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terça-feira, 8 de julho de 2014

O PRÊMIO CAPÍTULO 22

No capítulo anterior: - Nosso filho não está nada bem!
- Impressão sua - disse Mônica. Ela procurava mostrar-se mais normal possível, mas dentro dela seu coração disparava feito louco.
- Ele tá gelado... vamos leva-lo para o posto médico!
- Não tá sendo meio precipitado, Adroaldo?
Adroaldo colocou seus dois braços embaixo do corpo inerte da criança e botou no colo. A cabeça de Daniel pendeu para baixo.
- Precipitado? O que tá havendo contigo, Mônica? Tá na lua de novo? Volta pra terra, acorda!

Capítulo 22

Daniel deu um gemido. Mônica apontou. Simulou que estava impaciente:
- Olha só, Adroaldo! Esse seu desespero com nada acabou acordando o menino!
Os olhos de Daniel abriram com dificuldade; tateou suas mãos e agarrou na camisa do pai. Ele disse, com uma vozinha pastosa:
- Papá... papá...
Mônica aproveitou a situação:
- E agora, Adroaldo? Diga! Eu que tô no mundo da lua? - No fundo ela ficou aliviada que Daniel acordou. Não sabia o que ia fazer se Adroaldo insistisse em leva-lo para o hospital.
(Se ele decidisse isso,minha garota, você ia ter que mata-lo antes.)
" O Adroaldo? Não sei se consigo", pensou Mônica, enquanto observou Daniel abrindo seus olhos lentamente. Agora agarrava o queixo do pai. Ela percebeu que Adroaldo chorava, e que disfarçava para que o filho não notasse.
(Agora que está chegando no fim? Vai querer morrer na praia depois de todo esse trabalho que está tendo?)
Mônica ignorou a pergunta. Adroaldo passou por ela carregando Daniel no colo e saiu do quarto. Ela respirou fundo, sentiu-se melhor e foi atrás deles.
Na sala, Daniel estava sentado no colo do pai ainda meio sonolento. Adroaldo acompanhou Mônica com olhos acusadores e ela disse:
- Vou preparar um Nescau pra ele. Deve estar com fome.

Mais tarde, Adroaldo estava deitado de barriga para cima, falou com Mônica, que vestia uma camisola depois do banho.
- Você não ficou preocupada com Daniel? Ele dormiu o dia inteiro e agora ferrou no sono de novo!
- De verdade? Não. - disse ela deitando-se ao lado dele. - Isso acontece com muita gente quando ficam gripados.
- Daniel não me pareceu gripado. Parecia...
Mônica esperou que Adroaldo completasse a frase.
- Parecia o quê, Adroaldo?
- Não sei, me veio agora uma besteira na minha cabeça.
- Que besteira?
Adroaldo cruzou as mãos atrás da cabeça.
- A sensação que Daniel tivesse tomado um calmante.
- Ah, não me venha com essa! Que piada!
- Não acho que é piada - disse Adroaldo com voz baixa. - Quando ele abriu os olhos e me chamou, tive uma sensação ruim. Parecia que estava grogue. Não sei se já te contei, mas se falei, vou falar de novo. Quando eu tinha 9 anos, tive uma infecção no prepúcio e não conseguia mijar direito; quando tinha vontade de ir ao banheiro, só caiam gotinhas. E o troço ardia muito, era terrível! Nas crises, meu pai me levava na clínica e o médico jogava água quente pra ver se eu conseguia mijar, mas não adiantava muito. O meu caso foi a cirurgia. Bem, vou simplificar; lembro que entrei na sala de operação usando uma bata azul e a enfermeira ficou no meu lado dizendo que não ia doer nada, etc. Todas mentiras que as enfermeiras utilizam para enganar garotinhos indefesos! Ela me tranquilizou dizendo que a injeção que iam me dar não ia doer nada. Naquele tempo a seringa não era descartável, era aquela de vidro, e para uma criança que tinha pavor de picadas de agulhas, pra mim era igual àquelas injeções de desenho animado, gigantes!. Ela pediu que eu contasse até dez e fiz isso, mas só cheguei no quatro e depois apaguei. Acordei num leito com minha mãe fazendo companhia. Bem, é nesse ponto que quero chegar. Quando acordei e disse: Mamãe, minha voz era pastosa como a de Daniel quando acordou. Exatamente a mesma voz.
- Tá achando que ele tomou uma anestesia geral? - Mônica riu.
- Deixa de ironias, Mônica. O que quero dizer é que parece que ele foi dopado.
- Dopado com o quê? - Mônica mostrou desinteresse, mas por dentro,  seu estado de alerta chegou no máximo.
Adroaldo pensou, e se lembrou de algo:
- Ainda temos aquele calmante que o médico recomendou para estresse?
- Não sei, nem me lembrava mais desse calmante - disse Mônica, forçando um bocejo.
- Se não me engano, a última vez que o vi foi no armário do banheiro...
- Se tá lá, deve continuar no mesmo lugar - suspirou Mônica. - Perdeu o sono?
- Espera um pouco! Se está lá...
Mônica deitou-se de lado e reclamou:
- Só falta agora você acusar o Felipe ou Mateus de terem pego o remédio e posto no Nescau de Daniel pra dopa-lo de propósito.
- Claro que não! - Adroaldo descruzou as mãos e ajeitou o travesseiro. Mônica  conhecia esse ritual.
"Agora ele bate no travesseiro e ajeita sua cabeça no buraco que fez. E não dá nem cinco minutos já começa a sinfonia do ronco."
Adroaldo socou o travesseiro duas vezes e acomodou sua cabeça nele. Mônica disse para tranquiliza-lo.
- Tire essas coisas da cabeça, Adroaldo. O que houve mesmo foi que Daniel pegou um resfriado dos brabos e dormiu o dia inteiro para se recuperar. Só isso.
Adroaldo começava a pegar no sono.
- Você pode estar certa... acho que você sempre está certa. Me desesperei a toa... Mônica, onde arrumou esse arranhão embaixo do olho? Parece uma unhada...
Rápido, ela respondeu:
- Fui coçar e me arranhei.
Adroaldo não disse nada. Caiu no seu sono pesado e começou os primeiros roncos. Mônica aguardou dez minutos e depois levantou-se com cautela e abriu o armário. Pegou uma peça de roupa que havia separado dentro de uma gaveta e apanhou seus sapatos de mocassim que deixara embaixo da cama. Saiu pisando descalça para não fazer barulho e fechou a porta.
Tinha bastante coisa para fazer nessa noite. Passou pelo quarto dos meninos e olhou Felipe e Mateus, que dormiam em uma beliche e Daniel no berço. Também fechou a porta do quarto deles.
Precisava agir rápido agora. Primeiro ia visitar Guiomar, depois as figurinhas.
O relógio bateu meia-noite.
Essa madrugada vai ser longa. Muito longa.

Continua...

No próximo capítulo: Mônica volta na casa de Guiomar.

Rogerio de C. Ribeiro

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