselhou com uma certa malícia:
- Tem que se botar no lugar dela Rodrigo, Samanta está com três meses e meio de gravidez...
- Já estou de saco cheio dela me perturbando com aquela historinha que não posso beber, que ela vomita toda vez que chego em casa fedendo a cachaça, que agora está engordando e cheia de espinha na cara... Pô,satura ficar todo dia escutando o mesmo lenga-lenga de sempre! Meu Deus, que meu filho ou filha nasça logo de uma vez, pra acabar com esse inferno na minha casa!
Mário Regino usou de diplomacia:
- Então vamos aproveitar essa festa para esfriar sua cabeça. Você precisa relaxar, Rodrigo. Eu sei como anda estressado. Merece um pouco de paz no espírito. Hoje está proibido de se aporrinhar. Amanhã você pensa nisso. Mas pelo menos vai pensar com a mente mais arejada!
Rodrigo concordou e disse:
- A gente só dá valor a um amigo numa hora dessas...

A festa foi na Casa Nice. Várias mesas estavam reservadas à empresa e um DJ animava o ambiente com músicas pop, e alguns funcionários arriscavam alguns passos de dança em uma pista improvisada.
Rodrigo escolheu uma mesa que ficava perto do bar. No meio da música alta, apontou e disse no ouvido de Mário:
- Aquele sujeito ali de bigode e óculos redondos é o babaca que pega no meu pé todo dia na firma. Amigo, se ele ainda continuar no ano que vem, vou acabar pedindo transferência para uma filial bem longe daqui.
- Esquece o cara nessa noite - disse Mário Regino, solícito. Ele notou o sujeito e pensou: "Então é esse...Bom, muito bom."
Um garçom colocou uma garrafa de uísque cheia na mesa, e Rodrigo encheu seu copo. Mário Regino podia dizer: Vamos com calma, rapaz. Mas preferiu o silêncio. "Deixa que o idiota beba à vontade, que se afogue na droga do uísque. Que fique bêbado de não lembrar de nada! Hoje ele vai se divertir. E vou ajuda-lo nessa missão!"
Inventando uma desculpa que ia no banheiro e saiu pelo salão e contornando as mesas cheias.Percebeu que Rodrigo, mesmo com seu cargo, não era muito querido pelos colegas, já que ficou sozinho bebendo um copo atrás do outro de uísque. Talvez fosse o novo chefe... que já aprontava a rasteira para derrubar aquele alcoólatra da empresa. No caso desse chefe Mário ia pensar depois, agora estava procurando por outra pessoa . E não foi difícil achar depois das descrições detalhadas que obteve de Rodrigo; em pé na frente do balcão do bar duas moças bebiam Martíni.
Uma delas era a secretária de Rodrigo, Glorinha. Mário Regino chegou por trás das moças e disse:
- Seu chefe está lá sozinho na mesa precisando de uma companhia bonita como você.
Glorinha, que nunca vira aquele homem gordo e careca na sua vida, estranhou. Mário Regino sorriu e se identificou:
- Me desculpe, sei que deve estar pensando agora: quem é esse maluco que tá falando comigo? Oi, meu nome é Mário Regino, amigo do seu chefe Rodrigo. Fui convidado por ele para essa festa, mas minha mulher me ligou agora, parece que não está se sentindo muito bem e preciso ir embora logo, só que eu não queria deixa-lo sozinho. Sei que ele tá tendo uma crise no trabalho e parece que os colegas estão boicotando o pobre rapaz... - ele fitou o ar intrigado da moça e perguntou, em um modo servil: - Eu não errei de moça... Você é Glória, a secretária dele, não é?
Glorinha, uma morena bronzeada de praia, que mostrava as marcas de biquíni nos ombros descobertos no tomara que cai azul que vestia, sorriu, exibindo lindos dentes. Ela respondeu:
- Desculpe se fui grossa , estava distraída conversando com minha amiga... - A outra moça, que não se identificou e que Mário Regino nem fazia questão de saber quem era, foi para o outro extremo da boate, onde se juntou com um grupo de rapazes.
Mário Regino arriscou:
- Distraída porque estava pensando em alguém especial, não é? Tipo, como um cara que me interessa tanto ainda não me deu uma cantada?
Glorinha parecia ofendida com a indireta, mas Mário Regino não se intimidou com aquele falso moralismo. Continuou falando:
- Então esse mesmo cara agora está sozinho numa mesa afogando suas mágoas em doses homéricas de uísque. Veja só, não quero que se sinta ofendida, e nem me pergunte como eu sei das coisas. Só vou dizer o que sei. Somos vizinhos de porta, e sempre voltamos juntos de carro. E durante a viagem, no meio dos engarrafamentos, ele costuma me contar bastante coisa. E uma das coisas que ele me contou que se não fosse tímido, ia chamar uma certa pessoa para sair com ele. O problema que ele é tímido com as mulheres. Pode não parecer porque ele fala muito, mas uma coisa é contar piadas para os amigos e outra é de se aproximar de uma mulher bonita. - Mário Regino analisava a expressão da morena, e dava mostras que estava dando resultado. - Outro dia ele me confessou: Mário, se não é essa timidez, chegaria na Glorinha para falar de tudo, menos de trabalho... Estou apaixonado por ela.
- Ele é casado - disse Glorinha, interessada na história.
- Glorinha... Posso te chamar assim, posso? Não seria a primeira e nem a última vez que um chefe se apaixona por sua secretária. Quanto ao casamento dele com Samanta, estão passando por uma crise conjugal. Ele me disse que tá cansado dela. Mas não vou falar do casal porque sou amigo tanto dele com dela também. O importante é o que ele me disse. Já dei meu recado. Só desejo que Rodrigo seja feliz, e sei que hoje ele não está feliz.
Glorinha olhou em direção das mesas e viu Rodrigo, sozinho, bebendo o uísque. Ela disse:
- Coitado dele... Tá com uma carinha de infeliz... vou lá conversar com ele.
- Vai sim - incentivou Mário Regino. - Ele vai adorar com certeza!
Enquanto a morena caminhava, despejando toda sensualidade nas suas curvas, Mário Regino saiu da boate.
Tinha mais coisas para fazer do que ficar segurando vela para otário!

