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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

NADA É O QUE PARECE CAPÍTULO 43

No capítulo anterior: Enquanto abraçava Dequinha, Fernanda não conseguia segurar o sorriso. Adorou  ver a decepção na cara do idiota.
"Tá achando que as coisas são fáceis - pensou ela, acariciando os cabelos da menina que dormia chupando o dedo. - Vai aprender que comigo as coisas não são como quer... Vamos transar sim... só que vai ser no seu quarto, na cama que tua mulher dorme! Ali sim, abro as pernas pra você... Só ali!"


Mal amanheceu o dia e Fernanda já estava a postos na cozinha, preparando o café da manhã. Eram seis horas da manhã e ela já estava de pé uma hora antes; ainda era madrugada quando foi ao portão e viu Jayme em pé ao lado de um poste fumando um cigarro.
O sujeito se aproximou do muro e a moça disse, depois que tirou o anel que surrupiara do baú da velha senhora e entregou a ele:
- Toma, vê quanto vale.
Jayme virou o anel entre os seus dedos e comentou:
- Espero que o suficiente pra você sair daí logo.
- Não tem motivo pra tanta pressa - sussurrou Fernanda. - A trouxa da patroa confia em mim...
- Por enquanto - disse Jayme. - Mas vamos que sua tia solte pra alguém do bairro quem é você?
- Ela não faria isso...
- Não garanto não... e sabe quem mora em frente da birosca? Belinda.
Fernanda não disse nada. Jayme continuou:
- E a irmã dessa tal de Belinda que intermediou sua vinda...
Fernanda balançou a cabeça e rosnou:
- Para com isso, Jayme! Dessa vez nada vai dar errado! Vá, vê quanto vale esse anel. De onde isso veio tem mais. Pode ser nosso pulo do gato!
Jayme guardou o anel no bolso da sua calça de linho, deu um beijo nos lábios da moça e disse:
- Tô contando as horas pra te pegar de jeito na nossa cama...
- Todo sacrifício é válido pra gente ficar rico, meu bem - disse Fernanda, entrando na casa.
Agora na cozinha, matutava sobre uma ligação que ouviu de Vera. O que ela queria com a antiga empregada?
"Espero que minha tia não tenha falado mais que devia..."
Se fosse isso, Jayme ia ter que dar um jeito naquela cachaceira...
                                ************
Aurélio acordou mal-humorado. Bem azedo. Praticamente tomou o café da manhã mudo, evitando olhar para a nova empregada. Seu ego machista foi arrebentado quando não conseguiu concretizar seu plano. Fernanda também evitou o patrão. Para ele, ela devia ter se arrependido de ter deixado Dequinha dormindo no seu quarto. "Ora bolas! Desde quando ela foi contratada para ser babá de uma pirralha medrosa?", pensava ele enquanto esvaziava a xícara de café. Pegou sua pasta e saiu de casa sem falar com sua esposa, que ainda dormia.
Sentia que tudo ia dando errado nesses últimos dias. Não sentia mais a tranquilidade que tinha dentro do mausoléu. Sua garantia de envelhecer ao lado de Vera desmoronava como um castelo de baralhos.
Estava sentindo uma estranha sensação dentro de si, como se o avisasse que Vera tomaria uma decisão logo em relação ao casamento.
E se viu saindo dali, sem eira nem beira, sem nenhum tostão furado no bolso, à mercê da vida real.
Enquanto descia a colina, matutava sobre tudo isso. E um leve desespero tomava conta de si.
                                 ************
As crianças tinham ido ao colégio naquela Kombi enferrujada e a imbecil da patroa ainda dormia. A velha esclerosada a esperava no seu quarto, ainda de camisola e fraldão mijado, mas Fernanda não tinha pressa de atendê-la.
Estava sentada à mesa da cozinha com o papel que encontrara no bolso da camisa do tarado impotente. Girava a folha de um lado ao outro, pensando o benefício que teria com aquilo.
