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segunda-feira, 23 de junho de 2014

O PRÊMIO CAPÍTULO 15

No capítulo anterior: Agilmente, deu um salto do colchão esfarrapado e caiu com seus joelhos nas costas de Guiomar. Teve a impressão que ouviu  um barulho de ossos se deslocando dos braços da portuguesa. Os cotovelos que apoiavam o tapete giraram pelos lados, e Guiomar bateu com o rosto no chão. Mônica agarrou e puxou os cabelos crespos da portuguesa, levantou o rosto e com a outra mão que segurava o facão, encostou a ponta entre os olhos dela:
Mônica perdeu a paciência. Gritou:
- Fala logo onde está a porra do dinheiro!

Capítulo 15


- Não... Não tenho fortuna nenhuma...
A ponta da lâmina encostou na pálpebra de Guiomar, fazendo um pequeno corte superficial. A portuguesa soltou um guincho feito um rato acuado.
Ainda com os cabelos da portuguesa entre seus dedos e levantando a cabeça de Guiomar, Mônica ameaçou:
- Você está fazendo de tudo para dificultar uma coisa que na verdade é bem simples, Guiomar. Não quero mais te machucar. Sei que você existe uma fortuna aqui dentro, então para de ficar negando, porque eu tenho mais coisas pra fazer lá em casa! Pense só em uma coisinha: Posso te matar agora e depois procurar o que eu quero com mais calma. Só que não quero fazer isso contigo. Olha, confesso que nunca gostei de você, sempre te achei fofoqueira e metida, mas isso nunca foi motivo prá acabar com sua raça. Só que as coisas agora são diferente. Estou vendo que além de fofoqueira, é uma velha teimosa. Não tem medo de morrer, merda?
Com o pescoço torcido e o rosto virado para o alto, Guiomar cuspiu as palavras:
- Vai...se...foder...filha...da...pu...
Mônica agiu instintivamente.
- Não xingue, velha desgraçada!
Bateu com o cabo do facão na testa de Guiomar, que gritou:
- Tá bom... Eu... falo! Chega...o que você fez comigo, Mônica? Não estou sentindo meu joelho...
Mônica largou os cabelos de Guiomar, que bateu com o lado da face no tapete. Mônica tirou alguns fios que grudaram entre seus dedos e se levantou. Ordenou:
- Última chance.
- Não sei de onde você tirou essa ideia que escondo dinheiro em casa - disse Guiomar, deitada com o rosto virado, e movendo sua boca com dificuldade. - Nunca guardei dinheiro aqui. Não sou maluca!
Mônica não acreditou.
- Já te disse pra não me enrolar...
- Pegue o meu cartão do banco na carteira. É lá que costumo guardar meu dinheiro, Mônica. Como todo mundo, guardo no banco!!!
- E o que vou fazer com seu cartão? - Mônica andava de um lado ao outro batendo com a lateral do facão na palma da sua mão. - Quem me garante que vai passar a senha certa?
Guiomar:
- Não vê minha situação, garota? Acha que estou em condições de ficar barganhando? O que preciso agora é de um médico pra olhar meu joelho!
Mônica ainda não tinha se dado por satisfeita. Jogou o facão em cima da cama dilacerada, abaixou-se, apoiando um joelho no tapete em frente a cabeça da portuguesa e apontou:
- Olha só, alguma coisa me diz que você só tá querendo ganhar tempo. Não sei pra quê. Pelo que estou sabendo, ninguém nessa rua vai muito com tua cara mesmo. Se eu quiser posso ficar aqui o dia inteiro com você que ninguém ia sentir sua falta. - ela pensou um pouco e continuou: - O problema é que meus filhos vão sentir minha falta. E se eu demorar, é até provável que eles falem com o pai deles de noite, sobre o dia que chegaram em casa e não encontraram mamãe sorrindo com o almoço pronto. Aí que mora o xis da questão. Tudo ficaria mais simples se você me dissesse: Mônica, a minha fortuna está enterrada dentro de uma caixa no quarto de