IX

No domingo, dois dias depois da festa, parado numa fila na padaria da esquina do prédio onde morava, Mário Regino viu Rodrigo em pé no balcão com um copo de conhaque na mão.
Segurando um pacote com quatro pães e cem gramas de mortadela, aproximou-se do rapaz.
- Já nessa hora da manhã, Rodrigo? Não deu nem nove horas...
Rodrigo esvaziou o copo e disse:
- Você não sabe a maior, Mário... Só tô chegando agora.
- Chegando agora de onde... da festa?... O que aconteceu?
Rodrigo exibiu um rosto cansado, a barba por fazer e os olhos injetados.
- Amigo, preciso te contar o que me aconteceu... Logo depois que você saiu, a minha secretária sentou na mesa comigo. Não sei o que deu na minha cabeça, só sei me deixei levar pela sedução dela. E não demorou muito, só o tempo de duas garrafas de uísque e alguns papos sem noção, e quando fui ver tava num quarto de motel com Glorinha. No sábado dei um dinheiro para o táxi dela e fiquei dormindo o dia inteiro pra curar minha ressaca. Aquele uísque era paraguaio...
- E Samanta?
- Não te falei que ela está na casa da mãe dela, da minha caríssima sogra que nunca gostou do seu único genro. Ela está chegando hoje de tarde. Ontem ela tentou ligar para mim várias vezes para o meu celular, mas eu não atendi.
Rodrigo segurou no braço de Mário Regino e disse, com seus olhos vermelhos de fogo:
- Quando ela chegar, vou inventar uma desculpa esfarrapada. Vou dizer que ontem saímos, eu e você, para comermos peixe na Barra. Ela vai desconfiar, principalmente agora que está com sua auto estima pra baixo, e vai te perguntar. Samanta confia muito em você. É só você assinar em baixo o que eu te disse.
Mário Regino afastou a mão do jovem do seu braço e disse, sério:
- Pode deixar que confirmo.
X

