Translate

sábado, 28 de junho de 2014

RELEMBRANDO OS CONTOS

Sábado, 28 de junho. Hoje tem Brasil e Chile pelas oitavas de final na Copa do Mundo. Quem perder, volta para casa. Se for o Brasil (não creio que seja agora), a maioria dos jogadores voltam para SUAS mansões, ou regressam para a Europa.
Mas não serei pessimista. O Brasil passa e pronto, depois pega outro sul-americano e dá prosseguimento à sua campanha do hexa.
Mas o assunto de hoje não é sobre a Copa do Mundo. São dos contos que venho publicando nesses dois meses de blog.
Um dia, pesquisei pelo Google sobre blog's de contos e encontrei vários, mas não achei um igual ao meu. Pode ser que até tenha, mas não vi. Os que apareceram foram contos esporádicos, resenhas de livros de autores iniciantes, matérias sobre como criar um conto, um argumento, a forma como DEVE ser escrito uma obra de ficção.
Escrevi a palavra "deve" em maiúsculas de propósito, porque o que notei foi muito blá-blá-blá. Até aceito que alguns escritores iniciantes necessitem de uma orientação para desenvolverem suas histórias. Mas ou estou errado, ou sou egocêntrico demais, mas não compro uma ideia de pessoas que nunca escreveram um romance, ou um conto. Vi que muitos são jornalistas, fizeram zil cursos de técnica de escrita, se consideram phd, analisam detalhadamente uma obra, mas são incapazes de contar uma história.
Para mim, a melhor aula para aprender o básico para escrever, que seja uma obra prima ou um lixo, primeiro de tudo é ler. Ler bastante. Começar a ler (ou no meu caso, antes de aprender a ler, olhar as figurinhas), um livro infantil ou um gibi da Turma da Mônica ou revista da Disney.
Vou falar do meu caso. Meu primeiro contato com um livro, foi no jardim de infância. Eu tinha cinco anos, estudava(?) no colégio Júlia Cortines, que fica ao lado do Campo de São Bento, em Niterói. O livro era Alice no País da Maravilha, e o que me fascinou foi o desenho do gato listrado que sumia e aparecia (não sei o nome dele até hoje). Lembro que pedi aos meus pais mais livros, mas meu pai não comprou nenhum livro, mas me apareceu com revistas do Riquinho, Brotoeja, Bolota, Brasinha... Isso foi em 1968.
Em 1970, conheci a revista Mônica. Nesse ano já sabia ler. Viciei nos quadrinhos. Lia de tudo, principalmente as revistas Mônica, Cebolinha, Luluzinha, Bolinha...
O bom de ler gibis é você acompanhar aquelas pequenas aventuras de seis, dez páginas. Entender o enredo. O começo, meio e fim. Viajar com os personagens.
A influência do gibi era tão grande em mim que, nos meus 12 anos, quis escrever uma história. O nome era Joca, sobre um bandido. Comecei escrevendo, mas na altura da página 5, decidi transforma-lo em quadrinhos. Desenhava e escrevia as falas nos balões dos personagens. Naquela época, era minha praia.
Desenhava (ou rabiscava) cadernos com aventuras de personagens que eu criava. Me divertia com aquilo.
Fora as histórias que eu criava na minha cabeça. Imaginava que eram novelas de trocentos capítulos, inventava personagens e enredo, por mais esdrúxulo que fosse!
Minha primeira lembrança de livro que li foi As Caçadas de Pedrinho. Monteiro Lobato. E sabem de uma coisa? Na época não gostei. Mas li.
Depois vieram as coleções de livros de bolso da Ediouro. Eram livros infanto - juvenis maravilhosos. Tinha um que eu adorava, eram as aventuras de Bira e Calunga. Sobre um menino órfão e seu cachorro que viviam no Rio de Janeiro, sempre se metendo em confusão. Me lembro de um que era sobre uns bandidos que fabricavam salsicha de cachorro! Eu tinha dez anos quando li, e nunca mais me esqueci desse fato!
Com quinze anos, li Dom Quixote. Leitura difícil, mas juro que li ele todo. Logo em seguida li Germinal, de Émile Zolá. Um livro que já li umas três vezes. E depois li O Processo, de Kafka, muito doido para a cabeça de um jovem adolescente.
