- E daí, Jorge?
- Ele percebeu que faltavam 110 reais no caixa. E o prazo que me deu para devolver esse dinheiro é hoje!
- Não posso fazer nada, Jorge. Não tenho dinheiro. Quem te mandou que vendesse fiado?
Antes que Jorge respondesse, ela passou por ele e caminhou para o ponto de ônibus.
Capítulo 28
Dessa vez entrou
mais confiante no Banco do Brasil. Entrou em uma fila pequena e rapidamente sacou dois mil reais, que
escondeu na sua bolsa a tiracolo. Atravessou a avenida e pegou o primeiro táxi que viu parado no ponto. Disse ao taxista:
-
Rua Gavião Peixoto, por favor - Era uma rua no bairro de Icaraí.
-
Sim senhora - disse o taxista, ligando o taxímetro.
Aconchegada
no banco traseiro e desfrutando do ar-condicionado, Mônica pensou:
"
Essa que é minha vida de verdade! Nada de ficar andando em ônibus lotados, aguentando
a catinga daquele povinho suado... não! Com meu prêmio, vou ser madame, só andando em carro refrigerado..."
(E sua família, Mônica?)
"Esquece
eles."
(Vou repetir... E sua família?)
"O
que eles tem a ver com minha vida depois do prêmio?"
(Tem a ver porque são sua família!)
"Não vou pensar nisso agora! Quero aproveitar esse meu momento de
liberdade..."
(Com sua família, não existirá
liberdade!)
A dor de cabeça voltou com toda força. As têmporas pulsavam como se quisessem explodir. Mônica
agarrou sua cabeça enfiando os dedos no cabelo oleoso.
-
Esqueça deles! - Gritou Mônica.
O
taxista olhou pelo espelho retrovisor e perguntou, preocupado:
-
A senhora está sentindo alguma coisa, dona?
Controle-se,
Mônica, não pode dar bandeira...
-
Não é nada, desculpa... minha irmã ligou agora pro meu celular reclamando da
nossa família... - Ela forçou um sorriso, e fingiu que fechava o fecho da bolsa
para simular que tinha um celular ali dentro.
-
É, dona, tem horas que é bom manter distância de parentes...
-
Parente é serpente - disse Mônica e dessa vez riu com vontade. Até sua dor de
cabeça deu uma acalmada.
O
taxista também riu e disse, enquanto esperava o sinal de trânsito abrir para
ele:
-
Uma coisa que sempre digo pra minha patroa: Família é aquela que sempre está
junta, nos bons e maus momentos. Pela minha patroa e meus filhos, dirijo quinze
horas por dia para proporcionar o conforto que eles merecem.
-
Mesmo? - disse Mônica, entediada com o rumo da conversa.
-
Isso, dona. - Mônica olhou para a identificação do motorista. O nome dele era
Evangivaldo Peçanha, e a foto mostrava seu rosto rechonchudo, com cabelos
grisalhos e um largo sorriso estampado. Tinha jeito de ser extrovertido e
simpático, e Mônica teve certeza que ele seria bastante útil ao que pretendia
fazer.
-
Sr... Evangivaldo...
O
taxista soltou uma gargalhada:
-
A senhora não precisa ficar envergonhada se errar meu nome, dona. Já tive
passageiros que me chamou de Emarinhaldo, outro de Evangelista, alguns acharam
que era Evanguinaldo. É um carma de carrego desde que meus pais quiseram
homenagear com os nomes deles, Evangelina e Rivaldo. Deu no que deu, nessa
salada mista!
Mônica
disse:
-
Ainda existem pais assim...
-
Se tem!
-
Evaninaldo... desculpa, Evangivaldo...
-
Se quiser pode me chamar de Peçanha, dona, é mais fácil.
-
É mais fácil mesmo - concordou Mônica, tentando parecer simpática. A
pesada maquiagem que passou no rosto disfarçava suas olheiras e a cicatriz do
arranhão debaixo do olho. Mas sua aparência ainda era cadavérica. - Sr.
Peçanha, eu vou precisar ir em vários lugares, e se eu for pegar um táxi em
cada ponto, acho que vou gastar mais dinheiro...
Peçanha
esperou que ela finalizasse:
-
Então pensei... - disse Mônica, - se o senhor podia me atender durante minha peregrinação pela cidade... claro que vou pagar o que der no taxímetro, é
que não estou com muita disposição para andar de um lado ao outro...
Mônica
percebeu que ele deu uma avaliada na sua passageira pelo retrovisor e pela cara
que ele fez, realmente achou mesmo que ela não tinha a mínima condição de ficar
andando.
-
Sem problema nenhum, dona... só não entro em comunidades que estão em
guerra...
-
Onde vou, com certeza não tem nenhuma favela por perto...
O
táxi entrou na rua Gavião Peixoto. Na primeira banca de jornais Mônica pediu
para que ele parasse.
-
Dona, eu não posso estacionar aqui...
-
Finja que seu carro pifou - disse Mônica e agilmente, contrariando sua aparência
doentia, abriu a porta. - Não demoro nem dois minutos.
Naquela
banca comprou cinquenta pacotes de figurinhas. Voltou para o táxi e disse:
-
Não disse que era rápido? Vamos em frente.
Mal
o táxi andou cem metros, ela bateu no ombro do taxista e mandou:
-
Pare ali!
-
Dona, assim vou me encrencar! Essa rua é tomada de guardas municipais
doidinhos pra multar...
-
Com o prêmio que vou ganhar, vou pagar todas suas multas, Enagilvado!
O
taxista acendeu o pisca alerta do carro e disse:
-
Dona, só não demore muito...
-
Me espera!
Cinco
minutos depois Mônica voltou ao táxi, com mais 300 pacotes dentro da sua bolsa.
-
E agora, dona?
-
Vamos andando!
E
foi assim em todo bairro. Ela passou em várias bancas de jornais e em cada uma
delas comprou dezenas de pacotes. Mônica olhou o dinheiro que sobrara e decidiu
fazer uma pausa.
Deu
seu endereço e o táxi partiu para a zona norte. Quando o carro estacionou na
esquina da sua rua, Mônica disse:
-
O senhor pode parar aqui mesmo...
Ela
pagou a corrida e depois atravessou a rua. Quando entrou em casa, eram quatro
horas da tarde.
Continua...
No próximo capítulo: Mais uma vez Felipe é vítima das intrigas da voz na cabeça de Mônica.
Rogerio de C. Ribeiro
Continua...
No próximo capítulo: Mais uma vez Felipe é vítima das intrigas da voz na cabeça de Mônica.
Rogerio de C. Ribeiro
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