 Três dias depois do encontro na padaria, Mário Regino voltou para sua casa em um ônibus lotado depois de um dia tedioso na repartição. Rodrigo tinha uma reunião marcada na empresa e sairia de lá tarde da noite. Quando abriu a porta do apartamento, Laurinda sentava no sofá e Samanta na poltrona em frente.
 Toda vez que via Samanta involuntariamente tinha ereções; imaginava-se na cama com ela, chupando seu pescoço, descendo com uma língua bailarina nos mamilos intumescidos, ia mordendo de leve sua barriga (agora um pouco crescida) e finalmente chegava...
 - Regino, Samanta quer falar com você.
 Mário Regino saiu do transe erótico onde se encontrava,  abriu um sorriso, sentou-se ao lado de sua seca e árida esposa e ficou de frente para a vizinha. Samanta entrou logo no assunto:
 - Me desculpe por incomodar o senhor após um dia inteiro de trabalho, mas ando muito nervosa nesses últimos dias com o que está acontecendo com Rodrigo.
 Laurinda interveio enquanto tragava seu cigarro pela metade. Bateu as cinzas no cinzeiro transbordando de guimbas amassadas que oscilava no braço do sofá:
 - Nossa amiga tá achando que o Rodrigo anda aprontando coisas que não deve.
- Mas porque pensa assim? - Perguntou Mário Regino, com um tonalidade na voz que parecia mais imparcial possível. Ele subia e descia com seus olhos porcinos pelo corpo atraente, mesmo grávida, da vizinha. E dessa vez não disfarçou sua ereção.
 - Nos últimos dois meses Rodrigo vem bebendo além da conta. Posso contar nos dedos quantas vezes ele chegou sóbrio da rua. Até tem sido agressivo comigo, me dizendo palavras duras...
 - Ele pode estar tendo problemas no trabalho - sugeriu Mário Regino, condolente.
 - Eu sei que está tendo problemas com um novo chefe que entrou agora, mas antes ele não trazia os problemas para nossa casa. Agora não, chega bêbado, diz que depois que engravidei mudei com ele, que não sou mais carinhosa...
 - Bem...- Mário Regino ergueu as mãos para o alto e disse: - Realmente, o Rodrigo tem reclamado, e diversas vezes me repete que você mudou, que está sentindo nojo dele, que não quer mais dormir ao lado dele e nem fazer se...- Laurinda fechou a cara e amassou o cigarro no cinzeiro abarrotado. 
 - Isso é da gravidez. O meu médico falou que algumas mulheres sentem isso, enjoo, nojo do marido... e minha gravidez é de risco. Não sei se ele falou isso, mas não posso me estressar por causa da criança. Tomo remédios para não correr o risco de abortar.
 Mário Regino surpreendeu-se com o que ouviu. Antes de abrir a boca para falar, Laurinda interveio:
 - Querida, posso te dar um conselho? Para que não sofra mais, vá pra casa da sua mãe, e quando tiver certeza que seu nojo passou, volte. Vai ser bom até para o seu marido. Ele vai sentir sua falta, e quem sabe, mude seus hábitos...
 "Não... - pensou Mário Regino - Nada de ir pra casa de mamãe. Você tem que ficar aqui mesmo, aturando o cretino do seu marido..."
 - Não sei se vai ser a solução do problema - disse Mário Regino, preocupado. - Rodrigo em casa sozinho talvez possa faze-lo largar, ou pelo menos diminuir com a bebida... Ou talvez faça ele beber mais ainda, de saudades. Fora que a secret...
 De propósito, Mário Regino calou-se. Samanta, intrigada, perguntou:
 -  Que secretária?
 - Nada, esquece - disfarçou, fingindo que procurava algo dentro do bolso da camisa.
 Samanta não queria esquecer. Agitava-se na poltrona. Seu rosto, antes pálido, agora ficou rubro:
 - Termina o que ia dizer, seu Mário.
 - Não é nada demais, é sobre um trabalho dele. Não tem nada a ver aqui fora.
 Samanta olhou desconfiada para ele e pareceu se lembrar de algo. Perguntou, sua voz entoando desconfiada:
 - Rodrigo comentou comigo que o senhor e ele foram comer peixe no sábado...
 Laurinda cortou, dizendo:
 - Sábado agora, esse que passou? Só se foi com outro Regino, porque esse aqui ficou em casa o dia inteiro vendo tevê...
 "Obrigado, Laurinda, facilitou meu trabalho. Sempre intrometida."
 Samanta ficou olhando para ele em silêncio, mas seus olhos diziam: "O que me diz, seu Mário?"
 Fingiu que estava nervoso:
 - Eu não queria isso... mas Rodrigo pediu, implorou para que eu... eu confirmasse a versão... na hora achei ruim, disse a ele que não ia dar certo... falei pra ele que não sei mentir, mas Rodrigo estava de um jeito, sei lá, acho que era a bebida... nunca o vi bebendo de manhã...
 Samanta tampou o rosto nas mãos e soluçou. Laurinda foi até ela para consola-la. Samanta murmurou:
 - Meu casamento está se arruinando, dona Laurinda... Rodrigo tem uma amante! Sinto isso, eu sei, ele tem uma amante...
 - Olha só, Samanta - Mário Regino tentou contornar a situação, - não acredito que Rodrigo esteja te traindo com outra mulher. Ele te ama, todo dia ele faz questão de repetir do imenso amor que sente por você.
 Laurinda, com um cigarro no canto da boca, ainda abraçava Samanta. Ela disse, de forma irônica:
 - Vocês homens, sempre acobertando as merdas que fazem. Todos homens são farinha do mesmo saco, não prestam. Todos são iguais!
 Mário Regino mostrou-se ofendido com as acusações de Laurinda, levantou-se do sofá e foi ao banheiro. Enquanto se despia para tomar banho, ouviu as duas mulheres na sala conversando. Entrou no chuveiro e pensou: "Laurinda, pela primeira vez tive o imenso prazer de ter sua companhia. Se não fosse sua cretinice, talvez não conseguisse expressar melhor as ideias na cabeça da gostosa... A emenda saiu melhor que o soneto."
 Enquanto passava o sabonete pelo corpo, começou a se masturbar imaginando uma cena erótica em que ele penetrava Samanta deitada de costas e as pernas abertas em V, de maneira violenta e selvagem.

