Translate

segunda-feira, 21 de abril de 2014

MEUS CONTOS DAS SEGUNDAS

EU SEI QUEM VOCÊ É, MAS VOCÊ NÃO SABE QUEM EU SOU
PRIMEIRA PARTE

Tudo começou no dia que o telefone fixo tocou e Liliane Hurtz veio correndo apressada da cozinha para atender. Era um daqueles antigos aparelhos de telefones da cor preta, com um disco redondo e sem identificação de chamada. Coisas do seu pai, pensou Liliane, com sua mania irritante de ficar colecionando objetos antigos dentro de casa.
O som do toque antigo, TRIMMM TRIMMM TRIMMMM, irritou os nervos da moça. Pegou o pesado fone e disse:
- Alô!
No outro lado da linha só havia o silêncio, marcado pelos ruídos do aparelho.
Liliane era uma moça de 23 anos, e com essa idade as moças ainda não tem a mesma paciência de uma pessoa de meia-idade. Ela repetiu:
- Alôo...
Ouviu um clique. Ela olhou para o fone como se ele pudesse dizer qualquer coisa e o pôs no gancho. Podia ter sido um engano. Bem, seja lá o que tenha sido, ela resolveu voltar para a cozinha onde seu lanche da tarde estava te esperando, e esqueceu da ligação.
Mal ela terminou de comer seu sanduiche e esvaziado o copo de vitamina que sua mãe havia deixado na geladeira, ouviu o trimmm do telefone de novo.
Voltou para a sala, agora sem muita pressa, e foi até a mesinha do corredor que ligava a sala para os quartos, onde estava o telefone preto tocando sua irritante campainha.
- Já até imagino quem seja - pensou Liliane ao lado do aparelho, que insistia no antigo toque. - Aposto que deve ser o Eduardo...
Eduardo era seu colega na faculdade que estudavam, no curso de filosofia. Liliane desconfiava que ele estivesse interessado nela, mas nas poucas vezes que conversaram, ele sempre se mostrou tímido.
Liliane pegou o fone pesado e em tom suave, disse:
- Alô...
Silêncio.
Será que esse telefone está com defeito? Não me surpreenderia muito, por mim estaria num asilo de telefones caducos...
Tentou mais uma vez e disse, agora não tão suave assim:
- Oi, olá, alô, tá me escutando?
Ouviu um som de respiração funda como se estivesse puxando todo ar para os pulmões. E uma voz masculina disse:
- Liliane?
- Sim.
Silêncio de novo.
Liliane se viu no reflexo do espelho que tinha em cima da mesinha do telefone. Parecia ridícula segurando aquele fone pré-histórico na orelha.
- Alô...
- Oi, Liliane.
- Eduardo? - Arriscou ela.
- Quem?
- É Eduardo que tá falando?
- Não - disse a voz masculina.
- Quem é?
- Não se lembra de mim?
- Sei lá quem tá falando, não tenho a menor ideia...
Veio uma lembrança na sua cabeça. Liliane riu e disse:
- Já sei quem é!
- Sabe mesmo?
- Tio Denílson! - O tio Denílson era irmão da sua mãe, gostava de pregar peças, de dar sustos, de mentiras...
Mais uma vez o silêncio no outro lado da linha.
- Viu só, adivinhei! Tio, estou terminando de me arrumar pra faculdade e to meio atrasada para...
- Fiquei triste - disse a voz masculina. - Muito chateado.
- Tio...
- ASSIM VOCÊ ME MAGOA, LILIANE!!!
Liliane soltou o fone, que caiu pesado no chão. Levou um susto com o grito no seu ouvido. Mesmo com o fone caído, ela ainda podia ouvir sons vindo dele em palavras entrecortadas:
- Sei que nunca mais... era interessante...contou que...liane...liane...
Cautelosa, pegou o fone pelo fio em espiral e colocou-o no gancho. Com certeza não era seu tio. E nem Eduardo...

Continua dia 24/04/2014

Rogerio de Castro Ribeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário