No capítulo anterior: - Você chegou a ver as pessoas na casa da portuguesa?
Mônica parou de massagear as têmporas e perguntou, desinteressada:
- Pessoas? Na hora do almoço?
- Não, agorinha a pouco - disse Adroaldo. - Tava chegando com Daniel quando vi dona Amélia e umas cinco pessoas no jardim da casa da Guiomar.
- Não... não vi...
Enquanto andava descalço para o quarto, Adroaldo disse:
- Deve ter acontecido alguma coisa...
(Ele sabe! Está te testando também!)
Capítulo 30
-
O que pode ter sido?
Adroaldo
não respondeu. Mônica correu para a porta da frente e saiu para a varanda.
E
o que viu não foi coisa boa. Além dos vizinhos enxeridos, liderados pela velha
da dentadura bailarina, haviam dois carros da polícia civil. E uma
ambulância.
(Você precisa ir até lá para ver o que
está acontecendo, princesa. Não pode se esconder agora. Não quando já está
chegando o fim da sua jornada!)
Mônica
concordou. Mesmo com a dor dilacerando seus miolos e meio tonta, ela caminhou
até a casa da portuguesa.
Agora,
os vizinhos estavam observando o trabalho da polícia. Quando ela se
juntou a eles, dona Amélia aproximou-se dela e disse, com um tom
triunfante na voz:
-
Eu sabia!Tinha absoluta certeza que alguma coisa tinha acontecido com
Guiomar!
Mônica
perguntou, e para seus ouvidos, sua voz saía arrastada:
- Mas o que houve? Dona Guiomar está bem?
Os
olhinhos azuis e espertos de dona Amélia olharam por cima dos seus óculos sem
aro.
-
Ainda não sabe?
-
Sei o quê, dona Amélia?
-
O que aconteceu com Guiomar?
"Claro
que sei, velha imbecil. Enquanto a senhora está vindo, eu já fui há muito
tempo!"
-
Fico dentro de casa quase o dia todo por causa dos meninos. Às vezes nem
tenho tempo de chegar na janela. - disse de forma mais casual.
- Não
é o que parece... pelo menos nesses dois dias...
-
O que a senhora está sugerindo?
-
Não, nada, nada! - Dona Amélia levantou as mãos enrugadas, como se mostrasse
que estava em paz com o mundo inteiro. - Realmente, desde que te conheço,
tirando quando leva os teus meninos ao colégio, mal te via na rua. Mas ontem de tarde
e hoje de manhã a senhora saiu toda arrumada...
- Precisei resolver algumas coisas na cidade. - Mônica, ofendida, replicou. - E já
disse, ninguém tem obrigação de ficar dando satisfações para vizinhos do que fazemos
ou não...
-
É, ninguém é obrigado mesmo - a dentadura dançava enquanto dona Amélia falava,
- mas às vezes é bom quando avisamos ao nosso vizinho de uma mudança na
rotina... De repente, acontece uma coisa e podemos ajudar, não é? Veja o caso
da Guiomar...
Mônica
viu dois policiais com trajes civis, com seus distintivos pendurados pelo
pescoço, indo e vindo pelos fundos da casa. Mônica sentiu suas pernas
fraquejando, e o coração batia descontrolado. Eram mais de trinta horas que
estava acordada. Trinta? Acho que mais de quarenta...
Mônica
prometeu para si mesma que depois do jantar ia tirar um cochilo para renovar a energia. Se continuasse naquele ritmo, ia acabar pifando.
Enquanto
pensava, dona Amélia falava. O movimento dos lábios da velha fofoqueira
causavam o rebuliço na sua dentadura móvel, e Mônica ficou paralisada,
esperando o momento que dona Amélia ou cuspisse a dentadura ou se engasgasse
com ela. Acordou do seu devaneio quando ouviu a palavra: "assalto."
-
Desculpe, dona Amélia, não entendi...
A
velha apontou os policiais que iam e vinham do interior da casa de Guiomar.
-
Estou te falando, eu sabia que tinha acontecido uma coisa errada com ela!
Quando você me disse que ela estava com os joelhos inchados, imaginei que...
-
Não, dona Amélia! - Mônica cortou, impaciente, o ponto de vista da sua vizinha.
- A senhora falou em assalto?
Outros
moradores da rua se juntaram às duas. Osvaldo, um aposentado por invalidez, veio com sua muleta. Tinha mania de falar
em exclamação, como se tudo fosse novidade e ele o portador das notícias:
-
É sim, dona Mônica! A casa dela foi assaltada! Fizeram uma bagunça danada ali dentro!
