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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

NADA É O QUE PARECE CAPÍTULO 46

No capítulo anterior: Maresia trancou a cara. Atrás dele surgiu Abelhão.
- O cara tá incomodando, Maresia?
Não havia ninguém no corredor naquela hora. Maresia olhou de um lado ao outro e disse:
- Tá. Xavier não quer mais papo com ele.
- Espera! Espera... - disse Aurélio. - Meu trato é com ele e...
Abelhão passou por Maresia e parou em frente de Aurélio. Puxou a pistola debaixo da camisa e puxou a trava. Apontou.
- Pode rezar... Xavier não gosta de merdinha como você!
Aurélio ficou vesgo com o cano na sua frente. Maresia disse:
- Perdeu, mané!

- Tem sete dias que saí daqui, mas parece que são sete meses - disse Belinda, sentada à mesa na cozinha.
A janela estava aberta e o sol invadia a cozinha. Fazia muito calor e Belinda bebia água. Vera estava sentada no outro lado da mesa, com um álbum na mão.
- Desculpe por ter te chamado assim, mas acredito que você pode me ajudar - disse Vera. Ela abriu o álbum e Belinda viu algumas fotos em preto e branco.
- Sem nenhum problema, dona Vera.
- Vou direto ao assunto, Belinda. Ontem achei esse álbum na garagem.
Belinda continuou em silêncio. Ela esvaziou o copo d'água e esperou.
- O que me estranha é que nunca tinha visto esse álbum antes.
- Mesmo?
- Com certeza, Belinda. - Vera puxou um retrato do plástico e estendeu para a frente. Belinda pegou e olhou. - Sabe quem é essa moça da foto?
Belinda olhou, virou o retrato ao contrário, olhou de novo e respondeu:
- Dona Vitória mais nova. - Devolveu a foto.
- Não, errou.
- Ué... É dona Vitória sim!
- Minha mãe tinha quinze anos em 1961. E essa mulher não tem cara de adolescente nem aqui, nem na China.
Belinda pediu licença e puxou o álbum. Virou as páginas e decretou:
- Dona Vera, essa moça é sua mãe sim.
- Aí que está, Belinda. No início também acreditei nisso. Mostrei para minha mãe e ela disse um nome.
- Que nome?
- Gláucia. Você conheceu alguém com esse nome?
- Gláucia... - repetiu Belinda.
                              *******************
Aurélio ficou vesgo enquanto olhava o cano da pistola na sua frente. De relance percebeu que Abelhão sorria, um sorriso sádico.
De repente a arma baixou. Maresia agarrou o braço do capanga e disse, zangado:
- Tá maluco, Abelhão?
- Aposto que ele se cagou todo - disse Abelhão ainda sorrindo enquanto guardava a pistola. - Xavier me deu ordens em despachar esse idiota pra bem longe.
Recuperando um pouco de fôlego, Aurélio disse:
- O que está acontecendo?
- O que tá havendo é o seguinte - disse Maresia. - Xavier depositou toda confiança no seu sucesso e agora tá se aporrinhando com o cliente.
- Eu pedi um prazo maior...
- Chega de prazos - Eles continuavam parados no corredor. - O cliente tá quase desistindo do negócio.
- Não foi isso que ouvi da mulher...
- Que mulher?
- Não sei quem é ela, mas pelo jeito como falou sabe muito bem do negócio.
Maresia agarrou Aurélio pelo colarinho e disse:
- Que história maluca é essa de mulher?
Aurélio se afastou.
- Também queria saber.
- Olha, vou te dar um conselho... some daqui, nunca mais apareça por aqui. Se tentar mais uma, quem vai te apontar uma arma sou eu... e atiro na tua cara!
Maresia e Abelhão entraram no escritório e bateram com a porta na cara de Aurélio.
"E essa agora? O que vou fazer?"
                        ***********************
- Mulher? - disse Xavier, coçando o nariz com um pano.
- Foi o que ele falou - disse Maresia.
Xavier largou o pano em cima da mesa e murmurou:
- Esse cara tá com alguma coisa em mente... e não tô gostando nadinha.
- O que vai fazer?
- Ainda não sei... vou fazer uma ligação... Vamos ver o que ele vai falar...
                        **************************
Belinda respondeu:
- Não conheço e nem conheci nenhuma Gláucia, dona Vera.
- Puxe pela memória...
Belinda sorriu, constrangida:
- Olha, se tivesse conhecido alguém com esse nome, certamente te diria.
Vera reclamou:
- Belinda, você serviu à minha mãe durante trinta anos. Não é possível que nesses anos todos não tenha ouvido algo vindo dos meus pais...
Belinda cortou:
- Dona Vera, assim a senhora me ofende. Nunca ouvi nenhuma conversa particular dos seus pais. Sempre soube onde era o meu lugar nessa casa.
Vera se levantou e caminhou até a janela. Dali, via o canil abandonado e o viveiro vazio.
- Como foi que minha mãe te contratou?
- Senhora??
Vera virou-se e disse, ríspida:
- Pelo que me lembro, mamãe sempre foi exigente com empregados. Tem uma coisa que me encasqueta... Como conseguiu aturar o gênio instável da minha mãe?
- Sua mãe tinha um gênio difícil, mas eu sempre soube lidar com isso...
- Belinda, você está mentindo...
Os olhos da negra arregalaram. Vera apontou o dedo e decretou:
- Você conheceu essa Gláucia! Não minta mais... Conte a verdade...

Continua...

Rogerio de C. Ribeiro

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