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sábado, 23 de agosto de 2014

NADA É O QUE PARECE CAPÍTULO 17

Nos capítulos anteriores: Enquanto Vera levou as crianças ao parque e Aurélio está na sala tentando ler um livro, Fernanda bisbilhota o armário de Dona Vitória e acha um baú de joias abertos e uma caixa de ferro trancada a chave com algum objeto dentro. O que tem de tão valioso que precisa ser protegido?

Fernanda ajeitou dona Vitória na frente da televisão. Por precaução, puxou o freio da cadeira de rodas. "Vai que a velha resolva me seguir? Tudo é possível!", imaginou ela.
Claro que isso não ia acontecer. O máximo que aquela múmia podia fazer era escancarar aquele túnel vazio que chamava de boca em um sorriso grotesco.
- Vitória, aposto que muitos homens iam adorar um boquete seu!
A velha senhora alargou mais ainda o sorriso vazio.
- Gosta de sacanagem, safada? - disse Fernanda, maliciosamente. - Quer que eu traga um mendigo pra você mamar na piroca ensebada dele?
- Fer...Ferpa... - murmurou a velha, rindo.
- O mendigo pode lamber sua xereca seca... assim você fica molhadinha!
- Eu... gos...gros...groschto ... Frepa...
- Ai, meu Deus! Gosta de mim... Vitória galinha gosta de mim... Eu não sou pro teu bico, sapata sem vergonha. Pode tirar o olho em cima de mim. Meu negócio é outro...
Fernanda estava sentada na cadeira ao lado da velha. Os olhos verdes dela brilharam com uma lembrança:
- Olha, até deixo que dê umas lambidinhas na minha pomba, mas primeiro diga o que tem de tão secreto naquela caixa de ferro!
- Fer...Ferpita...
- Já ouvi meu nome. Tá errado, mas tudo bem. Conta pra mim onde guardou a chave da caixa.
- Eu...serede...srede...
- Tá com sede? Vou pegar sua água já já. Mas antes fale: Onde guardou a merda da chave?
Os olhos da velha senhora voltaram a ficar opacos e ausentes. Fernanda bufou. Virou a velha na direção da tevê e comentou:
- Não tem pressa... Uma hora acho essa chave.
Se não arrombasse o fecho da caixa antes, pensou. Sua vontade era essa, mas ainda era cedo para botar tudo a perder por causa de uma caixa trancada. Primeiro tinha que ver o que valia ou não roubar. Depois, um aceno e até nunca mais.
Saiu do quarto da velha e viu a porta da suíte do casal entreaberta. Foi averiguar se tinha alguém ali. Deu uma batidinha de leve e como ninguém respondeu, entrou.
Para Fernanda, aquele quarto era de um luxo só. Ainda não entrara ali. Ficou fascinada com o tamanho da cama de casal, dos espelhos da penteadeira, dos armários embutidos, do banheiro...
Empurrou a porta do banheiro e não acreditou no que viu. O lugar era espaçoso; a pia era de mármore, no box, três pessoas podiam tomar banho juntas e ainda sobrava espaço. Ao lado da privada, bidê. E mais no canto, uma banheira de hidromassagem.
- Eu quero um banheiro igual à esse! - Fernanda disse, morta de inveja. - Não, eu quero uma suíte igual à essa!
Já se imaginava dentro da banheiro imersa em sais perfumados. As espumas flutuavam a cada batida com os pés que ela fazia. Submergia e erguia com os cabelos grudados na sua cabeça. Ao seu lado, em cima de um pufe, um balde cheio de gelo abrigava uma garrafa de champanhe e uma taça de cristal estava cheio pela metade.
Ela chama seu escravo e ele chega, humilde. É alto, musculoso e bem dotado.
"Vem... entra aqui, meu escravo..."
Ele não respondeu, só obedeceu. Pra que falar? Ele tinha que usar outros atributos.
"Venha... pegue meu pé... me chupe ...isso, escravo, me mata de tesão... vem... quero te chupar... vem..."
