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segunda-feira, 14 de julho de 2014

O PRÊMIO CAPÍTULO 26

No capítulo anterior: (O merecimento ao prêmio é feito de provas, Mônica, e você tem que supera-las uma a uma.)
Mônica sabia que mais cedo, mais tarde, não ia conseguir se controlar. A adrenalina só aumentava, e ela ainda tinha que fazer muitas coisas. Mas com sua família te atrapalhando, só adiaria mais o seu sucesso.
 Dentro da sua cabeça, algo pululava - deve ser um ovo gigante que nasceu ali dentro, ela pensou, gargalhando novamente.

Capítulo 26

Quando Adroaldo voltou do colégio de seus filhos, viu Daniel deitado no sofá com uma mamadeira de Nescau pela metade enquanto assistia um desenho do Pica Pau. Adroaldo fez uma careta; a sala inteira retumbava com o volume máximo da tevê, e correu para abaixar o som.
Tranquila,Mônica estava sentada em sua poltrona. Tinha as mãos sobre a barriga com os dedos entrelaçados.
Adroaldo sentou no sofá. Daniel largou a mamadeira e pulou em cima dele.
- Ficou surda?
- Daniel agora ouvir a risada do Pica Pau bem alto.
- Com tantos decibéis, vai acabar estourando os tímpanos do menino - Daniel agarrava o pai pelo pescoço e fingia que ia dar um soco.
- É, pode ser - disse Mônica aérea.
- Precisamos conversar, Mônica.
Ela sorriu.
- Conversar ou... você quer discursar?
- Anda tomando algum remédio com tarja preta que eu não tô sabendo?
Mônica esticou os braços e se espreguiçou.
- Ainda não, Adroaldo.
- Já que vou levar Daniel pro médico, vem comigo pra fazer uma consulta...
Mônica ficou de pé e abriu os braços.
- Santo Deus! Não me fale que fez um plano de saúde pra família e que era surpresa!
- Sabe muito bem que não fiz... - Adroaldo perdia a paciência. - Arrumei um dinheiro emprestado... Para pagar as consultas...
Mônica deu um tapinha no ombro dele no momento que ia para a cozinha:
- Então poupe seu dinheirinho das consultas, meu bem. Tanto eu como Daniel estamos muito bem.
- Você não está me parecendo nada bem - disse Adroaldo.
- Dor de cabeça - ela virou o rosto para ele. - Já sentiu dor de cabeça uma vez na vida? Enxaqueca!
- Estou preocupado com você...
- Peço que não fique. O que você tem que se preocupar, é de ir pra rua correr atrás de dinheiro, isso sim.
- Já te disse que não vou.
- Tá bom! O provedor da casa é você mesmo... - ela entrou na cozinha. - Vem tomar café, acabei de fazer um agora.
Adroaldo entrou com Daniel no colo e sentou-se à mesa. Mesmo com sua aparência péssima, no estilo Mortiça, Mônica não perdeu o apetite. Atacava o pão como se fosse o último da sua vida, e mastigava ferozmente.
Adroaldo encheu uma caneca com café puro e comentou:
- Quando vinha do colégio, ouvi um comentário rolando entre os vizinhos.
- Mesmo? - Mônica perguntou com a boca cheia.
- É... Dona Alice falava com os outros sobre a portuguesa.
Mônica fingiu que não entendera.
- Guiomar, a velha enxerida - explicou Adroaldo. - Tão dizendo que ela não deu as caras ontem...
- Mania feia desse povo de ficar se intrometendo na vida dos outros.
- Concordo. Mas o que me intrigou foi o que dona Alice me disse.
Mônica passava margarina em outro pão e disse, desinteressada:
- Essa velha da dentadura solta conseguiu te fisgar... que comédia!
- Eu atravessava a rua, mas ela me segurou. Pediu para te perguntar se você sabe como está Guiomar e o joelho dela.
Mônica se fez de surpresa:
- Eu? Logo eu?
- Ela disse que te viu entrando na casa dela...
