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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

NADA É O QUE PARECE CAPÍTULO 15

No capítulo anterior: Fernanda aproveita que Dona Vitória está tirando um cochilo para verificar o que ela tem guardado no armário. Encontra um baú com joias aberto e uma caixa fechada à chave. Isso a deixa intrigada.

Tentou se concentrar na leitura, mas não conseguia sair da mesma página há uma hora. Toda vez que lia o primeiro parágrafo, chegava na sua mente aquela imagem nítida do decote da empregada, das gotinhas de transpiração na testa e no nariz pintadinho. E sempre que vinha essa lembrança, outra ereção se formava.
Sentiu-se como um adolescente que dança com aquela menina bonita da festa e quando encostava seu corpo no dela, melava a cueca. Era isso que acontecia com ele nesse momento. Era só lembrar da empregada nova que tinha uma ereção. E sua cueca estava ensopada!
- Cara... - ele murmurou na imensidão da sala vazia, - o que tá havendo comigo? Não sei o que é isso já faz bastante tempo! E ficar com cueca melada já tem mais de 25 anos!
Espiou na direção do corredor na esperança que ela aparecesse novamente. Mas a viu entrando no quarto da sua sogra e até o momento continuava lá.
Espantou esses pensamentos que pareciam enraizados na sua mente fértil e pegou novamente o livro. Mas de novo não conseguiu. Jogou o livro em cima da mesa ao lado e foi para a varanda fumar um cigarro.
Uma leve brisa circulava na varanda aberta. Essa era uma das vantagens de morar no final de uma colina. Lá embaixo o sol castigava, o asfalto derretia, as pessoas minguavam enquanto andavam nas ruas. Já ali onde ele estava, mesmo fazendo calor, tinha uma brisa que aliviava.
Pegou o maço amassado do Derby e só achou um rachado na altura do filtro branco. Esfregou o cigarro com as duas mãos e soprou o fumo para o alto.
Precisava fumar e o único lugar aberto no domingo que vendia cigarro era no Marquinhos. Ia pedir que Fernanda fosse lá, mas se lembrou que estava com dona Vitória. E se Vera soubesse que sua mãe ficou sozinha porque ele, preguiçoso, pediu que a nova empregada descesse e subisse a rua para comprar um maço de cigarros, com certeza cuspiria marimbondo em cima dele. E com certa razão, ele pensou.
Às vezes um exercício fazia bem. Principalmente quando não usamos camisa e calça social, sapato Vulcabrás e carregando uma pasta pesada. Pelo menos agora estava de bermudas, sandália franciscana e uma camisa leve.
Nem avisou; saiu pelo portão, caminhou rente ao muro e dobrou a esquina; desceu a rua de paralelepípedo até chegar no fim dela. Assim que pisou o asfalto, dobrou à esquerda.
O mercadinho de Marquinhos ficava no final da rua. A essa hora estava vazio. Alguns sujeitos bebiam cerveja em mesinhas nas calçadas e dois cachorros vira-latas abanavam os seus rabos para um grandalhão que preparava uns espetinhos de carne em uma improvisada churrasqueira.
Aurélio contornou as mesas na calçada e viu Marquinhos sentado em um banco na entrada do mercado com um copo de cerveja na mão. Pediu um maço de Derby e Marquinhos disse:
- Pega ali, já sabe o caminho - e depois riu.
- Você anda muito preguiçoso. Tira a bunda desse banco e trabalhe um pouco.
- Hoje é domingo, Aurélio, dia de descanso.
- Se é descanso, por quê abre o mercado?
- Pra não ficar em casa aturando Dona Encrenca enchendo meus ouvidos com suas queixas. Aqui pelo menos bebo uma gelada sossegado e ainda faturo algum com os trouxas que vem comprar cigarro! - Caiu na gargalhada.
Aurélio riu junto e pegou o maço.
- Bota na conta.
- Vai uma cerva?
- Hoje não, obrigado. Preciso resolver algumas coisas lá em casa.
- Agorinha a pouco Vera passou de carro com as crianças... - Marquinhos bebeu um gole de cerveja e continuou: - Parabéns pela nova empregada.
Aurélio acendeu um cigarro e quase tossiu com a fumaça.
- Que que tem a empregada?
Maldosamente, o comerciante comentou:
- Ela é uma gracinha, bem jeitosinha.
- Mesmo? - Aurélio disfarçou
- Ela apareceu aqui cedinho e falou que substituiu Belinda. Já era tempo daquela coroa ir embora!
- Sabe que nem notei como ela é... - mentiu Aurélio.
- Deixa de caô, te conheço não é de hoje. Com certeza, assim que Vera saiu com as crianças, você já deve ter soltado um lero em cima da menina!
- Caramba! Que juízo faz de mim!
- Juízo o cacete! Se sou eu, já estaria no "cerca-lourenço". Uma menininha dessas renova qualquer sujeito!
Aurélio deu o último trago e jogou o cigarro em piparote no meio da rua.
- Tá falando bobagem, Marquinhos. A garota entrou ontem. E Vera me contou que ela é evangélica, que já sofreu muito na vida...
Marquinhos pegou a garrafa de cerveja Itaipava ao seu lado e tornou a encher o copo.
- Aurélio... você não prestou atenção na menina... Ela pode ter cara de tudo, mas com certeza não é de sofredora.
- Aí tá provado que não sabe de nada.
- Será? Eu sei que ela tem peitinhos deliciosos e uma bundinha maravilhosa. Acho que não preciso saber mesmo mais nada depois disso tudo!
Aurélio acenou, pegou outro cigarro e quando pegou o isqueiro, mudou de ideia. Viu a rua subindo e só de pensar na escalada que ia fazer, desistiu do cigarro. Precisava de fôlego para a empreitada.
No meio do caminho parou para respirar. A empreitada era dura demais;  prometeu para si que compraria pacotes fechados de Derby quando estivesse o Centro de Niterói.
Instintivamente, a imagem de um par de seios duros e de uma empinada bunda veio associado à figura da nova empregada. Isso gerou mais uma ereção. Ainda bem que a rua estava vazia. Seria constrangedor se fosse flagrado por uma velha vizinha.
Chegou exausto em frente do muro do casarão. Agora acendeu um cigarro. O primeiro trago doeu nos seus pulmões. Tossiu, mas continuou fumando.
Aurélio buscou uma explicação lógica para aquelas súbitas ereções. O motivo podia ser a tarde quente e agradável... Ou alguma coisa que comeu... Mas o almoço foi macarronada ao sugo. Será que os tomates agora são afrodisíacos? Ou podia ser a falta de sexo. Há muito tempo que não transava com Vera. E há muito tempo que não tinha amante na rua. Mulher de fora gosta de dinheiro. E como agora ele andava descapitalizado, essa possibilidade era nula.
Mas a empregada mexeu com ele. Tinha que reconhecer isso. Nunca, nem mesmo quando conheceu Vera, ficou tão instigado como agora. Podia ser delírio de um solitário, pensou ele. Com o relacionamento morno - não queria confessar que estava frio - não sabia mais o que era tesão, vontade de agarrar a mulher, beija-la, fazê-la gozar e explodir em gozo junto.
Era um homem obscuro, pai de três filhos que amava acima de tudo, mas casado com uma mulher que o humilhava publicamente, que lhe jogava na cara que sustentava a casa, inclusive dando dinheiro para seu cigarro. Ele aguentava tudo em silêncio, sem nenhum poder de resposta.
Por isso, necessitava daquela gratificação. Com a bolada em mãos, teria moral para rebater as provocações dela e se quisesse, dando um pontapé pra seguir sua vida sozinho, mas tranquilo. Sem cobranças, sem que alguém tirasse o livro das suas mãos e jogasse no chão... Não. Com grana no bolso seria homem de verdade. Podia ter qualquer mulher que quisesse.
Inclusive, a nova empregada.
"Ela é evangélica... deve ser casada com um obreiro ou um pastor... Mesmo se quisesse, a religião dela não permitiria..."
Viu que o cigarro na sua mão queimou até o filtro. Jogou a guimba no chão e pisou furiosamente, espalhando fumo na sola da sandália que usava.
Quando ergueu os olhos do chão, viu um homem subindo a rua. Ele estava bem distante, mas Aurélio jurou que era o mesmo sujeito da noite anterior.
Dessa vez ficou parado na calçada, em frente do portão da sua casa, aguardando para ver até onde o sujeito iria. Pegou outro Derby e dessa vez, fumou com paciência.
O sol da tarde batia na rua abaixo. O sujeito usava óculos escuros. Aurélio soube pelo reflexo que vinha. Nos últimos tempos algumas casas do bairro foram assaltadas. A associação dos moradores criou um pacto de ajuda em que cada vizinho cuidava da casa do outro. Qualquer pessoa em atitude estranha era o motivo que ligassem para a polícia. Esse era o mal daquele bairro. Era muito isolado.
O sujeito parou à trezentos metros abaixo, curvando o corpo e colocando as mãos nos joelhos. Aurélio acenou para ele e perguntou:
- Olá! Está procurando alguém? Precisa de ajuda?
O sujeito com óculos escuros não respondeu. Virou-se, deu as costas e desceu a rua em passos rápidos. Se não estivesse tão cansado, talvez até corresse.
"Quem é esse cara? Se eu o ver de novo, chamo a polícia..."
Depois que entrou na varanda, trancou o portão com o cadeado só por garantia.

Continua...

No próximo capítulo: Vera reencontra uma pessoa no Campo de São Bento.

Rogerio de C. Ribeiro


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