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terça-feira, 19 de agosto de 2014

NADA É O QUE PARECE CAPÍTULO 13

No capítulo anterior: Sob pressão de Xavier, Aurélio insiste mais uma vez na venda do casarão, mas novamente Vera rechaça essa ideia. A real possibilidade de não faturar os cem mil reais deixa Aurélio nervoso.

Vera acordou cedo naquele domingo ensolarado. Aurélio ainda roncava ao seu lado. Ela se levantou e quinze minutos depois, foi ao quarto da sua mãe. Abriu a porta e se assustou. A cama da sua mãe estava vazia e arrumada. Foi para a cozinha e quando passou pela sala de jantar, viu a mesa posta para o café. Não eram nem sete e vinte da manhã. Na época de Belinda, a mesa só ficava arrumada quando faltavam cinco minutos para as oito da manhã.
"Espero que não seja só fogo de palha! Já me disseram que nos primeiros dias a nova empregada é como a gente sempre sonha, eficiente, alegre, disposta. Depois... Por isso que muita gente não fica com uma empregada nova por muito tempo!"
Entrou na cozinha; não tinha ninguém ali. Ouviu vozes vindo pela janela. Quando chegou ali, viu Fernanda empurrando a cadeira de rodas com sua mãe no jardim maltratado.
- Bom dia - disse Vera, debruçada na janela.
Fernanda acenou. O sol da manhã ainda era fraco e não fazia muito calor. Dona Vitória usava um chapelão para proteger o seu rosto e um grande par de óculos escuros.
- Sua mãe tá adorando o passeio! - Fernanda disse. Ela estava impecável no uniforme. Mentalmente, Vera aprovou.
- Como chegou aí com minha mãe?
Fernanda protegeu os olhos com a mão direita enquanto olhava para a janela acima dela.
- Deixei sua mãe sentada na cozinha, desci com a cadeira de rodas e depois subi pra busca-la.
- Nossa! Quanto empenho! São dez degraus!
Fernanda sorriu. Parecia animada.
- Ah! Fui ver a varanda da frente e não tinha sol. Aí descobri que o sol da manhã bate primeiro no jardim. Isso faz bem pra dona Vitória. Vitamina D !
- Vou descer.
A porta da cozinha abriu e Vera desceu os dez degraus até o jardim. Dona Vitória estava concentrada nos pardais, rolinhas, sabiás, que voavam das árvores até os fios dos postes. A velha senhora levantou as mãos e acenou, como se estivesse dando tchau para as aves.
Fernanda estava sentada em um banco comprido de cimento e Vera se juntou a ela, sentando ao lado. Realmente, o sol da manhã era agradável. Há quanto tempo que não ficava ali?, Vera pensou. Muitos anos.
- Quando era criança, vivia aqui no jardim - disse Vera, nostálgica. - Papai tinha um viveiro com mais de cem canários.
- Devia ser uma cantoria de manhã - comentou Fernanda, embalando a cadeira de rodas como se fosse um carrinho de bebê.
- Ah, era mesmo! Mas às vezes irritava! Minha vontade era solta-los. Mamãe ficava doida comigo! - Ela apontou para o canil abandonado. - Tivemos vários dobermans. Papai adorava essa raça.
- Jesus! Não eram brabos?
- Brabíssimos. Mas é engraçado... naquele tempo eu não tinha medo. Nunca entrei no canil, vivia trancado a cadeado, mas chegava bem perto e eles não faziam nada.
- E a senhora não quis ter mais cachorro?
- Não! Dá muito trabalho. E ainda tem as crianças. Fico com medo de ter cachorro brabo e que morda um deles. Não... Deixa como está.
- A senhora tem razão. Mas esse canil abandonado também pode ser perigoso para as crianças.
- Eu sei disso. Estou para demolir essa construção, mas no momento não sobrou dinheiro para isso.
- Pra quê dinheiro, dona Vera? E seu Aurélio?
Vera caiu na gargalhada.
- Aurélio??? Se depender dele , a casa cai e ele continua lendo seu livro sossegado. Não, pode esquecer, Aurélio não tem a mínima estrutura física para levantar uma pedra!
Fernanda comentou, encabulada:
- Não sabia...
- Menina, hoje é seu segundo dia aqui em casa. Espero que quando tiver dois anos aqui, continue sem sabendo de nada.
Fernanda concordou. Olhou as horas no seu minúsculo relógio de pulso e disse:
- Jesus Amado! Está quase na hora para o café da manhã!
- Então vamos logo, estou morrendo de fome - disse Vera se levantando.
Vera subiu a escada na frente, enquanto Fernanda subia atrás carregando dona Vitória no colo. Deixou-a na cadeira da cozinha e voltou para pegar a cadeira de rodas.
Vera se impressionou com a disposição da menina. Não demonstrou nenhum sinal de cansaço. Pelo contrário; assim que acomodou dona Vitória na cadeira de rodas, correu para ferver o leite e separar os pães que comprara de madrugada.
Vera disse para si mesma:
- Não vou ficar pensando se essa eficiência será para sempre. Se amanhã ela pisar na bola, beleza, mando embora e chamo outra. Não existem mais Belinda que ficam trinta anos em uma casa. Os tempos são outros...
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Para desanuviar a cabeça depois que analisou o processo, Vera decidiu levar as crianças para darem uma volta no Campo de São Bento. Perguntou se Aurélio também iria, mas ele inventou uma desculpa esfarrapada, comentando que estava cansado e ia dormir um pouco de tarde.
- Conheço seu stress - comentou Vera, ironicamente. - Stress de tanto não fazer nada.
Enfiado em uma poltrona na sala principal, Aurélio tinha o livro Cem Anos de Solidão na mão. Baixou o livro e disse:
- Não me venha com seus sarcasmos, Vera. Estou cansado e quero descansar.
- Cansado de tanto coçar o saco, Aurélio! Vamos, fala que tô mentindo. Ou você está correndo atrás dos clientes, visitando imobiliárias de peso e está me escondendo tudo?
Ele enfiou o livro na cara.
- Nem pra passear com seus filhos você presta! Sempre tem uma desculpa pra ficar em casa!
- Vera... estou com minha cabeça explodindo de dor!
Anabela entrou na sala com um bonito vestido rosa e rabo de cavalo.
- Pai, vamos! - ela correu e abraçou Aurélio.
A expressão no rosto dele era de desânimo.
- Deixa pra próxima vez, filha...
- Traduzindo as palavras do seu pai, nunca, filha - zombou Vera.
- ... papai promete que te leva ao Campo de São Bento... - Aurélio preferiu ignorar as palavras de Vera.
- Anabela, desiste de ir com ele agora. Quem sabe, quando tiver 18 anos ele queira...
- Não é verdade! - Anabela gritou e agarrou o pescoço do pai com mais força. - Papai prometeu e vai cumprir!
Nesse interím Dequinha e Juninho entraram na sala. Como a irmã mais velha, Dequinha vestia um vestidinho rosa e também estava com rabo de cavalo. Juninho estava de camiseta e bermuda e um boné virado para trás. Ele puxou o rabo de cavalo da irmã caçula e deu uma risada que era como um relincho, exibindo seus dentes amarelos e cavalares.
- Ai, mãe! Juninho tá me machucando!
Juninho a imitou, fazendo uma voz em falsete:
- Ai, mamãeeeeee! Meu irmão mais bonito do mundo tá puxando meu cabeluuuuuuuuuuu!!!!
Vera pegou sua bolsa e disse, secamente:
- Juninho, não implique com sua irmã. E Dequinha, para de ser chata!
Vera pegou as chaves do carro e quando as crianças saíram para a varanda, ela disse:
- O pai de vocês está muito estressado! Tá precisando de umas férias!
Bateu com a porta quando saiu. Aurélio largou o livro na mesinha ao lado e murmurou:
- Uma hora explodo...
Fernanda entrou na sala nesse momento. Ela carregava uma bandeja de prata com uma xícara de café.
- Com licença, seu Aurélio - disse Fernanda. - Acabei de passar um café.
Ela foi se aproximando devagar, em passos miúdos. Deu a impressão que equilibrava a bandeja com dificuldade. Solícito, Aurélio se levantou e disse:
- Não precisa vir até aqui.
Ele pegou a xícara e o pires e deixou em cima da mesinha ao lado. Fernanda baixou a travessa e sorriu envergonhada. Suas faces estavam coradas, e pela primeira vez, Aurélio notou que aquela criada era muito bonita.
Aurélio teve uma sensação que há muito tempo não sentia. Não sabia explicar se era pelos olhos amendoados e verdes da moça, do cabelo castanho puxado para trás em um coque ou as gotículas de suor que porejavam na testa e no nariz sardento.
A tarde era quente e a coitada devia estar derretendo na cozinha. A moça desabotoou os dois primeiros botões do uniforme e o colo dos seus seios também suavam.
Aurélio percebeu que teve uma ereção espontânea. Tentou disfarçar, cruzando as mãos displicentes na frente da bermuda. A moça não deu mostras que viu aquilo, tanto que ela perguntou, gentilmente:
- O senhor precisa de alguma coisa? Um copo d'água, um refresco...
- Não... Nada - disse ele, com a voz seca. - Obrigado pelo café.
- Vou ver como dona Vitória está e depois pego a xícara - disse ela, saindo da sala.
Aurélio arriou na poltrona, extasiado. Sua bermuda era como uma barraca armada. A ereção continuava firme e forte.
"Meu Deus! Como foi que Vera contrata uma garota bonita pra trabalhar aqui... Vai ser difícil controlar a tentação..."
Enquanto ia para a cozinha com a bandeja, Fernanda ria. O patrão ficou de queixo caído! O instrumento dele não era grandes coisas, mas ela adorava excitar os homens.
Principalmente, apreciava em saber que os homens a desejavam. Seu ego aumentava.

Continua...

No próximo capítulo: Fernanda faz uma vistoria no quarto de Dona Vitória e encontra algo interessante.

Rogerio de C. Ribeiro

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