Fernanda acordou do seu sonho com o barulho de alguém entrando no quarto. Respirou fundo e saiu do banheiro.
Aurélio tirava sua camisa de costas ao banheiro. Quando se virou, assustou-se com a empregada ao seu lado.
- Que susto!
- Desculpe, seu Aurélio, não foi minha intenção assusta-lo - disse Fernanda, humilde.
O patrão era magro e pálido. Ele passou pela moça e comentou:
- O que está fazendo aqui no meu quarto?
- Jesus! - Fernanda trançou as mãos e ergueu-as como se fosse orar. - Eu não sabia...
- O que não sabia?
- Que não podia entrar aqui!
- Não é isso, só achei estranho...
Dos olhos verdes da empregada surgiram algumas lágrimas.
- Não fiz por mal, seu Aurélio. Juro pelo Nosso Senhor.
Aurélio não podia ver mulher chorando. Principalmente, quando era bonita.
- Não estou te acusando de nada, Fernanda.
As mãos dela tremiam.
- Até agora estive com dona Vitória no quarto dela. Só que ela pegou no sono... e na tevê está passando um jogo de futebol. Como ainda não é hora de preparar a janta, deixei dona Vitória sonhando com Jesus e vim olhar se os cômodos precisavam de uma limpeza... Vi a porta entreaberta, bati duas vezes e como não tinha ninguém, aproveitei para passar um pano nos móveis e ver se havia lixo no banheiro... aí, o senhor chegou.
Aurélio, em silêncio, comia aquela menina com os olhos. Era a primeira vez que ficava com uma mulher diferente no seu quarto. Afastou os pensamentos lascivos que invadiram sua mente e disse, tentando parecer mais sério possível:
- Você não fez nada de errado, Fernanda. Só cumpriu sua tarefa que é de cuidar e manter nossa casa. Só vou te dar um conselho. Não tô repreendendo...
Ainda com as mãos entrelaçadas e a cabeça baixa, Fernanda disse:
- Eu sei...
- ... na próxima vez que quiser ver se nosso quarto precisa de limpeza, faça isso quando dona Vera estiver em casa. Quero que você entenda isso: Não sou eu que vou ligar se você entra ou não no meu quarto. É sua patroa que tem essas... neuras, vamos dizer assim. O humor dela é instável. Se ela disser pra você nem encostar a mão na porta, obedeça e faça outra coisa. Siga esse conselho. Você é nova aqui e ainda não sabe missa metade como é sua patroa.
Fernanda levantou o rosto. Seus olhos demonstravam gratidão.
- Obrigada pelo conselho, seu Aurélio. O senhor é um homem muito bom. Um homem justo.
Aurélio sorriu. Se tocou que estava sem camisa e pegou uma camiseta no armário. Ficou com ela nos braços e pediu:
- Não sei se sou bom, mas justo sou. Agora te peço que saia, tenho que me trocar.
A empregada separou suas mãos e disse, espantada:
- Claro, claro, claro... Preciso ir ver dona Vitória. Dá licença, seu Aurélio...
Ela praticamente fugiu do quarto. Aurélio balançou a cabeça, admirado com a inocência dela. Ela era uma criança ainda, comparando com sua idade. O jeito dela era do interior. Uma inocente perdida na cidade grande.
"Uma sofredora..., pensou Aurélio, com pena da menina. - A família morreu soterrada e o filho com três anos quebrou o pescoço quando caiu da escada. Pelo menos ela não surtou. A igreja foi sua salvação. Espero que um dia ela conheça alguém e forme uma família..."
Enquanto pensava essas palavras, veio também em pensamento dela nua, de cabelos soltos, deitada na cama e ele em cima dela...
Novamente teve uma ereção. Correu para o banheiro. Tomou um banho frio para apagar o fogo que o consumia por dentro.