E confesso: Graças ao estilo naturalista de Germinal, ao absurdo de O Processo, às aventuras de um louco em Dom Quixote, que me deram coragem, e escrevi em 1978, Eu Sou Brasileiro, sobre um nordestino que sonha com o sucesso financeiro na cidade grande. Foi o primeiro manuscrito meu que teve começo, meio e fim, e com lógica.
Voltando ao que dizia lá em cima sobre ensinar a escrever: Isso não funciona para mim. Meus professores foram os milhares de gibis que li, que estimularam minha imaginação, e o contexto de começo, meio e fim de um enredo. Claro que o principal é gostar, e muito, de escrever, criar situações, pensar nos nomes dos personagens, escrever um conto de 7 páginas que tenha sentido... ou escrever um de cento e lá vai fumaça, como agora, que estou publicando em capítulos no blog, as loucuras de Mônica. Meus insistentes leitores que acompanham a série, tenham calma que ainda tem muita coisa aí pela frente!
E para não perder o hábito dos sábados, vou comentar os contos completos que publiquei nessa semana.
DUAS PALAVRAS APENAS, E ADEUS = Conto que publiquei na terça. História que criei nessa semana agora. A  princípio, o título seria  Uma palavra apenas e adeus, mas precisei mudar para duas. Um detalhe sobre o processo desse conto: Pensei no título, escrevi as primeiras palavras, e confesso de coração, não tinha a mínima ideia do que viria em seguida. Fui escrevendo, as palavras foram criando um cenário, daqui a pouco foi o personagem, e logo visualizei o caráter dele. De pronto, como uma psicografia, depois escrevi rápido, em duas horas já estava pronto.
LILICO = Conto de quinta-feira. Essa história também escrevi nessa semana. Só que foi diferente a de cima. Esse conto chegou pra mim completo, e só depois pensei no título. O que me inspirou: Nasci e vivi quase minha vida inteira em Niterói, RJ, e hoje moro no Litoral do Paraná. Pois bem, moro numa casa, com muros de palito de cimento e portão PVC. Todo dia de manhã (isso quando faz sol, claro), sento na minha cadeira, fumo meu cigarro, troco o jornal da gaiola do meu calopsita de 11 anos e brinco com o cão pastor alemão, que pertencia à minha cunhada, mas que adotou minha casa como sua moradia. Bem, estava eu lagarteando no sol (ainda com um pouco de cerração), observando os quero-quero berrando na rua em frente, quando vi um sujeito todo agasalhado sentado em frente do muro numa casa vizinha, no outro lado da rua. E o sujeito se levantou, veio andando em direção do meu portão (e imaginei Bento, o pastor alemão, latindo para ele) e perguntou se eu sabia das horas. A voz dele era infantil, e eu respondi que não sabia, ele deu tchau, meia volta e foi caminhando pela rua de areia e grama, em direção da estrada.
E o jeito dele me inspirou na hora. Pensei: Um mendigo com alma infantil, com habilidade de fazer arte ( o origami veio quando comecei a escrever), primeiro as pessoas desconfiavam dele, depois a criançada ficava amiga dele, e tinha um muro, claro, um muro cercando um terreno baldio, até que certo dia chega operários e constroem uma casa. E o novo morador, quando vê um mendigo sentado na frente do seu muro, faz de tudo para tira-lo dali.
Como disse, esse conto veio com o início, meio e fim. Quando escrevi a primeira palavra, já sabia da última. E foi prazeroso. Quem não leu, leiam. Não é um "era uma vez e todos viveram felizes para sempre", infelizmente a realidade não é um conto de fadas.
Posso estar errado ou sou egocêntrico. Estou repetindo isso porque para escrever não precisa de aulas teóricas, tem que ir logo pra ação. E se sua história vai ser uma obra prima, um best-seller, vai ser adaptado para um filme ou tv, bem, isso não depende só para quem escreve. Depende daqueles que gostam de ler, seja um gibi ou um livro, e que acreditem no seu potencial. Ou na sua diversão!

Rogerio de C. Ribeiro


Nenhum comentário:

Postar um comentário