Translate

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O PRÊMIO CAPÍTULO 34

No capítulo anterior: Era Adroaldo, na sala.
Agilmente, ela correu para a pia e pegou outra faca, essa um pouco maior que a outra. Escondeu dentro do álbum.
Suspirou e disse para si mesma:
- Vamos acabar com tudo isso...
Ela saiu da cozinha e foi para a sala. Adroaldo, de pijamas, quando a viu, gritou:
- O que aconteceu com você? Que sangueira é essa?
Mônica sorriu. Seu rosto era uma máscara vermelha, e só se viam os olhos e os dentes encardidos.
- Isso, Adroaldo? O início do meu prêmio!


Capítulo 34

Adroaldo se aproximou dela. Preocupado, perguntou:
- Você bateu em algum lugar? Se cortou?
- Eu? - Mônica riu. Um leve tique nervoso tremia no canto dos lábios. - Não... Estou ótima... Agora, não posso falar o mesmo do jornaleiro...
Era um pesadelo! Adroaldo desconfiava que alguma coisa estava acontecendo com ela, mas não imaginava que fosse naquele ponto. Não reconhecia mais a mulher que era sua esposa há dez anos. Aquela figura na frente era como nos filmes de terror!
Mas ele não estava em nenhum filme. Aqui era vida real.
- Que tem Jorge?
Ela ainda agarrava o álbum contra o peito. E ali dentro escondia uma faca.
- O safado veio roubar meu prêmio. Pensou que eu não ia desconfiar...
- Do que está falando? - Adroaldo, prudente, mantinha uma certa distância dela. Ainda estava perto do corredor que levava aos quartos, enquanto Mônica parecia uma estátua pintada de vermelho na porta da cozinha.
Mônica não respondeu. Dentro da sua cabeça, ouviu a voz:
(Ele também quer pegar seu prêmio. Se ficar aí parada, ele vai agir e roubar o álbum das suas mãos. O tempo tá correndo. Hoje é tudo ou nada!)
O que Adroaldo viu, deixou-o mais assustado ainda. Os olhos dela pareciam vidrados e ela movia os lábios como se estivesse falando algo.
Mas o que veio em seguida fez com que ele tomasse uma decisão.
Mônica mexia os lábios e de repente disse:
- Ele não vai pegar nada!
(Vai achando isso...)
Adroaldo viu que ela falava, mas não ouviu nenhum som.
Notou também o livro dobrado contra o peito dela. Reconheceu:
- Isso aí não é o álbum das crianças? Aquele que sumiu?
Mônica deu dois passos em frente. Tinha um sorriso vago:
- Que crianças? Esses meninos que estão estragando minha vida?
Adroaldo deu um passo para o lado, e do ângulo que ficou, vislumbrou uma parte da cozinha. Seu coração disparou, parecia que ia chegar na boca.
Viu Jorge, o jornaleiro, caído em volta de uma poça de sangue. Adroaldo quis voltar para o corredor, mas Mônica estava no seu lado.
Ela fedia a suor e a sangue pisado. Os cabelos dela estavam emplastrados, duros, disformes. Ela disse, e seu hálito embrulhou seu estômago.
- Não imagina como lutei para conquistar esse prêmio. Mesmo com vocês me atrapalhando, eu consegui!
Adroaldo tinha que agir friamente. Sua mulher surtara. Matou um homem a sangue frio, e sua postura era perigosa. Tinha que medir suas atitudes.
- Mônica, você precisa de ajuda... vem, vamos sentar no sofá..
(Cuidado! Ele vai te enganar! Como sua mãe sempre te enganou...)
- Larguei de ser idiota, mãe! - Sua boca estava torta e mostrou dentes amarelos manchados de sangue. - Adroaldo - consertou ela.