Dois dias atrás ouviu Aurélio tentando convencer que Vera vendesse o casarão, e o fora que levou dela. Desse dia até hoje não se falou mais disso.
- Significa que o merda é tão ruim que não conseguiu nada...
Cem mil... Era um dinheiro bem atraente. Fernanda dobrou o papel e pensou:
"Dessa vez não vou entrar em nenhuma furada com Jayme. Vou deixar que ele pense que ainda somos parceiros... Mas o que quero mesmo é meter a mão numa bolada forte..."
Por isso não falara nada com ele sobre a carta. Esse era seu negócio; pra Jayme, ela estava ali pra roubar joias. Mas pra que correr esse risco se podia ser dona de tudo?
E era tão simples... Aurélio ficaria caidinho por ela e faria tudo que mandasse...
Principalmente se sua esposa morresse!
                               **************
Vera acordou com o celular tocando. Tateou pela mesinha ao lado, derrubando sem querer um copo de água pela metade e encontrou o aparelho. Ainda com os olhos fechados, atendeu.
- Alô... - resmungou com uma voz pastosa.
- Bom dia, Vera. Sou eu, Rodrigo.
Vera fez uma careta e viu as horas no relógio de cabeceira. Não eram nove horas ainda. Percebeu também que Aurélio já tinha se levantado.
- Me acordou... - disse ela, triste.
- Desculpe... Não sabia que ainda tava dormindo.
- Não se preocupe. Já tá na hora de levantar mesmo...
- Queria te ver. Ontem nem dormi direito por causa da cena que minha ex-mulher aprontou...
- Deixa pra lá. - Vera sentou-se na beira da cama. Pousou o celular no ombro e caminhou ao banheiro. - Hoje não posso sair de casa, tenho que resolver algumas coisas...
- Posso te ajudar? - Perguntou Rodrigo, solícito.
- Por enquanto não. Mas se eu precisar, pode ter certeza que te chamo.
Houve um breve silêncio no outro lado da linha. Vera pensou que a ligação tivesse caído, mas logo em seguida ouviu a voz dele:
- Amanhã... eu vou passar o final de semana com as crianças. Podemos nos encontrar em Itaipu... Um almoço...
Vera considerou o convite com carinho.
- Boa ideia. As crianças precisam sair mesmo... você não imagina o que estão aprontando com a nova empregada... De repente, com seus filhos eles acalmem um pouco...
- Mais tarde te ligo pra combinar o lugar.
- Espero sua ligação então - disse ela, desligando o celular. Deixou o aparelho em cima da pia e se olhou no espelho. Sua cara refletida mostrava um rosto abatido.
Belinda ia vir para conversar. Não via a hora para desvendar aquele mistério do estranho álbum.
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Fernanda entrou na sala principal. A cadela da sua patroa ainda continuava enfurnada na suíte real. Que ela ficasse lá, de preferência para sempre! Passou os olhos pelos móveis e encontrou o que queria.
Caminhou para a poltrona do impotente de pau pequeno e pegou o livro que ele deixara na mesinha ao lado.
- Cem anos de solidão... Que título mais escroto! - ela resmungou. Abriu o livro pelo meio e pegou no bolso do avental a carta que guardara. Deu uma espiada no teor e riu. - Cem mil reais... Vamos ver se a vaca é esperta... Acho que é... - Colocou a carta dobrada com a escrita para fora e colocou no meio do livro, tomando cuidado que as palavras CEM MIL REAIS ficassem à mostra. Fechou o livro e foi à mesa que a idiota costumava trabalhar. Deixou o livro ao lado de uma pilha de pastas de processos e se afastou. Voltou para a cozinha, com um leve sorriso no canto dos lábios.
"Depois que ela ler essa cartinha indecente, com certeza vai escorraçar o babaca... e aí entro em cena... Pra que cem mil se ele pode embolsar um milhão? E eu ao lado dele, depois que ficar viúvo? "
Ela arquitetou tudo. Só que ninguém podia desconfiar... e esse ninguém significava sua tia e Jayme...
Fernanda gostava de apostar alto... E de ganhar...

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