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quarta-feira, 25 de junho de 2014

O PRÊMIO CAPÍTULO 16

No capítulo anterior: Mônica abaixou-se e pegou com as mãos o macarrão do chão e jogou-os dentro da panela. Quando se levantou, disse:
- Comam o que tem no prato, e é só isso que vão ter até o jantar! Depois vão assistir televisão. Vou ter que sair, mas não demoro.
Mateus levantou um dedo e Mônica perguntou, ríspida:
- O que foi agora, Mateus?
- Cadê Daniel? - Perguntou Mateus, timidamente.

Capítulo 16

Mônica deu de ombros e disse:
- Tá dormindo. Façam  o tô mandando. Vou precisar sair.
Ela ia dar um passo, mas lembrou-se de uma coisa. Virou-se de repente, e os dois meninos, sentados em suas cadeiras com o miojo frio no prato, encolheram-se assustados. Mônica apontou o dedo e disse:
- Prestem bem atenção no que vou falar. Eu não quero que façam nenhum comentário com o pai de vocês do que houve agora. Nem de que eu saí. Se suas línguas coçarem para fazer fofoca, juro por tudo que é mais sagrado, que eu não vou perdoa-los. Nunca mais falo com nenhum dos dois!
- Manhê... - murmurou Felipe.
- E não tem essa de "manhê"! - zombou Mônica, imitando o jeito como Felipe falava. - Já ouviram! Quando eu for pegar meu prêmio, desapareço. Nunca mais vão saber de mim! Vocês entenderam, ou vou precisar repetir?
- Prêmio? - Mateus perguntou, intrigado.
Mônica bateu a panela que segurava pelo cabo na mesa, e explodiu de novo:
- O meu prêmio! Só meu! Se prometerem que serão bonzinhos, mamãe até divide com vocês, mas se não obedecerem... - deixou no ar.
Felipe e Mateus entreolharam entre si e parecia que diziam: Que prêmio?
Embaixo do chuveiro, Mônica deixou a água fria correndo pelos seus cabelos até os pés. Esfregou seu corpo com uma bucha, deixando a pele vermelha. Tinha que tirar a sujeira que fizera nessa manhã na casa de Guiomar. Ela apoiou as duas mãos na parede de ladrilhos brancos e agradeceu pela água batendo nas suas costas.
- O que fiz foi horrível - ela disse.
(Não foi nada horrível. Foi necessário.)
A pressão da ducha batia forte nas suas nádegas secas:
- Sei que era necessário... mas o dinheiro dela está guardado no banco...
(E agora você tem o cartão e a senha, minha princesa!)
- Vou no banco, mas só posso pegar uma quantia na máquina...
(Pare com essa mania que tem de ficar se martirizando, garota! Daqui a pouco você está completando o álbum e sua vida, depois disso, mudará!)
- Será que muda mesmo? - Ela abriu mais o registro e a água aumentou de pressão; aos seus pés, uma água turva escorria pelo ralo.
(Claro! Agora que começou, tem que acabar! Ou vai dar o gostinho pro seu marido rir de você? De falar que você é lunática, que vive no mundo da lua? Que vive sonhando?)
Viu Adroaldo e os seus filhos caçoando dela. Eles apontavam e soltavam gargalhadas. Mônica tremeu e fechou o registro. Com raiva, pegou sua toalha e foi molhada, para o quarto de casal. Abriu o armário, separou um vestido leve e murmurou:
- Nunca mais vão rir de mim!
(Isso aí, princesa! Que eles se fodam!)
Arrumada e perfumada, Mônica vestiu um vestido verde e carregava pendurado no ombro uma bolsa pequena. Felipe e Mateus decidiram obedece-la, agora assistiam tevê, e bem quietos. Mônica usava um rabo de cavalo e passou bastante maquiagem no rosto, especialmente no arranhão para disfarçar. Ela disse:
- Estou indo, mas não demoro muito.
Sentado de frente a tevê, Felipe virou-se para a mãe e perguntou:
- Manhê, são quase duas horas e Daniel ainda está dormindo.
Ela tinha se esquecido do caçula. Na pressa do almoço, nem foi vê-lo no quarto. Ela sacudiu a mão e respondeu:
- Não sabe que seu irmão já nasceu preguiçoso? Assim que acordar, prepare uma mamadeira de Nescau para ele. 
- Mas não é estranho? Daniel nunca dormiu tanto...
- Não tem nada de estranho, Felipe. Isso é coisa da sua cabeça. Tá botando chifre na cabeça de um cavalo! Se quer o pior, pense no pior. Se quer o sucesso, pense na vitória.
Felipe não entendeu nada do que ouviu da mãe. Mônica acenou com os dedos e disse:
- Não abram a porta para estranhos. Beijos. Mamãe ama vocês!
Ao sair, trancou a porta por fora. Saiu caminhando em direção do ponto de ônibus; sua intenção era o centro da cidade. Passou pelos vizinhos, alguns sentados em cadeiras de praia nas calçadas se abanando, tentando aliviar um pouco daquele calorão infernal que fazia nesta tarde, e ela ignorou todos. Fez a volta por trás da banca de jornais do Jorge, e atravessou outra rua. Na rua principal, ficou sozinha no ponto de ônibus sentindo a brisa quente da tarde que batia no seu rosto. Esse vento significava sua liberdade, e ela sentiu-se feliz com aquele momento. Até semana passada, não sabia o que era sair assim, livre dos filhos, do marido egoísta. Fez sinal ao ônibus que vinha; quando pagou a passagem, percebeu que atraía olhares famintos sobre ela. Linda, cheirosa, vitoriosa... era assim que se sentia. Logo, sua vida seria dessa forma. Depois que ganhasse o prêmio, tudo seria colorido. Atrairia os homens, as mulheres se roeriam de inveja, Niterói seria pequeno para ela!
Saltou na Avenida Amaral Peixoto, em frente do Banco do Brasil. A multidão que trafegava nas largas calçadas a ignoravam; nesse momento era isso que queria; não podia correr o risco de se encontrar com algum conhecido. O anonimato era útil naquele momento.
Na agência do banco do Brasil, entrou na fila do caixa automático. Oito pessoas na sua frente. Mônica pegou o papel dobrado com a senha anotada da sua bolsa, e ficou repetindo para si mesma, na esperança de memoriza-la. Segurava o cartão na outra mão, que suava, apesar do ar condicionado central.
- Ali - apontou um homem atrás dela. Ela pulou, assustada. - Na cinco.
- Obrigada - disse Mônica, e lançou um sorriso charmoso, exibindo seus dentes manchados de batom sem saber.
Ela desfilou até a caixa eletrônica. Enfiou o cartão no compartimento, e na tela apareceu várias opções. Apertou saque e esperou.
Esperou uma eternidade, até que surgiu: DIGITE SUA SENHA.
Com um trêmulo dedo, clicou em seis números.
Aguardou.
A impressão que tinha era que a observavam, que...
(Eles sabem o que você fez...)
Seu coração batia descontrolado dentro do seu peito. Um nó apertou sua garganta.
Fingiu que se mostrava desinteressada, tediosa, enquanto aguardava. E na tela surgiu:
SENHA INCORRETA.
Agora, além do coração dando cambalhotas feito louco dentro dela, eram as pernas bambas. O suor que escorria pelo rosto deixou rastros da maquiagem, mas ela nem sentiu. Respirou fundo, pegou novamente o papel e foi digitando cada número pausadamente...
TEMPO ESGOTADO. - Apareceu na tela.

Continua...

No próximo capítulo: Será que Mônica vai ser descoberta com o cartão roubado?

Rogerio de C. Ribeiro

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