Mônica não disse nada.
- Ei, Mônica - disse Adroaldo, diante do silêncio dela.- Me ouviu agora?
- Ouvi.
- Você não me falou nada que foi na casa da portuguesa.
- Adroaldo... essa rua me dá nojo - Ela encheu sua caneca com mais café, e continuou com um tom de voz calmo, - os parasitas dos vizinhos também me enojam. Ficam nos seus portões e nas janelas exclusivamente só para ver o que o outro tá fazendo. Dona Amélia é a líder desses fofoqueiros. Ela me parou ontem também, e falou a mesma coisa comigo. - Bebeu um gole de café e disse, agora mais enérgica: - Adroaldo, você me conta tudo, mas tudinho mesmo?
- Como assim?
- Aonde vai, onde almoçou...
- Eu conto!
- Acho meio difícil. Sempre tem uma coisa que às vezes foge da nossa cabeça.
- Pode até ser, mas...
- Lembra quando te falei que dona Guiomar te viu batendo nos meninos, e que ia chamar a polícia?
- Lembro.
- Depois que a convenci que aquilo não ia mais se repetir, ela se queixou de dores nos joelhos e não conseguia nem pisar direito. Foi aí que pediu que a ajudasse para entrar na sua casa. E eu ajudei. O que tem de errado nisso?
- Nada...
- Só porque esqueci de comentar esse fato pra você, aparece dona Amélia com maldade na cabeça, pra encher a sua também.
- Entendo. Mas o que me intrigou foi que ela não apareceu ontem em nenhum momento.
- Adroaldo, vou te falar a mesma coisa que falei com dona Amélia: Agora quem mora nessa rua tem a obrigação de marcar ponto e dar satisfação no que faz ou não faz?
- Realmente é muito chato.
- Claro que é, e mais chato ainda é você vir com essa fofoca na hora do café da manhã. - Mônica esvaziou sua caneca e levou-a para a pia.
Sem mais o que falar, Adroaldo foi para a sala com Daniel. Quando ficou sozinha, Mônica esfregou a ponta dos dedos entre seus olhos. A dor de cabeça que sentia agora era implacável, e o pior foi disfarçar para que Adroaldo não desconfiasse de nada.
Queria... não, precisava ir na área abrir os pacotes... isso clamava dentro dela... Com Adroaldo dentro de casa, dificultava tudo...
(Te avisei, princesa, depois não diga que não avisei...)
- Avisou o quê? - Murmurou ela, ainda esfregando sua testa.
(Enquanto eles estiverem aqui, você nunca vai ter sossego para completar sua missão...)
- E eu vou expulsar eles de casa?
(Não é má ideia, mas não acredito que isso funcione.)
- Eu consigo... mesmo com eles aqui, consigo...
(Isso é o que você quer acreditar, princesa. Mas vamos supor que não consiga?)
- Eu vou conseguir - teimou Mônica. Agora tinha a nítida impressão que alguém a esmurrava entre os olhos. Enxergou pontinhos pretos diante dela.
(Para de mentir pra si mesma! E SE NÃO CONSEGUIR???)
Mônica agarrou seus cabelos e começou a puxa-los; alguns fios colaram entre seus dedos. Talvez com a dor pudesse afastar aquela voz de dentro da sua cabeça.
(SUA FRACA! NÃO VOU MAIS PERDER TEMPO CONTIGO! PODE ESQUECER DO PRÊMIO!)
- Não vou esquecer nada - teimou Mônica.
(COM ELES TE ATRAPALHANDO, ESSA É A ÚNICA ALTERNATIVA QUE LHE SOBRA! )  
- Vou encontrar uma saída...
(E se não achar? Me diga! Responda!)
- Se ver que estou travada por causa deles... - Ela largou sua cabeça, que parecia anestesiada, em torpor. - vou fazer o que quer... me livro deles.

Continua...

No próximo capítulo: Uma viatura na frente da casa de Guiomar, e Mônica sendo cobrada pelo jornaleiro.

Rogerio de C. Ribeiro


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