Translate

sexta-feira, 20 de junho de 2014

O PRÊMIO CAPÍTULO 14

No capítulo anterior: A portuguesa segurou os braços de Mônica, tentando desesperadamente tirar aquelas mãos geladas do seu pescoço. Ela arregalou os olhos e os lábios se moviam freneticamente, mas não saiu nenhum fiapo de voz.
- Cospe logo! Fala onde esconde sua fortuna, senão quebro teu pescoço e eu mesma vou procurar!
O rosto de Guiomar tomou uma forma púrpura, e ela, em ato de desespero, enfiou suas unhas e arranhou o rosto de Mônica. 

Capítulo 14

Com um grito de raiva, Mônica soltou suas mãos do pescoço da portuguesa e esfregou o arranhão embaixo do seu olho direito. Uma risco vermelho, salpicado de sangue, ficou naquela face anêmica.
- Sua puta velha! - Mônica disse, babando de ódio.
Guiomar bateu com o seu cotovelo nas costelas de Mônica, que dobrou-se de dor. A portuguesa tentou se levantar, porém Mônica se recompôs, e a empurrou novamente para a cama.
- Desgraçada...
- Socorro... - o fiapo de voz de Guiomar saiu baixa e rouca.
- Não adianta pedir socorro, velha safada. Vamos ver se agora não vai me contar onde esconde seu dinheiro!
Mônica levantou-se da cama deixando Guiomar ainda deitada, e caminhou até uma penteadeira em frente; abriu todas gavetas e foi espalhou pelo chão tudo que encontrou. Da cama, Guiomar massageava seu pescoço inchado. Mônica virou-se para ela, a expressão que transmitia no rosto era demoníaco, e ameaçou:
- Isso no pescoço não é nada em comparação do que vou fazer se não me disser onde guarda sua fortuna! - Mônica tinha os lábios retorcidos e sua aparência era grotesca com os cabelos oleosos colados na testa. - Por quê fica guardando tanta porcaria nessas gavetas? - Pegou um punhado de calcinhas e disparou todas na direção da cama. - Que merda!!!!
O tempo voava e daqui a pouco Felipe e Mateus chegariam do colégio. Uma parte dela avisou que ainda tinha que preparar o almoço deles. Mas não contava com a teimosia da velha! Achou que as coisas iam correr com mais facilidade...
(Para atingir seu objetivo, vai ter que superar os obstáculos. Nada na vida é fácil... Use sua pouca inteligência para reverter uma situação difícil em facilidades!)
Seus olhos giravam das órbitas como se buscasse alguma coisa. Um fio transparente de saliva escorria no canto dos seus lábios. De repente fixou o olhar em algo. Achou o que queria.
Sobre a penteadeira, haviam vidros de perfumes e alguns objetos de enfeite. Entre os objetos, viu um peso de papéis de cor dourada em cima de algumas contas, e pegou-a. Voltou para a cama, agarrando o objeto pesado. Arrancou o cobertor que ainda cobria Guiomar e jogou-o para trás. Os olhos brilharam quando viu os joelhos inchados da artrose e comentou, com um leve tique nervoso no canto dos lábios:
- Primeiro bato no direito. Se continuar com sua teimosia, depois arrebento o esquerdo também!
Guiomar guinchou:
- Mônica!!! Não tem nada aqui ... Pelo amor de Deus, não faça isso... Meu Deus...
- E aí, estou esperando - disse Mônica, enquanto jogava o peso para o alto. 
- Isso é loucura, Mônica! O que tá havendo com você?
- Vai saber - Mônica sentou-se na beira da cama.
Mônica ergueu a mão que agarrava o peso de papéis e desceu com força sobre o joelho direito de Guiomar. Quando o peso atingiu a perna inchada, fez-se um som de algo quebrando; Guiomar arregalou os olhos e tentou gritar, mas mais uma vez não conseguiu emitir nenhum som. A pele do joelho abriu-se como uma fenda e uma mistura de sangue com pus escorreu pelo lado perna, manchando o lençol branco. Mônica viu um pedaço de osso rasgando a pele.
Guiomar desmaiou. Mônica não contava com isso. Largou o peso de papéis ensanguentado em cima da penteadeira e saiu do quarto. Precisava respirar ar puro, sair daquele ambiente fechado e abafado, que fedia a urina e sangue.