Mônica,
simulando preocupação:
-
Que coisa, hein! Nossa rua sempre foi tranquila...
-
Tranquila quando os vizinhos confiavam um no outro - Dona Amélia disse. - Quando
me falou que ninguém é obrigado em pedir que um vizinho olhe sua casa, olha o
resultado agora.
-
Entendi - disse Mônica, um pouco nervosa com a movimentação dos policiais. - Se
dona Guiomar tivesse falado...
-
O mais engraçado, Mônica - disse dona Amélia, e os olhos dela brilhavam. - Que
Guiomar, toda vez que ia fazer alguma coisa fora, ia na minha casa e avisava!
-
Estranho...
-
É muito estranho, principalmente depois que você me falou que ela podia ter ido
ao médico para olhar os joelhos.
-
Eu supus...
-
E errado. Quando Guiomar tinha crises de artrose, às vezes ficava com
febre e ficava deitada boa parte do dia. Mas sempre de tardinha, mesmo estando
febril, ela vinha com sua vassoura para varrer a calçada. Era uma mania que
carregava há anos. Nunca gostou de ver folhas caídas em frente da sua casa.
Mônica
deu de ombros.
-
A senhora conhece dona Guiomar melhor que eu. Mas me digam... Os ladrões
roubaram muita coisa? E dona Guiomar?
Mônica
sabia qual seria a resposta. Osvaldo exclamou:
-
A polícia tá vendo ainda! Tinha que ter visto, dona Mônica! Dona Amélia estava
certíssima!
-
E quem descobriu?
Dona
Amélia:
-
Claro que fui eu. - A dentadura quase voou, mas ela foi mais rápida e com o polegar, colocou-a
no lugar. - Depois que o sargento Ernesto se negou em entrar na casa, eu e
Violeta contornamos o jardim e vimos o portão da área aberta. Quando
passamos pela cozinha, vimos a sala completamente bagunçada. Eu disse
logo: "Foi assalto, Violeta!" Conforme íamos andando, entramos no quarto de hóspedes. Tiraram todas gavetas do armário e as deixaram espalhadas pelo chão. Uma bagunça danada. Mas o pior foi no quarto
de Guiomar... - Dona Amélia fez uma pausa.
Ansiosa
para terminar logo sua encenação para voltar para casa antes que Felipe pegasse
suas figurinhas escondidas na máquina de lavar, Mônica disse:
-
Então...
Com
a expressão séria, dona Amélia disse:
-
A gente vê na televisão e lê nos jornais sobre pessoas que praticam maldade,
que não tem Deus no coração. Agradecia porque nunca aconteceu nada comigo, nem
aos meus familiares e vizinhos.
-
Ela... ela... - Mônica não completou a frase. Pensou: "A velha portuguesa
foi dessa pra melhor..."
-
Sim, ela... - disse dona Amélia, consternada com a situação. - O quarto dela
foi todo revirado, cortaram o colchão da cama, arrebentaram o joelho dela...
Pobre Guiomar, como sofreu com tamanha barbaridade...
-
Que ela descanse em paz - disse Mônica, balançando a cabeça, triste. Uma
solitária lágrima desceu dos seus olhos. - Para aquele que acredita, agora ela deve estar
ao lado do seu marido...
Surpresa,
dona Amélia perguntou:
-
Do que está falando?
Mônica
limpou a lágrima do rosto e disse:
-
Dela... A senhora acabou de dizer da barbaridade que fizeram com ela...
-
Realmente disse, mas não que ela morreu.
-
Pela descrição que a senhora fez, qualquer um imagina isso.
Osvaldo
exclamou:
-
Dona Mônica, ela foi para o hospital!
Desnorteada,
Mônica não entendeu. Perguntou:
-
Quem foi pro hospital?
-
Guiomar - disse dona Amélia. - Estava desacordada. Pobrezinha, amarraram ela, quebraram o joelho dela e por muito pouco não morreu...
-
Graças à senhora, dona Amélia! - disse Osvaldo.
-
Ela está viva??? - Mônica quase engasgou. Não acreditava no que ouvia.
Continua...
No próximo capítulo: Última semana da série. Agora só faltam cinco capítulos.
* Para maiores surpresas, não terá sinopse dos últimos capítulos.
Rogerio de C. Ribeiro
Continua...
No próximo capítulo: Última semana da série. Agora só faltam cinco capítulos.
* Para maiores surpresas, não terá sinopse dos últimos capítulos.
Rogerio de C. Ribeiro
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