 XI

 Nos dias que seguiram à visita de Samanta no seu apartamento, Mário Regino não se encontrou com Rodrigo. Soube através de Laurinda, que só saía do apartamento para comprar seus maços de cigarros, que houve uma feia discussão no apartamento em frente, com direito a berros de Samanta, e Rodrigo dizendo que era mentira, que nunca teve amante nenhuma. Pelo jeito, as coisas foram se acalmando. Samanta dissera a Laurinda que Rodrigo tinha lhe confessado o que fizera naquele sábado: Curou a ressaca dormindo o dia inteiro. Teve medo de que ela soubesse que tinha bebido muito na festa para não prejudica-la na gravidez, e jurou que ia largar qualquer bebida alcoólica. E pelo jeito, Rodrigo começou a evitar de se encontrar com Mário Regino.
 E isso começou a preocupa-lo. Se antes, com a convivência diária ele menosprezava o jovem, agora longe dele o desprezo aumentou, elevando-se em uma antipatia crônica. Na sua mente deturpada, imaginou Rodrigo pagando almoço e dando carona para um novo e imaginário amigo.
 Uma mistura de inveja e ódio embaralharam sua mente. Enquanto ia para o trabalho em um ônibus lotado e se derretendo de calor, decidiu o que ia fazer. E seria ainda nesse dia.

XII

 Ela foi pontual. Chegou no restaurante da Travessa do Ouvidor no horário que foi combinado. Ela puxou a cadeira e sentou. Na sua frente, Mário Regino já almoçava, um grande prato de macarrão com carne assada.
 - Como falei quando me ligou, estou aqui - disse Glorinha enquanto lia o cardápio.- Estou bastante curiosa com que tem pra me contar.
 - Vou te contar, minha querida, mas primeiro peça o seu prato.
 Glorinha fez um muxoxo, e pediu um prato de saladas. Ela observou aquele homem imenso mastigando com a boca meia aberta, passando o guardanapo no queixo e jogando-o em cima da mesa, sempre com o ruído nojento dos dentes trucidando um pedaço da carne assada. Ela assistiu todo ritual, e ficou enjoada. Aquele homem era repulsivo.
 Quando esvaziou seu prato, empurrou-o para a frente e pegou um palito de dente, que ficou dançando no canto da boca. Ele apertou seus olhos porcinos e disse:
 - Me conte todos detalhes, querida. Aquela sexta-feira e sábado foi como sempre imaginou? O teu chefe deu conta do recado direitinho?
 Indignada, ela disse:
 - Não acredito que foi para isso que me chamou. Pelo telefone disse que tinha um assunto do meu interesse...
 - E tenho, minha querida. Como se chama mesmo o diretor que é o novo chefe do Rodrigo?
 Glorinha, irritada:
 - O que tem o Dr. Pacheco com o meu caso?
 - Não diretamente, porque ele não sabe do seu affaire com Rodrigo. Mas parece que está desconfiado.
 Glorinha, surpresa, disse:
 - Desconfiado como? Depois daquela semana, ele mal falou comigo.
 - Ele me contou - Mário Regino mentiu descaradamente. - Ontem ele me disse que está agindo assim por causa da esposa dele.
 Glorinha não entendeu.
 - Simples, minha querida - disse Mário Regino. - No domingo, depois da festa, ele abriu o jogo com a esposa. Falou tudinho. Que está apaixonado, que só não sai de casa por causa dela que está grávida... Rodrigo me disse que até que as coisas acalmem, ia ficar quieto. Mas Samanta o ameaçou que ia ligar para o chefe dele, ia contar que você - apontou para a morena em frente, - virou a cabeça dele e que ia fazer de tudo pra te ver na rua. Bem, foi por isso que te chamei aqui.
 As pessoas que conheciam Glorinha intimamente sabiam que ela tinha um temperamento explosivo. E foi o que Mário Regino descobriu.
 Ela bateu com uma das mãos na mesa e rosnou, com um pedaço de folha do alface no canto da boca:
 - Estúpido, imbecil! Não podia ter falado com a mulher dele!
 - Por isso achei que tinha que te avisar.
 - Naquele dia da festa, ele mal se aguentava em pé. Até fomos para um motel, mas ele mal se aguentava em pé. Tanto que no sábado deixei ele lá dormindo.
 - Mas ele te ama - instigou Mário Regino.
 - Eu, hein. Vou te falar, moço, ele não é de se jogar fora não. Mas não vou arriscar de ficar desempregada por causa de uma aventura. Não, isso que não. Vou é tomar minhas precauções.
 - Te dou um conselho, minha querida, podia ligar para que Samanta mude de ideia a seu respeito. Explique tudo que houve, quem sabe ela entende o seu lado pelo menos...
 - O nome dela é Samanta, não? Tem o telefone dela?
 - O celular e o fixo. Só te peço uma coisa, meu bem, não mencione nossa conversa com ela, nem fale de mim.
 Glorinha ficou de pé e disse, com ódio na voz:
 - Pode deixar, vou te deixar de fora. Agora, por favor, não me chame mais de querida e nem de meu bem. E espero nunca mais vê-lo também, senhor.
 Ela deu as costas e saiu. Realmente, depois desse almoço Mário Regino nunca mais a viu. E nem queria mesmo. Já conseguira o que queria. Agora só faltava completar a próxima parte do seu plano: Falar com o tal do doutor Pacheco.
Nunca na vida sentiu-se tão satisfeito como agora.
XIII