hospedes e o pedreiro cimentou por cima. Então, eu ia lá, quebrava a droga do chão e acabou o assunto, o meu problema estaria resolvido. Mas aí vem você pra cima de mim e fica negando, negando, negando, mesmo apanhando que nem cachorra, mesmo com essa bodega de joelho arrebentado, insiste negando de me contar onde esconde a grana. Pois bem, vamos ao ponto que me falou que guarda tudo no banco. Vamos fingir que acredito nessa nova versão. Por mais que me ache burra, digo que está enganada sobre isso. Não sou burra e nem teimosa. Sou até compreensiva. Vou te dar um crédito. Você passa a senha, eu vou no banco e saco seu dinheiro... enquanto isso, te deixo aqui no seu quarto quietinha, até que eu volte com seu dinheiro na minha bolsa. Mas se eu chegar no banco e a senha der erro, volto mais rápido ainda e te corto em pedacinhos... juro por tudo que é mais sagrado!
Mônica pegou uma das bolsas que Guiomar apontou e pegou um cartão do banco e uma caneta esferográfica. Arrancou uma página da caderneta de endereços e perguntou qual era a senha. Guiomar disse. Depois que anotou, abriu a porta do armário de quatro portas e tirou um lençol, que cortou em tiras. Mais uma vez botou um dos joelhos nas costas de Guiomar e amarrou as mãos da portuguesa e as pernas. Fez um montinho com o lençol em tiras e enfiou na boca da portuguesa, e passou uma tira em volta amarrando em dois nós bem apertados.
Os olhos de Guiomar brilhavam em desespero e Mônica, depois de sacudir os pedacinhos de esponja dos seus cabelos e nas roupas, disse:
- Volto mais tarde. Comporte-se.
Mônica saiu rápido, deixando para trás a baderna que deixara no quarto.
Com o cartão e a senha do banco escondidos no bolso de sua bermuda, ela saiu da casa de Guiomar pelos fundos e quando chegou no portão, confirmou se não havia ninguém na rua. Ainda continuava deserta. Caminhou rápido pela calçada até sua casa.
Quando entrou em casa, eram onze horas e quarenta e cinco minutos. Correu para a cozinha e pegou do armário três pacotes de macarrão instantâneo. "Hoje vai ser miojo, e olhe lá... Mamãe tá muito ocupada hoje!"
Enquanto a água esquentava na panela, ela foi ao quarto dos meninos. Viu Daniel num profundo sono, ressonando levemente. "Bom menino..."
No momento que Felipe e Mateus chegaram do colégio, Mônica acabava de arrumar a mesa do almoço.
- Só tem miojo, manhê? - Perguntou Mateus enquanto jogava sua mochila no chão da sala.
- Que é isso no teu rosto? - Felipe apontou o arranhão que tinha embaixo do olho.
- Não é nada - disse Mônica, nervosa, enquanto enchia os pratos de macarrão com sabor galinha caipira.
- É um machucado, e bem feio! - Impressionado, Felipe tentou tocar no arranhão. Mônica largou a panela e o pegador de prata, que espatifaram no chão, espalhando macarrão ano pé da mesa.
- TIRE ESSE DEDO NOJENTO EM CIMA DE MIM!!! - Ela gritou e Felipe encolheu a mão, assustado. Nunca em seus 9 anos de vida, sua mãe levantou a voz para ele. Mateus fez um beicinho de choro e seus olhos marejaram. - PELO AMOR DE DEUS, UMA VEZ NA VIDA NÃO PODEM FICAR QUIETOS?!!
Mônica abaixou-se e pegou com as mãos o macarrão do chão e jogou-os dentro da panela. Quando se levantou, disse:
- Comam o que tem no prato, e é só isso que vão ter até o jantar! Depois vão assistir televisão. Vou ter que sair, mas não demoro.
Mateus levantou um dedo e Mônica perguntou, ríspida:
- O que foi agora, Mateus?
- Cadê Daniel? - Perguntou Mateus, timidamente.

Continua...

No próximo capítulo: Neném tá dormindo e mamãe enfrenta fila no banco!

Rogerio de C. Ribeiro

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