- Sou seu marido, só quero ajudar!
- Você tá fazendo a mesma coisa que minha mãe! - Logo, ela abaixou os olhos e murmurou algo que ele não ouviu.
Sua preocupação era com os meninos no quarto, que ainda dormiam. Notou que havia algo escondido naquele álbum dobrado. Provavelmente, a mesma coisa que matou o jornaleiro.
Estava de pijamas e seu celular no quarto. Tinha que passar por ela para voltar ao corredor. Mas ela impedia sua passagem. Estava com medo de cometer um erro e depois sobrar para os garotos.
- Foi você, Adroaldo... - ela sussurrou e dessa vez ele ouviu algo como foi ele sim. - Atrapalhou meu trabalho... fiz com tanto cuidado..
- Eu não fiz nada! - Se esforçou para não mostrar o pânico que sentia naquele momento.
Ela gritou. Acelerou as palavras e enquanto falava, cuspia em cima dele:
- FEZ SIM! FOI LÁ NA CASA DA VELHA PORTUGUESA E A RESSUSCITOU! EU TINHA MATADO AQUELA PORCA E VOCÊ FOI LÁ SALVA-LA!
- Tá falando da dona Guiomar?
- DESGRAÇADO! NUNCA QUIS ME VER FELIZ! É IGUALZINHO À MINHA MÃE! VOCÊ E ELA SÓ QUEREM ME ATRAPALHAR. QUANDO PENSO QUE MINHA VIDA VAI MELHORAR, VOCÊS FAZEM DE TUDO PRA QUE EU FAÇA ERRADO.
- Sua mãe não morreu? - Tinha que ganhar tempo. Talvez alguém na rua ouvisse a gritaria. Nunca pensou que ia precisar da ajuda daqueles fofoqueiros.
- VOCÊ VIU GUIOMAR AMARRADA E A AJUDOU. NÃO SEI COMO FEZ, MAS A RESGATOU DO INFERNO!
- Mônica, você não está falando nada com nada...
Ele deu um pequeno passo, mas Mônica plantou-se na sua frente. Pegou de dentro do álbum a faca escondida. Agarrou pelo cabo e rosnou:
- VOCÊS ESTÃO MANCOMUNADOS PRA ME DERROTAR! MINHA MÃE SEMPRE DISSE QUE EU NUNCA DEVIA TER NASCIDO. REPETIA QUE EU PERDIA MEU TEMPO SONHANDO. E VOCÊ FALA IGUAL A ELA! MANDA QUE EU SAIA DO MUNDO DA LUA E CAIA NA REALIDADE! AGORA ESTOU VIVENDO MINHA REALIDADE, ADROALDO! AGORA SOU MERECEDORA DO PRÊMIO QUE VAI ME AJUDAR A ME LIVRAR DE VOCÊS TODOS... QUERO ESQUECER QUE PERDI MEU TEMPO COM ESSA FAMÍLIA... QUERO SER EU MESMA!
- Mônica... Por favor... Larga essa faca - disse Adroaldo. Olhou para a janela fechada e não viu ninguém andando na rua.
Tinha que ligar para a polícia... Mônica precisava de um tratamento...
Ela moveu os lábios de novo e depois disse:
- Então você que é o responsável pelas enxaquecas... Vem me envenenando todos esses anos... Canalha!
Adroaldo não desgrudava os olhos da faca. Um passo errado...
No corredor, ouviu Felipe:
- Pai... Manhê... que barulheira é essa?
- Corre, Felipe! - Adroaldo gritou. - Se tranque no quarto! Rápido!
Ele tentou agarrar o pulso de Mônica, mas ela foi ágil. Desferiu um golpe, e a lâmina rasgou o braço dele. Sangue jorrou da ferida aberta.
Felipe chegou no fim do corredor. Ainda estava com sono. Quando viu sua mãe ensanguentada e seu pai com o braço vermelho de sangue, gritou.
Urrando como uma fera, Mônica puxou Felipe contra si, envolvendo seu braço pela garganta do menino.
Adroaldo estava de joelhos, segurando o braço ferido que ardia como ferro em brasas.
- Deixa ele ir, Mônica...
Apertando mais ainda a chave de braço no menino, Mônica ergueu a faca.
- Ir pra onde? Tempo esgotado! 

Continua...

Não percam o último capítulo da série.

Rogerio de C. Ribeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário