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quarta-feira, 2 de julho de 2014

O PRÊMIO CAPÍTULO 19

No capítulo anterior: Mateus sacudiu os ombros e continuou com suas obras de artes na revista; Mônica passou por ele e entrou na cozinha. Largou a sacola em cima da mesa e foi beber água. Quando deixou o copo em cima da pia viu uma sombra na área de serviços.
Correu para lá e viu Felipe sentado ao lado da máquina de lavar com as pernas cruzadas e mexendo em várias figurinhas dentro do saco plástico que ela esquecera na noite anterior.
- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AÍ????? - Mônica gritou, paralisada com que viu.
Felipe pulou com o susto que levou e várias figurinhas que tinha nas mãos se espalharam pelo chão. Aterrorizado, viu sua mãe parada ao lado da porta da cozinha.



Capítulo 19

- Manhê... - disse Felipe, apavorado. - Vi esse saco aqui no chão... aí vim ver...
- Moleque enxerido! Quem te mandou vir pra cá?
- Ninguém, manhê - o garoto tremia que nem vara verde. - Eu tava procurando meu carrinho aqui na área e daí vi o saco...
- Sabe muito bem que a área não é lugar para crianças!
- Eu sei... - os beiços tremiam - mas pensei...
- Esse que é o erro de vocês, pirralhos. Acham que pensam!
Felipe pegou as figurinhas do chão e mostrou:
- Manhê... achei dentro do saco essas figurinhas... tem um montão!
A vontade que Mônica sentiu foi agarrar o pescoço dele e torcê-lo até quebrar. Respirou fundo; não adiantava berrar, podia se arriscar em chamar a atenção dos vizinhos; o certo agora era enganar aquele moleque.
- Que figurinhas são essas? - Mônica perguntou, simulando um tom de voz mais ameno.
Felipe percebeu que sua mãe ficou mais calma e respondeu:
- São do álbum do corpo humano!
- É mesmo? - Mônica mostrou surpresa. O menino até sorriu para ela.
- É, manhê! Tem figurinhas à beça repetidas!
- Como foram que elas vieram parar por aqui?
- Sei lá... - Felipe levantou os ombros.
Mônica aproximou-se do filho e ajoelhou-se ao lado. Pegou alguns cromos, olhou as figuras e pareceu espantada:
- É mesmo! - O tom da sua voz era de espanto. - É do álbum do corpo humano!
- Que sumiu - Felipe reclamou.
- Tem bastante, e como você falou, todas repetidas. - Mônica fingiu que pensava em alguma coisa, e de repente, disse: - Já sei quem botou essas figurinhas aqui!
Felipe, curioso:
- Quem, manhê?
- Me dá essas figurinhas que estão na sua mão, rápido!
Felipe tinha umas dez figurinhas nas duas mãos.
- Por quê?
Mônica passou os braços em volta do seu filho e cochichou no ouvido dele:
- Mateus também viu isso?
- Não, ele tá lá na sala rabisc... desenhando.
- Foi bom que ele não tenha visto. Vou te contar, mas tem que prometer que vai ser o nosso segredo.
O ar conspiratório atiçou Felipe:
- Prometo que não falo nada.
- Nem pro Mateus?
- Juro - disse Felipe, que cruzou os dedos e os beijou.
Mônica criou um ar de suspense e disse, num tom conspiratório:
- Acho que foi seu pai que largou esse saco aqui na área.
- O papai?
- Ele. Quem mais poderia ser?
- Mas por quê papai ia deixar esse monte de figurinhas aqui?
- Ah, você mesmo viu. São repetidas.
- Tem mais de cem figurinhas!
Mônica tocou de leve em cima da sacola estufada e disse, como se estivesse calculando:
- Mais de cem, filho. Acho que deve ter umas 500, mais ou menos.
- E como papai arrumou tudo isso?
- Esse é outro segredo... lembra de ontem, quando perguntou onde estava o álbum?
- Lembro... ele sumiu.
- Não sumiu. O álbum está com seu pai! - Mônica disse, convicta com suas palavras.
- Ele falou que não gostava de álbuns de figurinhas!
Mônica estava se divertindo com a cara de espanto do seu filho:
- Seu pai mentiu, ele finge que não gosta. Mas no fundo adora colecionar álbuns de figurinhas. Quando ele era criança, comprava um atrás do outro. Foi por isso que ele pegou o álbum no armário da sala e escondeu. Comprou bastante pacotinhos e as repetidas jogou no saco pra jogar fora.
- Poxa, ele podia ter mostrado pra gente. - disse Felipe, chateado.
- É que tá zangado com vocês. Por causa do dinheiro que sumiu.
- Mas nem eu e nem Mateus pegamos o dinheiro dele!
Mônica balançou a mão, como se quisesse dizer para esquecer.
- Como ele tá brabo com vocês, deve ter vindo aqui na área para colar escondido na hora que vocês estavam dormindo.
Felipe balançou a cabeça e franziu as sobrancelhas, como se tivesse lembrado de alguma coisa:
- A senhora falou em dormindo... Daniel não acordou até agora.
Mônica ficou surpresa.
- Ainda não acordou?
- Desde a hora que a senhora saiu. Por quê demorou tanto na rua?
Mônica se levantou e disse, ríspida:
- Tava resolvendo umas coisas. Vamos para a sala.
Felipe deixou a sacola onde tinha achado e levantou. Quando ia passando pela mãe, Mônica segurou seu braço.
- Ai, manhê! Tá machucando!
A mão dela era como garra de rapina. Ela puxou seu filho até ela e disse, com a voz seca:
- Lembre-se que me prometeu que não vai falar nada nem pro seu irmão e nem a seu pai. Se desconfiar que você sabe que ele escondeu o álbum, vai te matar de cintada no teu couro, e se isso acontecer, não vou poder fazer nada pra ajuda-lo!
- Já... já prometi, manhê...
- Então tá - Mônica aliviou o aperto e Felipe esfregou o braço, que ficou marcardo com os dedos dela.
Ao passar pela cozinha, ele viu a sacola grande em cima da mesa e perguntou:
- O que é isso na mesa, manhê?
- Nada que te interessa, curioso. Já pra sala, vou olhar seu irmão.
Mal Felipe saiu da cozinha, Mônica pegou a sacola pesada com dois mil pacotes de figurinhas e voltou para a área. Abriu a máquina de lavar, que estava vazia, e jogou a sacola dentro. Depois pegou a sacolinha de plástico com as figurinhas repetidas e escondeu-a dentro do armarinho de limpezas.
(Garota, essa foi por pouco! Quase que o menino descobre tudo!)
- Eu sei enrolar meus filhos. Eles acreditam em tudo que falo.
(Mas uma hora ele desconfiou.)
- Mas dei conta do recado. - disse furiosa.
( É, deu. Agora. Mas será que consegue engana-los por muito tempo?)
- Não acredito que vai ter muito tempo, principalmente agora, que comprei os pacotinhos...
Ela esperou que a voz replicasse, mas ficou em silêncio. Saiu da área e foi ao quarto dos meninos.
Daniel continuava dormindo, com seu polegar na boca, ressonando lentamente. Mônica afagou os cabelos dele e perguntou a si mesma:
- Será que a dose que dei foi muito grande?
Daniel parecia um anjo.
(E os anjos moram no céu!)

Continua...

No próximo capítulo: Adroaldo chega do trabalho, e Mônica precisa representar seu papel de dona de casa dedicada.

Rogerio de C. Ribeiro

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