 Mário Regino já se preparava para dormir, enquanto Laurinda, esparramada no sofá com os pés para cima e com um cigarro entre os lábios, assistia o Jornal da Noite. Escovava os dentes quando ouviu alguém batendo na porta da sala. Não só batiam como também ao mesmo tempo apertavam a campainha. Saiu do banheiro com um pouco de pasta de dente no queixo, e gritou:
 - Laurinda, o que tá havendo?
 Lentamente, Laurinda se levantava do sofá, não sem antes dar o último trago no cigarro e depois amassa-lo no cinzeiro cheio, e disse:
 - Sei lá, vai lá ver!
 Mário Regino espiou pelo olho mágico e abriu a porta. Samanta caiu sobre ele. Ela tinha os lábios arroxeados e olheiras profundas. Mário Regino a conduziu para o sofá e notou um rastro de sangue pelo assoalho. Na parte inferior da camisola que Samanta usava, estava encharcado de sangue que escorria pelas suas pernas.
 - Liga para o Samu! A menina tá tendo hemorragia!
 Deitou-a no sofá e ficou ao lado dela, sentado na poltrona, segurando sua mão. Samanta, em estado de choque e com os olhos arregalados, balbuciava:
 - Ele não podia ter feito aquilo comigo... nunca imaginei que fosse tão canalha... passar meu telefone pra aquela piranha...
 - E cadê Rodrigo? - Mário Regino perguntou. Laurinda, em pé ao lado, acendia mais um cigarro, sem notar que pisava em cima de uma pequena poça de sangue.
 Samanta não respondeu. Murmurou palavras desconexas.
 Mário Regino pegou o telefone que Laurinda passou e ligou para Rodrigo. Depois de duas tentativas, ouviu:
 - Meu grande amigo Mário Regino! Onde você está?
 Mário Regino ouviu barulho de pessoas cantando e de música em alto volume.
- Eu estou em casa. E você?
- Bebendo uma saideira com um colega.
- Se eu fosse você, largava essa saideira e esse seu colega e vinha direto pra casa. Estou com Samanta aqui deitada no meu sofá com uma tremenda hemorragia ...
 Ele percebeu que nas pernas de Samanta, além do sangue, pedaços pequenos de algo preto descia junto.
 Quando Rodrigo chegou, Samanta já tinha sido levada ao hospital e Laurinda foi junto para acompanha-la. Mário Regino, ajoelhado e de pijamas, passava um pano úmido no sofá, e quando torcia no balde, a água era de um vermelho vivo. O susto que levou com a notícia dissipou um pouco o efeito etílico no rapaz. Nervoso, queria saber de Samanta, e Mário Regino informou o nome do hospital. Rodrigo desabou no sofá ainda sujo de sangue e perguntou:
- Você sabe o que aconteceu, Mário? Ela levou um tombo, levou um susto... Ou foi porque prometi pra ela que ia largar a bebida, mas que ainda não cumpri com a promessa?
 Ainda enxaguando o pano e passando no chão, Mário Regino disse:
 - Nada disso. Pelo pouco que entendi do que ela falava - porque não falava coisa com coisa - alguém do seu escritório ligou pra ela.
 - Quem foi que ligou?
 - Ela não falou o nome, mas acho que foi sua secretária.
 - Cadela! Ela não podia ter feito isso!
 - Mas pelo jeito, fez - disse Mário Regino jogando o pano sujo de sangue no balde. - E a consequência dessa ligação foi a hemorragia. 
 Rodrigo não queria saber de mais nada. Saiu e foi direto para o hospital.

