Deu seu endereço e o táxi partiu para a zona norte. Quando o carro estacionou na esquina da sua rua, Mônica disse:
- O senhor pode parar aqui mesmo...
Ela pagou a corrida e depois atravessou a rua. Quando entrou em casa, eram quatro horas da tarde.
Capítulo 29
Felipe
e Mateus estavam na sala, cada um fazendo seus deveres de casa. Quando viram sua mãe
entrando, gritaram ao mesmo tempo:
-
Manhê! Onde a senhora foi?????
- Larga de serem escandalosos! - Mônica disse. - Tão parecendo duas mariquinhas!
O
rosto de Felipe mostrava preocupação:
-
Mas manhê, a senhora nunca saiu de casa assim, sem que tivéssemos voltado da escola...
-
Sempre existe uma primeira vez para tudo - Mônica caminhava para a cozinha. - Tem que agradecer, ainda fui boazinha de não ter trancado a porta.
-
Isso é outra coisa estranha - murmurou Felipe.
No
meio caminho, Mônica estancou e virou-se para eles:
-
Estranho porquê?
-
Nada, mãe, esquece...
(Os meninos estão desconfiados,
Mônica... Toma cuidado com esses pestinhas senão tudo vai pro buraco!)
- Agora que começou, tem que acabar, Felipe -
disse Mônica de forma ameaçadora. Ela largou sua bolsa de tiracolo com mais de
mil pacotes de figurinhas dentro dela em cima da mesa. - Nestes últimos dias venho percebendo que você tá de conspiração pra cima de mim...
-
Eu não! - Felipe se defendeu.
-
E nem eu - disse Mateus.
Mônica
abriu a mão, como se fosse bater no seu filho de sete anos e gritou:
-
Essa conversa não chegou ainda pra você, seu linguarudo!
Ela
voltou-se para Felipe:
-
Vamos abrir o jogo agora, Felipe... o que tá acontecendo com você? Não gosta
mais da sua mãe?
-
Eu gosto... amo!
-
Não é o que parece... Tá com jeito que me odeia e quer que eu me ferre toda!
-
Não!
(Esse moleque descobriu onde as
outras figurinhas estão escondidas! Eles pensaram que a porta da frente estava
trancada e entraram pela área de serviços... como ele encontrou a sacola com as
figurinhas repetidas, vasculhou tudo pra ver se achava mais... e achou dentro
da máquina de lavar!)
Mônica
não podia acreditar... mas olhando para o rosto sonso do seu filho mais velho, também não podia descartar essa possibilidade...
-
Eu já sei qual é a sua, Felipe...
Apavorado,
Felipe largou o lápis em cima do caderno e disse, chorando:
-
Manhê... eu não fiz nada, não contei nada...
-
Mentiroso! - Mônica gritou e soltou um tabefe no rosto do menino.
Felipe, que estava sentado na mesa fazendo o dever de casa, assim que levou o
tapa, caiu estatelado no chão, chorando. Mateus, em outra cadeira, correu para
o seu quarto. Mônica não estava preocupada com Mateus, agora seu problema era
Felipe.
-
Escute só o que vou te falar, e preste bastante atenção porque não vou
repetir... - Ela sentia seu coração disparando e sua cabeça estourando de dor. Uma
pequena hemorragia escorria das suas narinas, mas ela nem notou. Quando voltou
a falar, sua voz era arrastada:
-
Estou dando um duro danado pra merecer o prêmio! Esse prêmio que foi criado para
mim, só pra mim! Não vou permitir que ninguém, mas ninguém mesmo,
principalmente um fedelho como você, me dê uma rasteira para tomar o que é
meu de direito!
Chorando
e com as faces ardendo, Felipe disse:
-
A senhora está doente, manhê...
-
Vocês que fazem que eu fique doente! Sempre atendi aos seus desejos
egoístas, nunca reclamei de nada... Agora que tenho a chance de ser eu mesma,
não vou deixar que me passe a perna.
-
Em quê?
(Ele vai te enrolar, Mônica. Vai
dizer que não sabe de nada...)
- Eu não sei de nada!
(... e que é leal...)
-
Nunca te traí, manhê!
(...que entrou pela porta da
frente...)
-
Eu e Mateus vimos que a porta estava aberta e entramos!
(... que não falou com o pai do
álbum...)
-
Não falei com papai do álbum...
(E o máximo dos máximos! Não tem a
menor ideia desse prêmio!)
