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sábado, 26 de abril de 2014

SÁBADOS: COMO SURGEM AS IDEIAS DAS MINHAS HISTÓRIAS



Os contos que venho publicando no blog alguns deles foram escritos nas décadas de 1980 e 1990. O conto ELA foi escrito em 1996; nesse ano eu morava em um apartamento na Rua Barão de Amazonas esquina com a Amaral Peixoto, principal avenida no Centro de Niterói. Da varanda do meu apartamento tinha uma vista dessa avenida. Durante a manhã e a tarde o tráfego era imenso, as pessoas iam e vinham em ritmos frenéticos apressadas em seus compromissos, as mesinhas nas calçadas lotadas de gente bebendo seus chopes no entardecer. Tudo era agitado até dez horas da noite, quando os "turistas do centro" evaporavam-se, e os que ficavam eram só os moradores dos prédios residenciais, muito deles quitinetes. E em um edifício em especial seus moradores desciam dos seus apartamentos, montavam barraquinhas de churrasco, isopores com refrigerantes e cervejas, espalhavam mesinhas pela calçada na frente do prédio até a esquina onde até hoje tem uma agência do Itaú.
Quem conhece o centro de Niterói sabe que edifício é esse que menciono. Os apartamentos são quitinetes e sua fama não é lá tão boa.  Em frente a portaria reúnem-se os mais variados tipos das noites: cafetões, prostitutas, travestis e traficantes. Quando eu estava sem sono costumava fumar um cigarro na varanda e observava todo movimento que se formava ali. E sempre via uma viatura da polícia junto a esse grupo heterogêneo. Os PMS paravam, comiam um churrasquinho de gato, bebiam, contavam piadas e com certeza levavam seus arrego.
Independente disso tudo, o que sempre me intrigou eram as meninas que desfilavam nas esquinas competindo com os travestis os clientes que por lá surgiam, e não eram poucos. Vinham lentamente com os faróis altos piscando, o carro parava e começava a briga dos travestis com as meninas. Muitas delas menores de idade.
Observando esse cotidiano marginal, imaginei a história de uma menina se prostituindo no centro. O título do conto me veio logo, seria apenas ELA. Não quis dar nome para nenhum personagem, e seriam apenas alguns entre milhares que vivem dessa forma. Tentei não transforma-la em uma heroína, procurei ser o mais imparcial possível. O conto de uma menina de treze anos que sonha com dias melhores, e na atual circunstância no meio que ela vivia, acreditava que esse seria seu único caminho para uma vida melhor.
Quando a história se formou completa na minha cabeça, fui para minha máquina de escrever ( isso em 1996) e escrevi numa tacada só.
Não pretendo ser moralista e nem abraço nenhuma causa sobre essa vida. Minha intenção é que as pessoas leiam e reflitam sobre a vida dessas pessoas, e principalmente das milhares de meninas que acreditam que esse caminho é a solução.

Rogerio de C. Ribeiro
26/04/2014

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