XIV

 Samanta perdeu a criança. Mário Regino, que foi visita-la no dia seguinte, encontrou Rodrigo abatido, um olhar perdido, sentado em um banco do corredor do hospital. Os familiares de Samanta estavam lá, e mantinham distância dele.
 Quando Mário Regino sentou-se ao seu lado, Rodrigo olhou-o com olhos vermelhos e disse:
 - Ela não quer me ver... Acusou que sou responsável pelo aborto... O irmão dela quis briga comigo, e minha sogra, toda vez que passa na minha frente, me chama de canalha.
 - Tem que ter calma nessa hora, Rodrigo, com o tempo essas feridas vão cicatrizar. O que não pode agora é ficar abatido. Precisa ser forte para poder encarar tudo isso... e ainda tem o outro problema para resolver, que é no seu trabalho...
 - Só de imaginar o que aquela víbora falou pra Samanta...
 - E ainda tem seu chefe, tem que tomar muito cuidado com ele.
 - Porquê? - Rodrigo não entendeu.
 - Laurinda me contou ontem, quando veio do hospital, que Samanta disse a ela que sua secretária ia contar tudo ao seu chefe do caso. Como ele não gosta de você...
 Rodrigo deu de ombros. Mário Regino pensou:
 "Secretária que nada... Ontem o doutor Pacheco recebeu uma ligação de uma pessoa com voz em falsete, e até agora tá querendo descobrir quem é essa pessoa..."
 "Mário Regino fez uma ligação, e cuidou que não identificassem o número do seu celular, quando ouviu a voz no outro lado, disse, disfarçando a voz:
 -Dr. Pacheco, por favor.
 -Quem gostaria de falar com ele? - Perguntou a atendente.
 - Diz que é uma amiga dele e do Rodrigo.
 Ouviu cliques no outro lado, e depois uma voz grossa e antipática:
 - Pois não. Pacheco falando.
 - Desculpe se estou incomodando o senhor, queria falar com Rodrigo e me disseram que ele não se encontrava, mas como ele nos orientou que se não estivesse era para falar com o senhor, queria deixar um recado: O senhor podia avisar a ele que o projeto que vocês encaminharam para a firma Gomes & Gomes foi recebido e aceito.
 - Projeto? - Pelo tom da voz, o cara parecia que estava tendo um ataque apoplético.
 Era um projeto sigiloso na empresa que só Rodrigo e os superiores sabiam. E Mário Regino também, quando em uma das bebedeiras que o rapaz tomara junto com ele, deixou escapar esse grande segredo. Para a cabeça embriagada dele, dizer isso ao seu vizinho era o mesmo que explicar os funcionamentos de uma grande empresa, que o outro não ia entender bulhufas do processo.
 Só que Mário Regino pescava as coisas no ar. Um pingo na letra i para ele podia ser uma frase inteira. E como quem não queria nada, instigou que Rodrigo  detalhasse o projeto. E soube que a empresa dele era concorrente direta da tal empresa Gomes & Gomes na corrida pelos clientes. Essa conversa já tinha acontecido algum tempo atrás, só que Mário Regino guardou isso como um trunfo como um jogo de cartas.
Disfarçando sua voz em falsete, passou todos detalhes que supostamente Rodrigo e Pacheco fizeram para que a outra empresa vencesse na licitação do projeto.. E completando, disse:
 - O cheque dos senhores estão prontos com o doutor Gomes. É só marcar uma hora para pegar aqui na administração.
 Em suma: Para o doutor Pacheco, ele era cúmplice da traição daquele alcoólatra, que só continuava na empresa graças a alguns diretores.
 Mário Regino teve que afastar o fone do ouvido quando Pacheco gritou:
 - Desgraçado! Anota o que vou falar agora, seja lá quem for a senhora! Eu não faço parte dessa traição! Vou investigar essa história toda e prometo que vou botar vocês atrás das grades. Eu...
Já bastava. Mário Regino desligou o telefone.
XV

  O resultado do telefonema que Mário Regino fez para o doutor Pacheco, e o que veio depois, só foi saber quando viu por acaso um colega de Rodrigo da empresa, um tal de Hermes, na esquina da rua do Carmo com a Sete de Setembro; e como Mário Regino não via Rodrigo a dias, nem no centro da cidade e nem no prédio, perguntou por ele. Quando Hermes narrou em detalhes o que houve no trabalho, as palavras que ouviu soaram como néctar:   
 - Você nem imagina o que aconteceu lá, Mário!Foi uma baita confusão! Só ontem que Rodrigo deu as caras, e ainda por cima, veio com uma desculpa esfarrapada por sua ausência no escritório nesses dias todos. Falou pra gente que estava passando por uma crise no casamento, e vê só o descaramento dele, ainda inventou que sua esposa perdeu a criança por causa da Glorinha, você sabe quem é, foi a secretária dele. Ele tava possesso, soltando fumaça pelo nariz, e ficou procurando Glorinha pelas salas! Nisso quem aparece? O doutor Pacheco, que quando o viu zanzando nas salas, o chamou de ladrão e traidor na frente de todo mundo! Aí que ficamos sabendo que o Rodrigo havia passado uns projetos confidenciais pro concorrente. Num estado completo de paranoia, ele gritou que tudo era mentira, que o dr. Pacheco queria destruir a vida dele e da sua mulher! Coisa mesmo de maluco! Olha como são as pessoas, Mário...Rodrigo sempre ficava na dele, sempre simpático, que cativava a galera pelo papo. Isso quando tava sóbrio, o resto era tudo fachada. Dr. Pacheco mandou que ele fosse embora, mas Rodrigo gritou que não ia sair, não sem antes falar com Glorinha. A coitadinha se escondeu na sala do doutor Pacheco. Ela disse pro doutor que estava sendo assediada sexualmente por Rodrigo. Os figurões da empresa queriam aliviar a barra, tipo não chamar a polícia pra não manchar o nome da empresa... Mas a coisa fedeu mesmo quando Rodrigo descobriu onde Glorinha estava, e aí os seguranças entraram, mas Rodrigo conseguiu escapar deles pulando de mesa em mesa, até que se jogou em cima do doutor Pacheco e meteu a porrada no cara. Foi um separa aqui e ali, os seguranças o pegaram, um deles deu uma gravata pelo pescoço e foram arrastando ele, se debatendo todo, para fora do prédio. Acha que depois disso ele desistiu? Que nada, ainda ficou de plantão na portaria, dizendo que enquanto não falasse com Glorinha não arredaria pé de lá. E nisso veio a polícia. Mais uma vez ele resistiu, foi algemado e o levaram para a DP. Ontem no bar do Augusto; encontrei ele entornando todas e jurou que é inocente. Fingi que acreditava nele, mas te digo, cheguei a ficar com pena do cara. Esse já era no mercado, tá acabado. Me tomou como seu ouvinte, e ficou desfiando um rosário de lamentações, falou que sua mulher não queria mais nada com ele, que foi demitido por justa causa, fora que vai ser processado por evasão de confidencialidade. Me disse que era coisa do Pacheco, que o doutor armou tudo para prejudica-lo. Sei que Rodrigo vai sumir da área por um bom tempo. Emprego bom para ele vai ser quase impossível, qual grande empresa vai contratar um ladrão? A fama espalha rápido, principalmente quando a fama é má! Do jeito que ele falava, pensei até que ia acabar fazendo uma bobagem do tipo, "vou matar uma pessoa ou vou estourar meus miolos". Que coisa, hein, esse cara tinha tudo pra ter sucesso , mas por causa da ganância, botou tudo pra perder!
 "Ganância não é a palavra certa - pensou Mário Regino, extasiado com que ouvira. - Arrogância que é a palavra certa. Moleque arrogante."