Foi ao banheiro e se olhou no espelho. O arranhão embaixo do olho inchara, e havia alguns pontinhos de sangue coagulado. Girou a torneira e molhou o rosto com bastante água gelada. Depois apoiou as duas mãos na pia e mirou o espelho novamente. A água fria deu uma aliviada na ardência que sentia, mas ela não reconhecia mais aquele rosto do espelho. Por algum motivo, sua boca continuava torta, e o olho esquerdo desandou a piscar freneticamente.
- Tudo culpa da velha. Se ainda colaborasse, nada disso ia acontecer...
(Acreditou mesmo que ela ia entregar o dinheiro de bandeja para você? Só porque você é a vizinha que nunca se intrometeu com a vida dela? Ah, Mônica, quando penso que ficou esperta, ainda me mostra que continua tão burra como antes! Ela tem dinheiro escondido. Adroaldo disse isso pra você... Ou ele se enganou?
- Eu não sei mais nada - disse Mônica, ainda contemplando o rosto de uma estranha, no outro lado do espelho.
(Ai, ai, ai... Não comece agora com esse negócio de crise na consciência. Agora é tarde, minha querida. O caldo entornou.)
- Se ela não me disser onde guardou o dinheiro...
( Se ela não disser, foda-se. Você procura. Só que antes tem que dar um jeito nela. Senão, quem vai se foder nessa história toda vai ser você.)
- Não sei se consigo - disse ela para a mulher do espelho. Os braços que apoiavam na pia do banheiro tremiam descontrolados.
(Consegue... Já estourou o joelho dela... E quando fez, não teve nenhuma crise de consciência.)
A voz que retumbava dentro dela como eco, estava coberta de razão. Mônica respirou fundo, soprou o ar, e disse:
- Vou terminar logo... Daqui a pouco os meninos chegam e vão estranhar minha ausência.
(Por isso que gosto de você, minha princesa. Como sempre agindo como uma mãe dedicada e zelosa para sua família.)
Mônica ignorou o sarcasmo da voz, deu as costas para o espelho e saiu do banheiro. Se alguém a visse agora, andando com os ombros caídos, curvada, iam se assustar com aquela aparência medonha. Mônica ajeitou os fios de cabelos grudados da testa e entrou na cozinha. Na pia encontrou um faqueiro com vários tipos de facas; pegou a maior e saiu arrastando a sapatilha pelo sinteco segurando um facão que balançava ao lado de sua perna.
Voltou para o quarto e Guiomar continuava desmaiada. Largou o facão em cima do colchão da cama e depois agarrou a portuguesa pelos flancos e jogou-a no chão. Guiomar caiu como um pacote flácido, e ficou estirada de costas. Sua perna direita era uma massa torta e disforme, e Mônica preferiu não olhar a sangueira para prosseguir com o planejado.
Enfiou o facão no colchão até o cabo, e foi rasgando-o. Espumas brotaram dentro dele. Ela foi riscando, rasgando, catava as espumas e jogava-os para os lados. Todo seu corpo doía com o esforço, aliado ao calor, que era sufocante.
Enxugou a testa encharcada de suor com a costa da sua mão livre, e disse para si mesma:
- Para mim estava no colchão!
Mônica estava ajoelhada em cima do colchão dilacerado, com pequenos flocos amarelos de espumas grudados pelo seu corpo magro, quando ouviu o som rouco vindo do chão atrás dela. Ela virou-se para trás e viu Guiomar acordada, se rastejando pelo tapete com os cotovelos, indo para a porta aberta do quarto.
- Ah, não vai fazer isso, não, velha escrota!
Agilmente, deu um salto do colchão esfarrapado e caiu com seus joelhos nas costas de Guiomar. Teve a impressão que ouviu  um barulho de ossos se deslocando dos braços da portuguesa. Os cotovelos que apoiavam o tapete giraram pelos lados, e Guiomar bateu com o rosto no chão. Mônica agarrou e puxou os cabelos crespos da portuguesa, levantou o rosto e com a outra mão que segurava o facão, encostou a ponta entre os olhos dela:
Mônica perdeu a paciência. Gritou:
- Fala logo onde está a porra do dinheiro!

Continua...

No próximo episódio: Será que Guiomar fala? 

Rogerio de C. Ribeiro


Nenhum comentário:

Postar um comentário