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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

NADA É O QUE PARECE CAPÍTULO 37

No capítulo anterior: Aurélio sentiu que estava excitado novamente. O contato com aquela pequena e mimosa mãozinha quente o deixava doido. Arriscou e acariciou o rosto dela.
- Acha mesmo?
- Acho. Dona Vera é uma mulher de sorte.
Aurélio não aguentava mais. Agora acariciava a nuca da empregada.
- Esquece dona Vera - disse com voz rouca. - Finja que ela não existe.
Puxou-a contra si e beijou-a como há muito tempo não beijava nenhuma mulher.


- Não amo, mas gosto dele - disse Vera, com sinceridade. Rodrigo a observava quieto, pensativo. - Aurélio tem muitos defeitos, mas é bom pai, leal a mim e sempre me apoiou. Quando papai faleceu, ele ficou no meu lado o tempo todo.
- Seu pai foi muito importante na sua vida. Lembro que no colégio você enchia a boca quando falava dele.
Os olhos de Vera marejaram com a lembrança do pai. Balançou a cabeça e disse, saudosa:
- Meu pai foi tudo para mim. O verdadeiro exemplo de como um homem deve se portar, com honestidade, caráter, justiça.
- Lembro vagamente dele nas campanhas.
- Meu pai era idolatrado pelo povo. Pena que a memória desse mesmo povo seja curta.
- E seu marido? Ontem, você não parecia muito animada com sua situação.
- E não estou mesmo. Mas hoje houve um sopro de esperança.
- Como assim?
- Quando acordei, Aurélio já tinha saído de casa bem cedo...
- E você acredita que ele foi procurar trabalho ou...
- Ele nunca saiu de casa tão cedo.
Rodrigo acariciava a mão de Vera e ela deixava. Ele perguntou:
- E eu?
- Que tem você? - disse ela, secamente.
- Pensei que estivesse atraída por mim...
- E estou, senão não estaria aqui em plena manhã com uma tulipa na minha frente - disse ela sinceramente, apontando para a tulipa ainda cheia de chope. - Mas ainda sou casada com ele, e não posso tomar uma medida drástica com que venha me arrepender depois.
- Você disse que ele é leal a você...
- Por ele, boto a mão no fogo - respondeu com toda certeza.
                           ********************
- Não, seu Aurélio - disse Fernanda, se afastando do patrão. Estava descabelada e os grampos do coque pendiam em alguns fios soltos.
- Por quê? - Reagiu Aurélio, a agarrando pelos braços e puxando-a contra si.
- Eu... eu não posso... - disse a moça, atordoada. - Não é justo! O senhor é casado com dona Vera...
- E daí? - disse Aurélio, lascivo. Ele suava e seu coração disparava feito louco. - Não gosta de mim?
Fernanda fechou os olhos e admitiu:
- Meu sentimento não importa...
- Pra mim importa e muito!
- O senhor é tão bonito... cheiroso... sabe fazer uma mulher feliz...
Aurélio riu.
- Nem tanto, meu amor. Meu casamento não anda tão bem como pensa.
Fernanda arregalou os olhos.
- Não acredito! Dona Vera parece ser tão apaixonada pelo senhor!
- Deve estar apaixonada por ela mesmo. Eu sou infeliz, Fernanda - E ante o olhar piedoso da moça, completou: - Pensei em sair de casa várias vezes, mas o que me prende aqui são meus filhos.
- Como pode... Se tenho um marido como o senhor, agradeceria todo dia pela minha sorte!
- Vera não pensa assim...
                              ********************
- O que pretende fazer a isso, Vera? Não quero que você pense mal de mim, mas não acredito que seja tão conformista por causa de lealdade.
- E não sou mesmo, Rodrigo. Antes de tudo, prezo minha autoestima.
- Posso te perguntar uma coisa?
Vera sorriu.
- Do jeito que te vi ontem me deu a impressão que já tinha chutado o balde. Por isso te beijei.
- E gostei. - disse Vera, acariciando a mão de Rodrigo. - É muito bom quando você desperta o interesse em alguém, prova que ainda estou viva para o mundo.
- Não quero que pense...
- Não penso nada, Rodrigo. Mas quero um tempo. Não quero entrar numa aventura só pra mostrar depois ao meu marido que outro homem me deseja.
Rodrigo balançou a cabeça e disse:
- Eu espero.
- E além do mais, quero conversar com Aurélio antes. Eu não quero sacanea-lo. Ele não merece isso.
                                  ********************
- Desde a primeira vez que te vi, te desejei - disse um sôfrego e ansioso Aurélio. Fernanda continua sentada, com as pernas coladas uma à outra, olhando para as mãos.
- Não fale assim, seu Aurélio...
- Me apaixonei por você - mentiu Aurélio.
Fernanda mostrou surpresa com a declaração mentirosa do idiota do punheteiro e disse, com um leve sorriso nos lábios:
- Mesmo?
- Sim, Fernanda!
- Não quero que minta pra mim, seu Aurélio... Eu sou ingênua... Já caí na lábia de muitos malandros...
- Eu não sou nenhum malandro!
Fernanda se levantou e disse:
- Já me magoaram muito... eu não sei...
Aurélio tomou a decisão. Dane-se se ela ia processa-lo depois.
- Quero transar com você!
Fernanda, indignada, disse:
- Transar?
Aurélio consertou:
- Não... desculpe... quero fazer amor com você!
Fernanda conseguiu fisgar o paspalhão de pau pequeno. Mas ia atiça-lo mais ainda. Se cedesse, ele desistiria dela depois.
Ele tinha que ficar de quatro para ela. Só assim, haveria uma chance de embolsar a grana que ele ia ganhar!
- Tenho que fazer o almoço, seu Aurélio...
- Me espera de noite... quando Vera cair no sono, venho no teu quarto.
Fernanda não disse nada e Aurélio aceitou isso como uma resposta positiva. Antes de sair da cozinha, disse:
- Vou te ensinar o que é ter uma noite de amor, Fernanda.
Depois que ele saiu, Fernanda pensou:
"Quem vai te ensinar uma coisa sou eu. Mas não hoje, queridinho. Quero te ver melando a cueca antes..."

Continua...

Rogerio de C. Ribeiro

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