Translate

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O PRÊMIO CAPÍTULO 13

No capítulo anterior: Enxergou um vulto na cama de casal debaixo de um cobertor. O calor ali dentro era infernal, e o único ventilador sobre uma mesinha, estava desligado. Mônica visualizou algumas mechas de cabelo espalhados sobre o travesseiro, andou lentamente e parou ao lado da cama. Puxou o cobertor para baixo e viu Guiomar, com os olhos semicerrados.

Capítulo 13

- Dona Guiomar, a senhora está passando bem? - Perguntou Mônica, tentando se mostrar preocupada.
Guiomar abriu os olhos. Pareciam duas bolas de fogo. Ela disse com certa dificuldade:
- Febre... Muita febre... Fico assim... Desse jeito, quando a artrose...Ai... Estou com sede...
- Meu Deus, que coisa mais chata! - Agora Mônica se mostrava mesmo preocupada. Com ternura, perguntou: - A senhora quer que eu pegue alguma coisa?
- Água... tem um copo na mesa... - Guiomar apontou seu lado direito. O dedo tremia.
Mônica olhou o copo vazio e comentou:
- Se não sou eu pra sentir sua falta, a senhora corria o risco de ficar desidratada com esse calorão todo...
- Obrigada, Mônica... - E como estivesse se lembrando de algo: - mas, como conseguiu entrar?
- Ah! - Mônica sorriu. - Entrei pelos fundos. Estranhei quando não vi a senhora hoje mais cedo.
Guiomar virou-se e estirou-se com sua proeminente barriga para o alto. Tiritava de frio e mantinha o cobertor até o queixo. Mônica pousou as costas da sua mão na testa da portuguesa e sentiu a quentura.
- Ih, dona Guiomar, a senhora está ardendo em febre. Deve estar com quase quarenta graus.
- Às vezes fico assim... por causa da artrose...Minha garganta está seca...
Mônica sentou-se na beira da cama e disse:
- Posso pegar água, mas...
- Você é muito boa, Mônica... nas outras vezes que caí doente... quando Joaquim era vivo, cuidava de mim... depois sempre me virei sozinha... ninguém se preocupou comigo...
- Mas agora estou aqui, e quero ajuda-la, dona Guiomar - Mônica sentiu pontadas nas suas têmporas, pôs os dedos e massageou lentamente. - Mas para que eu ajude a senhora, antes a senhora vai ter que me ajudar.
Engraçado, pensou Mônica, enquanto olhava para aquela velha fervendo na cama, olhando esse poço de banha espalhado na cama, ninguém ia desconfiar que tava montada na grana... - teve um princípio de risinho insano. Precisou se segurar para não descambar na gargalhada.
Guiomar perguntou, e o som da sua voz vinha seca e longe:
- Ajudar em quê?
- Onde a senhora costuma guardar seu dinheiro? - Mônica respondeu, mansamente. Tinha um semblante preocupado, mas os olhos brilhavam.
Guiomar estranhou:
- Dinheiro... quer dinheiro para comprar remédio? Não precisa, aqui em casa sempre guardo um para baixar a febre, está lá no banheiro... mas melhorar mesmo, só depois que a crise da artrose passar...
Mônica apoiou seu cotovelo no peito de Guiomar e aproximou seu rosto no dela. Sentiu o calor que vinha do rosto da portuguesa e torceu o nariz. A sua perfomance de vizinha preocupada chegou no fim. A máscara caiu de vez.
- Não quero dinheiro pra comprar remédio, Guiomar... - Mônica sacudiu a cabeça e disse: - Vamos deixar esse negócio de te chamar de dona de lado? Soa meio... como posso dizer... meio careta!
(Isso mesmo, vai se impondo em cima desse saco de merda para ela saber com quem tá lidando!)
- Você... está me assustando...nunca te vi assim!
- Assim como, Gui-o-mar? - Mônica saboreou quando soletrou o nome da portuguesa.
A portuguesa tossiu e Mônica tampou o nariz e a boca.
- Sua cara... esse seu jeito de olhar...
- Sempre tive essa cara e esses olhos, Guiomar - disse Mônica, ainda com a mão em cima do nariz e da boca. -  Seja boazinha e me diga onde escondeu o dinheiro, e quando disser, prometo que vou lá na cozinha pegar sua água. E olha que ainda vou pegar água gelada, pra refrescar sua garganta!
- Meu dinheiro... está na bolsa...
- E cadê sua bolsa?
Guiomar virou os olhos para o lado direito:
- Ali... pendurado no cabideiro...
Mônica acompanhou o olhar da portuguesa e viu um emaranhado de bolsas no cabideiro. "Pra que tanta bolsa se nem sai de casa!"
- Mônica...que tá havendo contigo...os meninos estão passando fome?
- Fica quietinha! - Mônica levantou-se, foi ao cabideiro e pegou várias bolsas de diferentes cores e tamanhos. Estendeu o braço e sacudiu pelas alças a penca de bolsas: - Em que bolsa está o dinheiro?
- Ai... calma... não vê que não consigo...
- Fala logo, droga!!! - Mônica gritou e jogou as bolsas no chão. - Olha lá, não quero perder minha paciência com você...
Guiomar levantou um dos braços e abanou sua gorducha mão.
- Essa de couro... ai, minha garganta está muito seca... arranhando...
- Tem três bolsas de couro - disse Mônica, agachada no chão entre várias bolsas espalhadas. O suor escorria em bagos pelo rosto, e seus cabelos grudavam na testa. O quarto fechado ardia de calor e tinha um ar parado e fétido, e mesmo assim, a desgraçada estava com o cobertor até o queixo! - Não brinca comigo, Guiomar!
Mônica respirou fundo várias vezes. Abriu todas as bolsas e espalhou o conteúdo no chão. Eram pedaços de papéis, batom, grampos para os cabelos, cadernetas de endereço e telefone, lenços, e uma bolsinha de fecho. Ela pegou a bolsinha, abriu e pegou algumas notas amassadas e umas moedinhas. Contou e gritou:
- Trinta e quatro reais e noventa centavos!
- É o que tenho... agora...
Mônica num pulo ficou de pé e correu para a cama. Puxou o cobertor para baixo e agarrou com as duas mãos o pescoço quente de Guiomar:
- A senhora não sabe com quem está brincando, Guiomar! Tá achando que vou ficar satisfeita com trinta e quatro reais?
A portuguesa segurou os braços de Mônica, tentando desesperadamente tirar aquelas mãos geladas do seu pescoço. Ela arregalou os olhos e os lábios se moviam freneticamente, mas não saiu nenhum fiapo de voz.
- Cospe logo! Fala onde esconde sua fortuna, senão quebro teu pescoço e eu mesma vou procurar!
O rosto de Guiomar tomou uma forma púrpura, e ela, em ato de desespero, enfiou suas unhas e arranhou o rosto de Mônica. 

Continua...

No próximo capítulo: Acham que é só isso? Tem mais Mônica à caça do seu tesouro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário