Translate

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O PRÊMIO CAPÍTULO 25

No capítulo anterior: Enquanto soprava o café quente na caneca que Felipe e Mateus lhe deram de presente no dia das mães, uma caneca branca com um coração vermelho e escrito: Eu Te Amo, Mamãe, com os nomes deles no outro lado da caneca, Mônica se deu conta que a dor de cabeça que sentira agora era uma leve lembrança, e resolveu que dessa vez não ia mais fraquejar, que ninguém ia conseguir supera-la de atingir seu objetivo. Não, não iam não.
E nem sua família iria atrapalha-la também.

Capítulo 25

Mônica acordou os meninos para o colégio.
- Vamos logo, cambada de preguiçosos, já está na hora!
Felipe estranhou a aparência da mãe:
- Manhê, a senhora tá com uns troços escuros embaixo dos olhos!
Mateus ia dizer a mesma coisa, mas preferiu ficar quieto.
- Vão se arrumar logo, merda! - Mônica gritou.
Felipe e Mateus já tinham se levantado das suas camas e caminhavam para o banheiro, mas quando ouviram sua mãe falar um palavrão, pararam no meio do quarto, assustados. Sua mãe devia ter acordado mal-humorada... não tava nada bem!
Mônica preparou o café com leite e pão com margarina e deixou em cima da mesa. Felipe entrou na cozinha, vestindo o uniforme do colégio, e bebeu o leite. Voltou para a sala para pegar sua mochila.
Mônica foi atrás dele como um raio.
- Volta agora pra cozinha e coma o seu pão! - Ela gritou.
- Manhê, não tô com fome ainda...
Mateus entrou na sala e ficou parado. Parecia uma estátua de um menino magro, com bermuda azul, camisa branca, cabelos rebeldes e uma expressão de terror nos olhos arregalados.
- Se não for agora, eu mesma vou te levar lá pra cozinha - ameaçou Mônica. Haviam duas olheiras fundas debaixo dos seus olhos, e seu cabelo oleoso emplastrava as laterais de seu rosto magro. Ela arreganhou os lábios e exibiu dentes tortos e amarelados. - E acho que não vai querer que eu faça isso!
Felipe, mesmo aterrorizado, disse:
- A senhora tá doente, manhê... nunca vi a senhora desse jeito...
Como uma garra, Mônica agarrou o colarinho da camisa de Felipe e sacudiu-o para frente e para trás, fazendo com que a cabeça do menino chacoalhasse em cima do pescoço.
- Seu merdinha, já deu tudo que tinha que dar! Tô de saco cheio! Não aguento mais ouvir você ficar falando "manhê"... isso é coisa de viado!
Felipe , com suas mãos, segurou o braço da sua mãe. Para um menino de nove anos, não era tão frágil assim.
- Para com isso, mãe! - Perto do corredor, Mateus chorava. - Larga Felipe...
Ela apontou para ele:
- Não se meta porque senão sobra pra você também!
- O que está acontecendo aí na sala - a voz de Adroaldo veio no final do corredor que dava para o seu quarto.
- Não é nada - gritou Mônica. Uma expressão transtornada estampava seu rosto. - É Felipe, agora deu de ficar desobedecendo às minhas ordens!
Ela empurrou Felipe, que tropeçou nas pernas e caiu sentado. Mônica apontou para a cozinha e ordenou:
- Vão pra cozinha agora e quando eu entrar, não quero ver uma migalhinha perdida em cima da mesa! Vão pra lá e me esperem. Tenho que ir falar com o chato do pai de vocês!
Felipe se levantou, limpou os fundilhos da bermuda e foi junto com seu irmão para a cozinha, enquanto Mônica caminhava para o quarto.
Adroaldo estava de pé e vestia uma bermuda.
- Que zona foi aquela na sala?
Mônica bufou:
- É a droga da internet que só ensina coisas erradas para as crianças.
- Mas precisava gritar daquele jeito? - perguntou Adroaldo, enquanto colocava uma camisa polo.
Mônica riu. Depois a risada se transformou em uma gargalhada. Adroaldo, espantado, viu quando Mônica sentou na beirada da cama enquanto tinha sua crise de risadas:
- Engraçado - disse ela aos risos, agora mais fracos. Limpou algumas lágrimas dos olhos com as costas da mão. - Fala se não é mesmo engraçado, Adroaldo? Há três dias você correu atrás dos meninos com um cinto na mão, e quase arrancou o couro deles. Isso não te assustou. Agora, quando chamo a atenção dos meninos porque eles estão sendo desobedientes comigo, você fica abismado!
- É que nessa casa, sempre quem dá os castigos sou eu. - Disse Adroaldo, já vestido. - Você sempre foi o tipo daquela mãezona, que sempre protege seus filhos debaixo das asas. E pelo que me lembro, você nunca levantou a voz para eles!
Mônica encarou Adroaldo e disse, séria:
- Cansei. Cansei de ser a boazinha da casa e deixar que montem no meu cangote.
- Mônica, tua cara tá péssima... péssima não, tá horrível!
- Sempre tive essa cara, Adroaldo.
- Claro que nunca teve! Está estressada...
Mônica fez um esgar no canto dos lábios:
- Há dez anos que vivo desse jeito, Adroaldo. Você que nunca percebeu. Só pensa em você... egoísta!Só olha pro teu umbigo!
- Isso é coisa da sua cabeça - disse Adroaldo.
- Da minha cabeça, Adroaldo? Tem certeza disso? Agora, além de viver no mundo da lua, imagino coisas...
-  O que tá havendo é que você está cansada - disse Adroaldo. - Deixa que levo os meninos pra escola.
Ela olhou-o de cima para baixo. Ele vestia um bermudão e camisa polo.
- Assim desse jeito?
- É, desse jeito - disse ele. - Percebi que desde ontem você não anda bem. Sei que ficar cuidando de três meninos, principalmente nessa fase, não é nada fácil. Descansa um pouco, tá com uma cara que mal dormiu...
"Que dormir, imbecil. Por enquanto não tenho tempo pra isso", pensou Mônica, que disse:
- E hoje não vai pra imobiliária?
- Não, vou levar Daniel para um médico. O tom da voz dele me deixou grilado.
- Já não te falei que é apenas um resfriadinho bobo?
- Tomara que o médico fale a mesma coisa, Mônica, tomara! - Ele saiu do quarto, deixando Mônica para trás.
(O merecimento ao prêmio é feito de provas, Mônica, e você tem que supera-las uma a uma.)
Mônica sabia que mais cedo, mais tarde, não ia conseguir se controlar. A adrenalina só aumentava, e ela ainda tinha que fazer muitas coisas. Mas com sua família te atrapalhando, só adiaria mais o seu sucesso.
 Dentro da sua cabeça, algo pululava - deve ser um ovo gigante que nasceu ali dentro, ela pensou, gargalhando novamente.

Continua...

No próximo capítulo: Dona Amélia faz um comentário com Adroaldo que o deixa intrigado.

Rogerio de C. Ribeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário