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quinta-feira, 19 de junho de 2014

SE VOCÊ ESTIVESSE AQUI AO MEU LADO AGORA


Ah, se você estivesse aqui ao meu lado agora..
Teria tanta coisa para falar. Por exemplo, diria das ondas arrebentando na areia nessa noite. E das estrelas que pontilham o céu ao lado da lua cheia. Por falar em lua, você ia gostar do seu reflexo no mar escuro. Um lindo contraste azulado que flutua mansamente nas águas.
É, você ia gostar dessa cena. Sempre foi romântica.
Por isso que eu escrevia poesias em sua homenagem.
Mas agora você não está aqui no meu lado.
Não faz mal. Guardo comigo lembranças maravilhosas do tempo que passamos juntos.
Como da vez que viajamos para aquela pousada na serra. À noite, nos aconchegávamos embaixo do cobertor quadriculado enquanto saboreávamos o fondue de queijo, com uma garrafa de vinho tinto no lado.
Eu ficava te admirando, enquanto você comia o fondue, admirando sua pele morena, seus cabelos pretos encaracolados, o brilho dos seus olhos e das suas grandes pestanas, seu nariz arrebitado, seus dentes que pareciam pérolas, você usando aquele pulôver rosa, e sua touca que quase chegava na sobrancelha. Mas o que mais gostava de ver, era da aliança de ouro que adornava seu dedo esquerdo. E quando ria; era um riso gostoso, um riso que vinha direto da sua alma, uma risada sincera!
Sinto muita falta da sua inteligência. E da sua perspicácia. De sempre poder antecipar o que vinha pela frente.
Como na vez que ia investir minhas economias em um negócio. Pedi sua opinião, e a princípio, você não quis opinar nada, mas diante da minha insistência, você acabou dizendo que seria furada.
Não gostei quando me disse que o fulano não era flor que cheirasse. Argumentei, dizendo que o fulano em questão era meu amigo de infância. Ela contra-argumentou dizendo que era por isso não queria opinar, já que o fulano era amigo, mas como insisti, ela falou o que sentia.
Quando fui me encontrar com fulano, tinha mudado de ideia. Fiquei com dúvida depois que ela falou. Bem, perdi um amigo de infância. Mas mantive meu dinheiro na poupança.
Queria tanto te ter aqui, nós dois abraçadinhos, em pé aqui na praia, só com a lua e as estrelas nos fazendo companhia. A minha vontade era dizer, a lua e as estrelas como testemunhas do imenso amor que existe entre nós! É uma frase tão bela. Uma frase que expressa a nossa vida!
Você jurou que nosso amor seria infinito. Eu acreditei nessas palavras. Éramos só nós dois, sem mais ninguém conosco. Sem pais, irmãos, tios, primos, sobrinhos, filhos... Só nós. Vivendo nossa vida como um conto de fadas com final feliz.
Mas não existe eterna felicidade... Você me disse isso, e eu não acreditei.
A ilusão fazia parte da minha realidade. Imaginei um enredo que tornou-se realidade.
Levava flores quando chegava em casa. Você ria, me abraçava, largava o que fazia e íamos para a cama, sermos um só.
Escrevia poemas e os declamava como um seresteiro, enquanto você ouvia inebriada, com seus amendoados olhos de gigantescas pestanas rasos de lágrimas cristalinas. Se emocionando com a verdade que embutia as entranhas de cada simétrica, cada rima, cada verso.
Planejávamos nosso futuro, e eu enxergava nossa velhice, caminhando de mãos dadas pelo calçadão da praia, bebendo água de coco, enquanto a nova geração de enamorados circulavam entre nós. Mesmo com suas rugas, seus cabelos prateados, da sua surdez, para mim continuava a mesma que conheci, e para mim, continuava exalando o frescor da sua juventude.
Sonhos... sonhos...sonhos...
Mas chega uma hora que acordamos do sonho. E precisamos encarar a realidade, por mais dolorida que seja.
Como na vez que você me disse que estava cansada.
Como no dia que me disse que eu era possessivo.
Como no dia que disse que não suportava mais o meu ciúme.
Como no dia que avisou que ia embora.
E argumentei sobre nosso romance.
Dos nossos sonhos, nosso futuro.
E mais uma vez, você disse que nosso futuro terminava nesse dia.
Parecia que estava decidida, e como te conheço, sabia que não ia voltar atrás.
Então um homem, quando se mostra romântico, é ciumento? Possessivo?
Ela respondeu que precisava conhecer outras pessoas.
Não era uma ilha para se isolar do mundo.
Queria ser um arquipélago.
Ah, queria tanto que estivesse ao meu lado agora...
Mas você foi embora.
Ignorou minhas súplicas, ignorou meu amor.
Me ignorou.
Suas palavras eram balelas. Esse negócio de ilha, solidão, tudo cascata.
A mentira tem perna curta.
Não foi difícil descobrir que me traía com outro.
E o pior...
Ainda zerou minha poupança. Minhas economias foram para o espaço.
Me deixou à míngua.
Podia te perdoar se fosse só pelo dinheiro.
Mas gastar com outro... isso que não!
Por isso, fiz o que tinha que ser feito.
Só me arrependo porque agora sei que nunca mais vou ter você ao meu lado.
É...
Preciso ir. Mas antes que suma do mapa, vou procurar seu amiguinho.
Ele vai ter que me devolver cada centavo que surrupiou.
Só não vou enterra-lo com você. Esse vai para outro lugar.
Como queria ter você ao meu lado...
Mas talvez esteja certa.
De repente preciso aceitar mais a realidade.
Do que ficar vivendo na ilusão.
As ondas batendo na areia... deixando rastros...
Será que algum dia vão acha-la?
Não sei.
Mas talvez eu vá lá te fazer uma visita.
Tê-la ao meu lado, pelo menos em um instante...

Rogerio de C. Ribeiro



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