XVI

 No dia da mudança dos móveis do apartamento 802, Samanta pediu que seus irmãos orientassem os funcionários do caminhão baú. Ela continuava na casa de seus pais se recuperando do aborto espontâneo. Rodrigo, por várias vezes tentou falar com ela, sem sucesso, todas vezes foi impedido pelos familiares dela, principalmente pelos irmãos, que ameaçavam sua integridade física.
 Mário Regino abriu a porta do seu apartamento e viu o da frente vazio, pelas paredes nuas só haviam quadrados escurecidos onde antes quadros enfeitavam a sala; no lugar da estante e da TV de plasma, só cabos soltos. O chão de assoalho antes lustroso, agora arranhados; as gargalhadas e as histórias contadas pelo jovem ambicioso e bem-sucedido profissionalmente, agora era silêncio e melancolia.
 Mário Regino balançou a cabeça. Parecia consternado com tudo aquilo.
 Só aparência; seus olhos porcinos brilhavam satisfeitos.
XVII

Depois de alguns meses, Mário Regino seguia pela Avenida Rio Branco a caminho da Presidente Vargas. No relógio digital anunciava que eram sete horas da noite, e o vai-vem de pessoas correndo apressadas aos pontos de  ônibus e Central do Brasil para enfrentar trens ou metrô lotados, também era sua rotina. Era uma sexta-feira, e foi mais uma semana de trabalho, mais uma semana que prestou serviços burocráticos em prol do Estado, mais uma semana que ignorou pensionistas aguardando pelas soluções dos seus processos. Mais uma semana se passou e agora vinha o nefasto sábado e o domingo ao lado de sua esposa seca e árida, a consumidora voraz dos cigarros da Souza Cruz.
"Até o derradeiro dia que ela sofresse o bendito infarto fulminante ou fosse corroída por um belo câncer nos dois pulmões..."
Mais um fim de semana de tédio, sem nenhuma novidade, nenhum amigo em comum. Bem vindo à minha vidinha patética, pensou Mário Regino Reis dos Santos.
Mário Regino atravessou a avenida Rio Branco em passos curtos e desanimados, e entrou na Miguel Couto. Nessa rua estreita de construções do século passado, ele caminhou pela rua de paralelepípedos, passando pelas pastelarias, alguns botecos com as mesas na calçada atrapalhando os pedestres, lojas de roupa usada, lojas de empréstimos e uma joalheria. Atravessou diante o bar do Augusto, onde tempos atrás saboreou um delicioso sanduíche de pernil às custas de Rodrigo. Já fazia tanto tempo que ninguém mais falava dele. Depois que ele saiu da empresa, foi como se ele tivesse uma doença contagiosa; cada vez que aparecia nos lugares que sempre frequentou, e onde matou a fome e sede de vários colegas, o pessoal fingia que ele não existia, e às vezes ele era convidado de se retirar do lugar pelos donos dos estabelecimentos. 
Uma pequena lembrança ruminou seus pensamentos; na  última vez que soube da Samanta, foi que  casou-se com outro sujeito, e que agora estava grávida dele.
Quando foi atravessar a rua Buenos Aires, viu que na sua direção vinha um rapaz magro, com a camisa amarrotada, calças jeans rasgadas na altura da bainha, sujo e barbado. O rapaz arregalou os olhos e sorriu, exibindo agora poucos dentes e cariados.
Ele exalava um fedor que podia ser de conhaque ou cachaça, que Mário Regino não soube identificar.
- Meu amigo Mário Regino! Quanto tempo que a gente não se vê!! Como tem passado? E Laurinda, tudo bem com ela?
Mário Regino não respondeu, e Rodrigo continuou:
- Que bom que te encontrei! Agorinha mesmo olhei pro bar do Augusto e lembrei dos tempos que almoçávamos juntos,das piadas que rolavam... Puxa, me deu saudades, hoje em dia é tão difícil a gente encontrar quem é o nosso amigo de verdade... 
Mário Regino continuou parado como se fosse uma estátua.