-
E nem sei que prêmio é esse!
Mônica
ficou confusa com as informações que ia recebendo. Seus lábios agora eram de um
vermelho vivo, como se tivesse borrado com batom. Ela não sentiu nenhum
gosto de sangue, mas a dor de cabeça intensificava cada vez mais.
Sentiu
uma fraqueza e caiu arriada na cadeira. Felipe aproveitou para fugir dela. As
mãos dela tremiam, a palpitação no peito acelerou.
"É
meu filho... não consigo..."
(COVARDE!)
"Não
posso... acredito nele..."
(IDIOTA!)
Mônica
precisava tirar as dúvidas que atormentavam sua cabeça. Foi para a área e abriu
a máquina de lavar. A sacola abarrotada de figurinhas repetidas continuava no
mesmo lugar.
Tirou
da bolsa que tinha pendurada no ombro os pacotes de figurinhas que comprara
pela cidade e jogou-as dentro da máquina, que caíram espalhadas.
"Depois
eu pego e junto tudo!"
Escutou
a porta da sala abrindo e foi até lá; Adroaldo trazia Daniel no colo, e parecia
chateado.
-
Quase quatro horas para ser atendido! - disse Adroaldo depois que deixou Daniel
no sofá. - A saúde pública tá cada vez pior!
-
E o que ele tem? - Perguntou Mônica.
-
Fizeram um exame de sangue nele e o resultado sai na semana que vem. O pediatra
não soube explicar direito qual era o problema dele. Pra dizer a verdade,
ele mal olhou pro nosso filho.
Mônica
se jogou na cadeira. Esperava mais um discurso dele. No fundo era até bom; se
ficasse um pouco sentada, sem fazer nada, talvez diminuísse a sua enxaqueca. Ao
mesmo tempo que tirava os sapatos e as meias, Adroaldo narrava as peripécias em
um posto de saúde - Mônica quase soltou uma gargalhada quando criou o título
para o monólogo do seu marido.
-
Mônica, você não imagina como fica lotado uma emergência pediátrica. Mesmo
pagando a consulta do Daniel, tivemos que esperar quase quatro horas para ser
atendido! E quando entramos no consultório, o pediatra mal olhou para ele,
mandou que fizesse o exame de sangue e falou para que voltasse na semana que
vem! Duzentos reais por cinco minutos de atendimento! É por isso que as pessoas
reclamam que a maioria dos médicos ignoram o juramento de Hipócrates. Agora é o
juramento dos hipócritas!
Do
sofá, Daniel choramingou. Adroaldo parou com seu monólogo e disse:
-
Vou preparar uma mamadeira para ele. Você continua com a cara ruim, Mônica.
-
Estou melhor.
Ela
continuou sentada, massageando as têmporas, e Daniel estava imóvel a observando.
Mônica fez uma careta e rosnou:
-
O que tá olhando, pentelho? Nunca viu uma pessoa com dor de cabeça?
Sem
ter entendido uma palavra que a mãe falou, Daniel riu. A vontade que Mônica
teve foi de esganar o garoto para não vê-lo mais zombar dela.
Adroaldo
voltou da cozinha com uma mamadeira. Testou a temperatura pingando uma gotinha
nas costas da sua mão e depois entregou o Nescau ao seu filho. Ele enfiou as
meias dentro dos sapatos e quando ia para o quarto de casal, lembrou-se de algo.
Virou-se e disse:
-
Você chegou a ver as pessoas na casa da portuguesa?
Mônica
parou de massagear as têmporas e perguntou, desinteressada:
-
Pessoas? Na hora do almoço?
-
Não, agorinha a pouco - disse Adroaldo. - Tava chegando com Daniel quando vi
dona Amélia e umas cinco pessoas no jardim da casa da Guiomar.
-
Não... não vi...
Enquanto
andava descalço para o quarto, Adroaldo disse:
-
Deve ter acontecido alguma coisa...
(Ele sabe! Está te testando também!)
Continua...
No próximo capítulo: Mônica se junta aos vizinhos e vê a polícia investigando a casa de Guiomar. Dona Amélia conta como descobriu do assalto.
Rogerio de C. Ribeiro
Continua...
No próximo capítulo: Mônica se junta aos vizinhos e vê a polícia investigando a casa de Guiomar. Dona Amélia conta como descobriu do assalto.
Rogerio de C. Ribeiro
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