Bom dia aos leitores insistentes.
Mais uma vez estou aqui para contar como vieram as
ideias dos contos que publiquei nessa semana, O Espetáculo e Para Sempre Sueli.
Antes disso, quero falar um pouco da
"novelinha" que estou postando desde semana passada.
Ontem, sexta-feira, publiquei o oitavo capítulo das
desventuras de uma dona de casa reprimida, tediosa, submissa ao marido e os
filhos, e que vislumbra o sucesso e a autonomia depois de completar um álbum de
figurinhas e ganhar o tão desejado prêmio.
Bem, os primeiros capítulos quis mostrar o dia a
dia de Mônica e suas frustrações internas. Para que a história não fosse como
alguns contos de terror, onde a ação já começa no primeiro parágrafo, decidi
escrever as primeiras cenas cautelosamente, primeiro mostrando os personagens,
e depois que todos se acostumassem com quem era quem, iniciar a história em si.
Já disse antes que O Prêmio seria um conto de dez, quinze páginas no máximo.
Mas quando dei por mim, já tinha chegado na página 40 e não tinha acontecido
ainda o que eu tinha planejado anteriormente.
Só sei que a partir da semana que vem, depois do
nono capítulo, Mônica vai arregaçar suas mangas, e quem estiver acompanhando a
história, viajará na sua loucura. Ou não.
Agora vou contar, como já é hábito, como vieram as
ideias para esses dois contos abaixo:
Para Sempre Sueli - Conto escrito em 1996, ano
prolífico onde escrevi mais de cem contos. Como sempre, primeiro veio o título
na minha cabeça e datilografei a história com uma ideia vaga, que foi clareando
conforme os paragrafos. Não vou extender muito sobre o conto para não criar um
spoiler. Para mim foi mais um conto dos anos 1990, e acho que tem histórias
piores que essa.
O Espetáculo - Esse conto foi escrito em 1988. A
ideia do conto foi o seguinte: Utilizei um fato que presenciei, em 1969, e
mesmo com cinco anos, não esqueço até hoje. Eu voltava da casa do meu avô com
minha mãe, irmã, meu irmão recém-nascido e uma amiguinha da minha irmã.
Andávamos pela rua Lemos Cunha, em Icaraí, até nossa casa que ficava a umas
duas quadras. Era noitinha, e naquele tempo em Niterói, a cidade era tranquila.
Quando íamos dobrar uma esquina, apareceu correndo um sujeito com a cara
ensanguentada. No mesmo instante minha mãe colocou todas crianças atrás dela,
mas o carrinho com meu irmão ficou na frente. O sujeito ensanguentado disse:
Lindas crianças..., e num rompante pegou meu irmão e saiu correndo.
Desesperada, minha mãe, mesmo com o sapato de salto alto, foi atrás dele aos
berros. Eu fiquei com minha irmã e a amiguinha no mesmo lugar, grudado na
parede, apavorado. E de repente veio da esquina uma multidão em perseguição do
sujeito. Engraçado que se eu fechar os olhos posso visualizar, 45 anos depois,
os tipos que corriam. Tinha jovens, gordos, mulheres, um cara com a perna
quebrada se equilibrando na muleta, enfim, um turbilhão de pessoas. Para
finalizar, um senhor que morava em uma casa ao lado nos abrigou. Depois soube
que minha mãe, enquanto perseguia o sujeito com meu irmão, caiu várias vezes,
esfolou os joelhos, e o sujeito, quando se viu cercado pela multidão, jogou meu
irmão no chão. O sujeito foi amarrado e linchado. E meu irmão sobreviveu.
Para o conto, utilizei essa cena que presenciei das
pessoas correndo para criar uma situação de linchamento, como se fosse um espetáculo.
A mesma coisa que vi, com cinco anos, daquela multidão que passou na minha
frente... Eles vibravam, pulavam, como se fosse uma festa.
Na semana que vem vou postar dois contos: Notícias
de Última Hora e O Revólver. E no sábado que vem vou comenta-los.
E na outra semana, dia 17 ou 19 de junho, vou
postar um conto que quando escrevi em 1996 e li para algumas pessoas, me
execraram, me chamaram de todos nomes, disseram para rasgar e esquecer a
história. Impossível esquecer, impossível apagar uma ideia. Por mais revoltante
que seja ( e não é só esse, tem outros, mas ainda não estou pronto para postar
), vou publicar Jesus Cristóvão. Se gostarem, bom. Se detestarem, paciência. A
missão de um escritor é escrever, e quando escrevo, procuro ser o mais sincero
possível.
Rogerio de C. Ribeiro
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