Caiu em um sono profundo, sem se lembrar da sacola de plástico abarrotada de figurinhas repetidas que foi jogada ao lado da máquina de lavar.
Capítulo 10
Depois
que Felipe e Mateus foram à escola e Adroaldo para a imobiliária, Mônica aproveitou para por seus pensamentos em ordem. Sentada no sofá com o pequeno Daniel no seu colo, o menino chupava o dedo polegar e via desenho na tevê. Mônica tinha seus olhos diretos na televisão, mas
sua mente voava bem longe dali.
"Como
vou entrar? A velha nunca sai da frente da casa, e quando sai, no máximo é para ir
no Emanuel ou no Jorge. Se ela não está varrendo a calçada, fica enfurnada lá
dentro. E como vou saber onde ela esconde o dinheiro?"
Não adiantava questionar nada, porque no momento havia Daniel. Ela observou seu filho caçula, que mostrava a ela como sabia dar cambalhotas no sofá, sem se machucar. Era mais um
empecilho. Mais uma pedra no seu caminho.
Mônica
deixou Daniel com suas cambalhotas, levantou-se e abriu a porta da sala. Olhou a rua
deserta naquele momento e sentiu o calorão que já castigava logo cedo. Não eram
nem nove horas e o lugar parecia o inferno.
"Ela deve estar em casa. Dona Guiomar nunca foi de aguentar o calor. Só pras quatro horas que ela sai para varrer a calçada..."
-
Mama...Mama...
"E o Daniel, com quem posso deixar?"
Ela
escutou a voz que vinha no seu lado:
(Larga o pivete no chiqueirinho e vá, aja logo!)
Mônica não se surpreendeu quando ouviu a voz. A sensação era que essa voz amiga sempre estivera ao seu lado, a voz doce e persuasiva de Damiano Lescarter.
-
Não sei... com ele, toda atenção é pouca. Daniel tem predisposição de ficar enfiando os dedos nas tomadas pra ver se leva um choque ou não...
(Dopa o pestinha, assim ele apaga e você vai ter todo tempo do mundo para fazer o que precisa!)
Mônica
virou-se. O seu filho tinha descido do sofá e andava, com as pernas
arqueadas, em direção da televisão.
(Olha aí, é por causa dele que
você não vai ter sucesso nenhum! Viva Daniel, o grande responsável pela mediocridade da Mônica! Não é seu marido e nem os meninos maiores que atrapalham sua vidinha inútil. O nome para o seu
fracasso se chama Daniel!!!)
-
Ele é uma criança..
(Ele é o primeiro obstáculo para você superar.
Se quer atingir seu apogeu, dê um jeito nesse pentelho agora!)
Daniel
sentou-se no chão ao lado da televisão e pegou o fio que levava à tomada. Ele dava gargalhadas, enquanto balançava o fio. Estática, Mônica observava.
Os olhos dela pareciam apáticos, bovinos.
(Já que não quer botar o pentelhinho pra dormir, então saia de casa, tranque a porta e vá logo para a casa da
portuguesa. Deixa o moleque brincando um pouco com eletricidade... Se morrer torradinho, é menos
um pra se preocupar...)
Mônica
segurou a maçaneta da porta e chegou a dar um passo para a varanda, mas seu
instinto maternal acordou-a do seu torpor. Voltou correndo, e pegou Daniel no colo.
-
Não pode mexer no fio, Daniel! Dá dodói em neném. Vamos ver desenho.
Deixou
o menino no sofá e disse:
-
Mamãe vai fazer mamadeira bem gostosinha pro meu menininho. Fica aí
sentadinho e bem comportado, que mamãe já vem!
Daniel
bateu palmas e abriu a boca, onde alguns dentinhos enfeitavam as gengivas.
Mônica foi para a cozinha.
Pegou
a mamadeira, encheu de leite com Nescau e disse alto:
-
Hummmm... Vai ficar tão gostoso...
Deixou
a mamadeira em cima da mesa e saiu da cozinha. Obediente, Daniel continuava sentado com as pernas cruzadas em cima do sofá, e batia palmas para ela.
-
Peraí que mamãe esqueceu uma coisinha muito gostosa pro meu neném!
Ela
caminhou até o banheiro, abriu as duas portas do armário sobre a pia e procurou
o que queria. Mexeu nas escovas de dentes, esbarrou em um tubo de fio dental
que caiu no chão, olhou alguns comprimidos e acabou encontrando:
uma cartela de Mellodyn, um calmante que às vezes usava quando tinha insônia.
Continua...
No próximo capítulo: Não é tão fácil botar uma criança para dormir...
Rogerio de C. Ribeiro
Continua...
No próximo capítulo: Não é tão fácil botar uma criança para dormir...
Rogerio de C. Ribeiro
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