- Sabe, Mário, nos últimos dias tenho passado por bastante aperto... Bem, como somos amigos,pra você  posso dizer - Rodrigo torcia os dedos com imensas unhas imundas, e olhava de um lado para o outro desconfiado. No canto da boca escorria uma pequena baba. - Tá vendo, conseguiram acabar comigo. Foi muita inveja em cima de mim. O Pacheco e Glorinha arquitetaram tudo pra me derrubar, os dois juntos... mas sou forte, não dou meu braço pra torcer, nessa luta ainda vou ganhar... já tô até com um trabalho em vista, mandei meu curriculum e agora só estou no aguardo pra ser chamado e começar o batente! O único problema agora é hoje, sabe... tem noites que durmo na rua no meio dos mendigos, debaixo das marquises...às vezes minha única refeição é quando  ganho uma quentinha do pessoal da igreja que distribui na Presidente Vargas... não me envergonho disso, sei que é só uma fase, acredito... sabe, na hora que te vi agora posso dizer pra mim que Deus existe. Que Ele nos colocou aqui, frente a frente, para que a gente se reencontrasse.
Mário Regino ainda continuava parado e num silêncio sepulcral.
Pessoas que andavam apressadas pela Miguel Couto, evitavam o contato físico com aquele vagabundo maltrapilho. Rodrigo continuava olhando de um lado para o outro, os olhos expressando medo e ansiedade; enfim, evitou olhar seu antigo vizinho de frente e concentrou seu olhar no sapato de Mário Regino:
- Hoje posso dizer pra mim: depois de tantos infortúnios, te vendo aqui na minha frente, tão bem de saúde, é uma benção... e pelos velhos tempos, amigão, você pode me emprestar um dinheiro... Vê só, juro que te pago, foi como te disse, logo começo a trabalhar... não é muito, só cem reais pra dormir num lugar decente, com uma cama... Hein? Não? Oitenta? Sessenta? Vinte? Dez reais pra comer um salgado...
Finalmente Mário Regino saiu do silêncio e disse, friamente:
- Sai pra lá, tá me achando com cara que sustento vagabundo? Vai procurar um trouxa pra cair na sua conversa e pagar sua cachaça! Comigo não, violão!
E quando passou por um Rodrigo decrépito e transtornado, completou:
- E sempre um tagarela.
 Passou pelo rapaz e nunca mais viu Rodrigo.

EPÍLOGO

Assistia o jornal Fala Brasil sentado na sua velha poltrona rasgada, ainda de pijamas. Era um sábado nublado e abafado. O ventilador de teto girava lentamente as pás, e mesmo assim sentiu o suor correndo pelas costas e no rosto.
Podia ouvir o ronco de Laurinda vindo do quarto. Se ela acordada e em silêncio já era insuportável, ela roncando, sua vontade era asfixia-la com um travesseiro.
Pegou o controle remoto e foi trocando os canais.Tédio, profundo e longo tédio. Principalmente agora, com a notícia que recebeu sobre sua aposentadoria.
Não conseguia imaginar como seria sua vida em diante, depois da aposentadoria, vivendo os sete dias da semana com Laurinda mordendo seus calcanhares. Era o mesmo que ser punido por um crime que nunca cometeu.
Escutou barulho de móveis sendo arrastados no corredor de fora. Levantou-se e abriu a porta. Viu homens com uniformes de transportadora carregando uma geladeira, e outros carregavam caixas.
Um jovem casal surgiu logo atrás. A moça estava grávida, e ele a abraçava pela cintura.
- Bom dia, sou seu novo vizinho, meu nome é Fábio e essa linda grávida é minha esposa, Juliana.
Mário Regino sorriu. Avaliou o casal na sua frente e apertou as mãos deles. Ele disse:
- Meu nome é Mário Regino. Que bom que esse apartamento está recebendo um belo casal. Espero que sejam felizes aqui.
Fábio simpatizou-se de imediato com aquele homem alto e gordo na sua frente. Ele disse:
- Também esperamos, principalmente agora - apontou para a barriga da esposa.
Mário Regino alargou mais ainda o sorriso, mostrando seus dentes pequenos e amarelados, e disse:
- Com absoluta certeza serão felizes aqui. Sejam bem vindos, e qualquer coisa que precisarem, já sabem,  é só bater. Vizinhos são pra isso mesmo.

FIM





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