Os
contos que venho publicando no blog alguns deles foram escritos nas décadas de
1980 e 1990. O conto ELA foi escrito em 1996; nesse ano eu morava em um
apartamento na Rua Barão de Amazonas esquina com a Amaral Peixoto, principal
avenida no Centro de Niterói. Da varanda do meu apartamento tinha uma vista
dessa avenida. Durante a manhã e a tarde o tráfego era imenso, as pessoas iam e
vinham em ritmos frenéticos apressadas em seus compromissos, as mesinhas nas
calçadas lotadas de gente bebendo seus chopes no entardecer. Tudo era agitado
até dez horas da noite, quando os "turistas do centro" evaporavam-se,
e os que ficavam eram só os moradores dos prédios residenciais, muito deles
quitinetes. E em um edifício em especial seus moradores desciam dos seus
apartamentos, montavam barraquinhas de churrasco, isopores com refrigerantes e
cervejas, espalhavam mesinhas pela calçada na frente do prédio até a esquina
onde até hoje tem uma agência do Itaú.
Quem
conhece o centro de Niterói sabe que edifício é esse que menciono. Os
apartamentos são quitinetes e sua fama não é lá tão boa. Em frente a portaria reúnem-se os mais
variados tipos das noites: cafetões, prostitutas, travestis e traficantes. Quando
eu estava sem sono costumava fumar um cigarro na varanda e observava todo
movimento que se formava ali. E sempre via uma viatura da polícia junto a esse
grupo heterogêneo. Os PMS paravam, comiam um churrasquinho de gato, bebiam,
contavam piadas e com certeza levavam seus arrego.
Independente
disso tudo, o que sempre me intrigou eram as meninas que desfilavam nas
esquinas competindo com os travestis os clientes que por lá surgiam, e não eram
poucos. Vinham lentamente com os faróis altos piscando, o carro parava e
começava a briga dos travestis com as meninas. Muitas delas menores de idade.
Observando
esse cotidiano marginal, imaginei a história de uma menina se prostituindo no
centro. O título do conto me veio logo, seria apenas ELA. Não quis dar nome
para nenhum personagem, e seriam apenas alguns entre milhares que vivem dessa
forma. Tentei não transforma-la em uma heroína, procurei ser o mais imparcial
possível. O conto de uma menina de treze anos que sonha com dias melhores, e na
atual circunstância no meio que ela vivia, acreditava que esse seria seu único
caminho para uma vida melhor.
Quando
a história se formou completa na minha cabeça, fui para minha máquina de
escrever ( isso em 1996) e escrevi numa tacada só.
Não
pretendo ser moralista e nem abraço nenhuma causa sobre essa vida. Minha
intenção é que as pessoas leiam e reflitam sobre a vida dessas pessoas, e
principalmente das milhares de meninas que acreditam que esse caminho é a
solução.
Rogerio
de C. Ribeiro
26/04/2014
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