SE
VOCÊ ESTIVESSE AQUI AO MEU LADO AGORA
Ah,
se você estivesse aqui ao meu lado agora..
Teria
tanta coisa para falar. Por exemplo, diria das ondas arrebentando na areia
nessa noite. E das estrelas que pontilham o céu ao lado da lua cheia. Por falar
em lua, você ia gostar do seu reflexo no mar escuro. Um lindo contraste azulado
que flutua mansamente nas águas.
É,
você ia gostar dessa cena. Sempre foi romântica.
Por
isso que eu escrevia poesias em sua homenagem.
Mas
agora você não está aqui no meu lado.
Não
faz mal. Guardo comigo lembranças maravilhosas do tempo que passamos juntos.
Como
da vez que viajamos para aquela pousada na serra. À noite, nos aconchegávamos
embaixo do cobertor quadriculado enquanto saboreávamos o fondue de queijo, com
uma garrafa de vinho tinto no lado.
Eu
ficava te admirando, enquanto você comia o fondue, admirando sua pele morena,
seus cabelos pretos encaracolados, o brilho dos seus olhos e das suas grandes
pestanas, seu nariz arrebitado, seus dentes que pareciam pérolas, você usando
aquele pulôver rosa, e sua touca que quase chegava na sobrancelha. Mas o que mais
gostava de ver, era da aliança de ouro que adornava seu dedo esquerdo. E quando
ria; era um riso gostoso, um riso que vinha direto da sua alma, uma risada
sincera!
Sinto
muita falta da sua inteligência. E da sua perspicácia. De sempre poder antecipar
o que vinha pela frente.
Como
na vez que ia investir minhas economias em um negócio. Pedi sua opinião, e a
princípio, você não quis opinar nada, mas diante da minha insistência, você
acabou dizendo que seria furada.
Não
gostei quando me disse que o fulano não era flor que cheirasse. Argumentei,
dizendo que o fulano em questão era meu amigo de infância. Ela contra-argumentou
dizendo que era por isso não queria opinar, já que o fulano era amigo, mas como
insisti, ela falou o que sentia.
Quando
fui me encontrar com fulano, tinha mudado de ideia. Fiquei com dúvida depois
que ela falou. Bem, perdi um amigo de infância. Mas mantive meu dinheiro na
poupança.
Queria
tanto te ter aqui, nós dois abraçadinhos, em pé aqui na praia, só com a lua e
as estrelas nos fazendo companhia. A minha vontade era dizer, a lua e as
estrelas como testemunhas do imenso amor que existe entre nós! É uma frase tão
bela. Uma frase que expressa a nossa vida!
Você
jurou que nosso amor seria infinito. Eu acreditei nessas palavras. Éramos só
nós dois, sem mais ninguém conosco. Sem pais, irmãos, tios, primos, sobrinhos,
filhos... Só nós. Vivendo nossa vida como um conto de fadas com final feliz.
Mas
não existe eterna felicidade... Você me disse isso, e eu não acreditei.
A
ilusão fazia parte da minha realidade. Imaginei um enredo que tornou-se
realidade.
Levava
flores quando chegava em casa. Você ria, me abraçava, largava o que fazia e
íamos para a cama, sermos um só.
Escrevia
poemas e os declamava como um seresteiro, enquanto você ouvia inebriada, com
seus amendoados olhos de gigantescas pestanas rasos de lágrimas cristalinas. Se
emocionando com a verdade que embutia as entranhas de cada simétrica, cada
rima, cada verso.
Planejávamos
nosso futuro, e eu enxergava nossa velhice, caminhando de mãos dadas pelo
calçadão da praia, bebendo água de coco, enquanto a nova geração de enamorados
circulavam entre nós. Mesmo com suas rugas, seus cabelos prateados, da sua
surdez, para mim continuava a mesma que conheci, e para mim, continuava
exalando o frescor da sua juventude.
Sonhos...
sonhos...sonhos...
Mas
chega uma hora que acordamos do sonho. E precisamos encarar a realidade, por
mais dolorida que seja.
Como
na vez que você me disse que estava cansada.
Como
no dia que me disse que eu era possessivo.
Como
no dia que disse que não suportava mais o meu ciúme.
Como
no dia que avisou que ia embora.
E
argumentei sobre nosso romance.
Dos
nossos sonhos, nosso futuro.
E
mais uma vez, você disse que nosso futuro terminava nesse dia.
Parecia
que estava decidida, e como te conheço, sabia que não ia voltar atrás.
Então
um homem, quando se mostra romântico, é ciumento? Possessivo?
Ela
respondeu que precisava conhecer outras pessoas.
Não
era uma ilha para se isolar do mundo.
Queria
ser um arquipélago.
Ah,
queria tanto que estivesse ao meu lado agora...
Mas
você foi embora.
Ignorou
minhas súplicas, ignorou meu amor.
Me
ignorou.
Suas
palavras eram balelas. Esse negócio de ilha, solidão, tudo cascata.
A
mentira tem perna curta.
Não
foi difícil descobrir que me traía com outro.
E
o pior...
Ainda
zerou minha poupança. Minhas economias foram para o espaço.
Me
deixou à míngua.
Podia
te perdoar se fosse só pelo dinheiro.
Mas
gastar com outro... isso que não!
Por
isso, fiz o que tinha que ser feito.
Só
me arrependo porque agora sei que nunca mais vou ter você ao meu lado.
É...
Preciso
ir. Mas antes que suma do mapa, vou procurar seu amiguinho.
Ele
vai ter que me devolver cada centavo que surrupiou.
Só
não vou enterra-lo com você. Esse vai para outro lugar.
Como
queria ter você ao meu lado...
Mas
talvez esteja certa.
De
repente preciso aceitar mais a realidade.
Do
que ficar vivendo na ilusão.
As
ondas batendo na areia... deixando rastros...
Será
que algum dia vão acha-la?
Não
sei.
Mas
talvez eu vá lá te fazer uma visita.
Tê-la
ao meu lado, pelo menos em um instante...
Rogerio
de C. Ribeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário