Tentou
se concentrar na leitura, mas não conseguia sair da mesma página há uma hora.
Toda vez que lia o primeiro parágrafo, chegava na sua mente aquela imagem
nítida do decote da empregada, das gotinhas de transpiração na testa e no nariz
pintadinho. E sempre que vinha essa lembrança, outra ereção se formava.
Sentiu-se
como um adolescente que dança com aquela menina bonita da festa e quando
encostava seu corpo no dela, melava a cueca. Era isso que acontecia com ele
nesse momento. Era só lembrar da empregada nova que tinha uma ereção. E sua
cueca estava ensopada!
-
Cara... - ele murmurou na imensidão da sala vazia, - o que tá havendo comigo?
Não sei o que é isso já faz bastante tempo! E ficar com cueca melada já tem
mais de 25 anos!
Espiou
na direção do corredor na esperança que ela aparecesse novamente. Mas a viu
entrando no quarto da sua sogra e até o momento continuava lá.
Espantou
esses pensamentos que pareciam enraizados na sua mente fértil e pegou novamente
o livro. Mas de novo não conseguiu. Jogou o livro em cima da mesa ao lado e foi
para a varanda fumar um cigarro.
Uma
leve brisa circulava na varanda aberta. Essa era uma das vantagens de morar no
final de uma colina. Lá embaixo o sol castigava, o asfalto derretia, as pessoas
minguavam enquanto andavam nas ruas. Já ali onde ele estava, mesmo fazendo
calor, tinha uma brisa que aliviava.
Pegou
o maço amassado do Derby e só achou um rachado na altura do filtro branco.
Esfregou o cigarro com as duas mãos e soprou o fumo para o alto.
Precisava
fumar e o único lugar aberto no domingo que vendia cigarro era no Marquinhos.
Ia pedir que Fernanda fosse lá, mas se lembrou que estava com dona Vitória. E
se Vera soubesse que sua mãe ficou sozinha porque ele, preguiçoso, pediu que a
nova empregada descesse e subisse a rua para comprar um maço de cigarros, com
certeza cuspiria marimbondo em cima dele. E com certa razão, ele pensou.
Às
vezes um exercício fazia bem. Principalmente quando não usamos camisa e calça
social, sapato Vulcabrás e carregando uma pasta pesada. Pelo menos agora estava
de bermudas, sandália franciscana e uma camisa leve.
Nem
avisou; saiu pelo portão, caminhou rente ao muro e dobrou a esquina; desceu a
rua de paralelepípedo até chegar no fim dela. Assim que pisou o asfalto, dobrou
à esquerda.
O
mercadinho de Marquinhos ficava no final da rua. A essa hora estava vazio.
Alguns sujeitos bebiam cerveja em mesinhas nas calçadas e dois cachorros
vira-latas abanavam os seus rabos para um grandalhão que preparava uns
espetinhos de carne em uma improvisada churrasqueira.
Aurélio
contornou as mesas na calçada e viu Marquinhos sentado em um banco na entrada
do mercado com um copo de cerveja na mão. Pediu um maço de Derby e Marquinhos
disse:
-
Pega ali, já sabe o caminho - e depois riu.
-
Você anda muito preguiçoso. Tira a bunda desse banco e trabalhe um pouco.
-
Hoje é domingo, Aurélio, dia de descanso.
-
Se é descanso, por quê abre o mercado?
-
Pra não ficar em casa aturando Dona Encrenca enchendo meus ouvidos com suas
queixas. Aqui pelo menos bebo uma gelada sossegado e ainda faturo algum com os
trouxas que vem comprar cigarro! - Caiu na gargalhada.
Aurélio
riu junto e pegou o maço.
-
Bota na conta.
-
Vai uma cerva?
-
Hoje não, obrigado. Preciso resolver algumas coisas lá em casa.
-
Agorinha a pouco Vera passou de carro com as crianças... - Marquinhos bebeu um
gole de cerveja e continuou: - Parabéns pela nova empregada.
Aurélio
acendeu um cigarro e quase tossiu com a fumaça.
-
Que que tem a empregada?
Maldosamente,
o comerciante comentou:
-
Ela é uma gracinha, bem jeitosinha.
-
Mesmo? - Aurélio disfarçou
-
Ela apareceu aqui cedinho e falou que substituiu Belinda. Já era tempo daquela
coroa ir embora!
-
Sabe que nem notei como ela é... - mentiu Aurélio.
-
Deixa de caô, te conheço não é de hoje. Com certeza, assim que Vera saiu com as
crianças, você já deve ter soltado um lero em cima da menina!
-
Caramba! Que juízo faz de mim!
-
Juízo o cacete! Se sou eu, já estaria no "cerca-lourenço". Uma
menininha dessas renova qualquer sujeito!
Aurélio
deu o último trago e jogou o cigarro em piparote no meio da rua.
-
Tá falando bobagem, Marquinhos. A garota entrou ontem. E Vera me contou que ela
é evangélica, que já sofreu muito na vida...
Marquinhos
pegou a garrafa de cerveja Itaipava ao seu lado e tornou a encher o copo.
-
Aurélio... você não prestou atenção na menina... Ela pode ter cara de tudo, mas
com certeza não é de sofredora.
-
Aí tá provado que não sabe de nada.
-
Será? Eu sei que ela tem peitinhos deliciosos e uma bundinha maravilhosa. Acho
que não preciso saber mesmo mais nada depois disso tudo!
Aurélio
acenou, pegou outro cigarro e quando pegou o isqueiro, mudou de ideia. Viu a
rua subindo e só de pensar na escalada que ia fazer, desistiu do cigarro.
Precisava de fôlego para a empreitada.
No
meio do caminho parou para respirar. A empreitada era dura demais;
prometeu para si que compraria pacotes fechados de Derby quando estivesse
o Centro de Niterói.
Instintivamente,
a imagem de um par de seios duros e de uma empinada bunda veio associado à
figura da nova empregada. Isso gerou mais uma ereção. Ainda bem que a rua
estava vazia. Seria constrangedor se fosse flagrado por uma velha vizinha.
Chegou
exausto em frente do muro do casarão. Agora acendeu um cigarro. O primeiro
trago doeu nos seus pulmões. Tossiu, mas continuou fumando.
Aurélio
buscou uma explicação lógica para aquelas súbitas ereções. O motivo podia ser a
tarde quente e agradável... Ou alguma coisa que comeu... Mas o almoço foi
macarronada ao sugo. Será que os tomates agora são afrodisíacos? Ou podia ser a
falta de sexo. Há muito tempo que não transava com Vera. E há muito tempo que
não tinha amante na rua. Mulher de fora gosta de dinheiro. E como agora ele
andava descapitalizado, essa possibilidade era nula.
Mas
a empregada mexeu com ele. Tinha que reconhecer isso. Nunca, nem mesmo quando
conheceu Vera, ficou tão instigado como agora. Podia ser delírio de um
solitário, pensou ele. Com o relacionamento morno - não queria confessar que
estava frio - não sabia mais o que era tesão, vontade de agarrar a mulher,
beija-la, fazê-la gozar e explodir em gozo junto.
Era
um homem obscuro, pai de três filhos que amava acima de tudo, mas casado com
uma mulher que o humilhava publicamente, que lhe jogava na cara que sustentava
a casa, inclusive dando dinheiro para seu cigarro. Ele aguentava tudo em
silêncio, sem nenhum poder de resposta.
Por
isso, necessitava daquela gratificação. Com a bolada em mãos, teria moral para
rebater as provocações dela e se quisesse, dando um pontapé pra seguir sua vida
sozinho, mas tranquilo. Sem cobranças, sem que alguém tirasse o livro das suas
mãos e jogasse no chão... Não. Com grana no bolso seria homem de verdade. Podia
ter qualquer mulher que quisesse.
Inclusive,
a nova empregada.
"Ela
é evangélica... deve ser casada com um obreiro ou um pastor... Mesmo se
quisesse, a religião dela não permitiria..."
Viu
que o cigarro na sua mão queimou até o filtro. Jogou a guimba no chão e pisou
furiosamente, espalhando fumo na sola da sandália que usava.
Quando
ergueu os olhos do chão, viu um homem subindo a rua. Ele estava bem distante,
mas Aurélio jurou que era o mesmo sujeito da noite anterior.
Dessa
vez ficou parado na calçada, em frente do portão da sua casa, aguardando para
ver até onde o sujeito iria. Pegou outro Derby e dessa vez, fumou com paciência.
O
sol da tarde batia na rua abaixo. O sujeito usava óculos escuros. Aurélio soube
pelo reflexo que vinha. Nos últimos tempos algumas casas do bairro foram
assaltadas. A associação dos moradores criou um pacto de ajuda em que cada
vizinho cuidava da casa do outro. Qualquer pessoa em atitude estranha era o
motivo que ligassem para a polícia. Esse era o mal daquele bairro. Era muito
isolado.
O
sujeito parou à trezentos metros abaixo, curvando o corpo e colocando as mãos
nos joelhos. Aurélio acenou para ele e perguntou:
-
Olá! Está procurando alguém? Precisa de ajuda?
O
sujeito com óculos escuros não respondeu. Virou-se, deu as costas e desceu a
rua em passos rápidos. Se não estivesse tão cansado, talvez até corresse.
"Quem
é esse cara? Se eu o ver de novo, chamo a polícia..."
Depois
que entrou na varanda, trancou o portão com o cadeado só por garantia.
Continua...
No
próximo capítulo: Vera reencontra uma pessoa no Campo de São Bento.
Rogerio
de C. Ribeiro
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