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Durante o jantar, o falatório ficou por conta das crianças. Juninho repetiu dezenas de vezes que foi o dono do escorrega, Anabela disse que fez muitas amigas novas. Só Dequinha ficou quieta. Não queria dizer ao pai que não conseguiu construir nenhum castelo de areia.
Aurélio se divertiu com aquelas histórias. Vera mal falou também. Só perguntou para Fernanda como tinha sido o dia, e a empregada, que dava sopa para uma gulosa e sorridente dona Vitória, respondeu:
- O dia foi tranquilo, dona Vera. Eu e dona Vitória assistimos televisão juntas...
- Foi, mamãe? - Perguntou Vera.
Dona Vitória virou ligeiramente o rosto; seus olhos aquosos avaliou a estranha moça que a chamou de mãe e passou a língua em volta dos lábios sujos de sopa.
Fernanda correu para limpar a boca da velha senhora. Quando viu a empregada, a velha abriu a boca vazia em um largo sorriso e disse, com sua voz gutural:
- Obliigradra, Ferpa...
Fernanda apenas deu mais um dos seus cândidos sorrisos.
Vera se impressionou como sua mãe gostava da nova empregada. Teve uma leve esperança que o convívio dela com a menina a fizesse melhorar um pouco. Pelo menos um tiquinho já é de bom tamanho, pensou Vera. Era angustiante ver sua mãe daquela maneira e não poder ajuda-la.
Mas em dois dias, sua mãe progrediu, e bastante. Ainda tinha seus lapsos de memória, às vezes não a reconhecia, mas graças à nova empregada, ela pelo menos falava. Errado, mas falava.
Depois do jantar, Fernanda levou dona Vitória para dormir e as crianças também se recolheram. Vera deu uma olhada em alguns papeis e disse:
- Também vou me deitar. Amanhã tenho que chegar cedo no Fórum.
- Eu também vou - disse Aurélio. Largou o livro que tentava ler desde à tarde e acompanhou sua esposa.
Mais tarde, na cama, Aurélio perguntou:
- Então? A tarde foi agradável?
Vera deitava-se de lado, dando as costas para ele. Resmungou:
- Foi. Muito agradável.
A suíte estava envolvida pela escuridão. Aurélio não conseguia pegar no sono. Estava tendo outra ereção. Fechou os olhos e pensou no trabalho, na oferta que recebeu de um narigudo aspirador de pó, nas crianças... Logo esses pensamentos evaporavam e veio a imagem nítida da nova empregada, nua, sedutora, lasciva...
Vera também não conseguia dormir. Tinha tanta coisa para fazer no dia seguinte e agora calhou de aparecer uma insônia! Pensou na tarde no Campo de São Bento, dos picolés que comprara para as crianças, delas brincando no parquinho e no surpreendente reencontro com um colega de colégio que não via há mais de vinte anos. De um frangote cheio de espinhas na cara, agora era um galã de novela global.
Ela sentiu que mãos alisavam suas costas.
- O que houve?
- Tá acordada ainda?
A voz de Aurélio estava colada no seu ouvido. Vera disse, mal humorada:
- Tentando dormir...
Ele chegou com o corpo nas costas dela. Ela sentiu a pressão na sua cintura:
- Aurélio! Amanhã tenho que acordar cedo...
- Estou com saudades - sussurrou ele, mais colado ainda. - Há muito tempo que não brincamos...
- Hoje não tô pra brincadeiras!
- Vamos... Larga de ser uma menina má... vem aqui...
Vera ia negar, mas aquele membro enrijecido começou a afrouxar suas negativas. Realmente, fazia bastante tempo que ele não ficava daquela forma. E aquela podia ser uma única oportunidade...
- Então venha... - disse Vera, melosa.

Continua...

No próximo capítulo: Aurélio conhece o verdadeiro ambiente de Xavier, o narigudo aspirador de pó.

Rogerio de C. Ribeiro

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