RELAÇÕES DE UM CASAL À BEIRA DA FALÊNCIA
Era minúsculo o quarto do casal; ali
dentro mal cabia a velha cama de estrado com o colchão forrado que camuflava
alguns buracos e a cabeceira de madeira
lascada; acima da cama, um crucifixo
pregado mostrava Jesus mirando o teto que um dia fora da cor branca e
atualmente se aproximava mais para um cinza fosco; o armário de duas portas em que
uma delas vivia escancarada e a gigante e sólida penteadeira de espelho duplo e
quatro pesadas gavetas que Lizaura herdou de uma tia-avó que mal conhecera em
vida. Eunásio já tinha se acomodado no lado direito da cama que dormia vestindo
seu único e indefectível pijama de listras verticais nas cores amarelo e verde abacate.
Ele mantinha as canelas finas esticadas e balançava os dedos dos pés para
relaxar. Pegou um comprimido da cartela que deixava na pequena cômoda ao seu
lado, o copo d'agua pela metade e empurrou o remédio numa só golada. Desde o
fatídico dia que em que dormiu empregado e na manhã seguinte acordou
desempregado, os comprimidos passaram a ser seus maiores aliados na eterna luta
contra enxaquecas que o atormentavam nesses últimos três e intermináveis anos.
Lizaura veio do banheiro usando uma
camisola verde água com detalhes de flores em cores berrantes. Ela fechou a
porta do quarto e ainda úmida, sentou-se na cama, no seu afundado lugar. Eunásio
notou, escondendo o desagrado que sentia, que ela pintara seus cabelos num
esfuziante e chamativo cor-de-abóbora, desistindo daquele azul lilás que
cultivou durante duas semanas. Ela também pintava as grossas sobrancelhas na
mesma cor, mas seu buço crespo mantinha descolorido por água oxigenada. Ela
dizia e repetia à exaustão: "As
mulheres chegando numa certa idade tem a obrigação e o dever de manter a beleza
e o frescor da juventude, nem que para isso se todos sejam utilizados quaisquer
artifícios e milagres que só um salão é capaz de realizar!" Eunásio
não acreditava muito nesses artifícios e falsos milagres dos salões de beleza.
Pelo menos, no que dizia à sua mulher. Mas a vaidade extrapolava nela, a
conhecera assim, e nada que dissesse mudaria a opinião dela.
Quando Lizaura terminou de passar creme
hidratante nas suas pernas marcadas de varizes, ela simplesmente se estirou na
cama e grunhiu um boa-noite chocho.
- Joguei o cartão no lixo - disse Eunásio,
ainda encostado nos dois travesseiros. Na verdade ele falou mais consigo mesmo;
nem esperava que a mulher ouvisse algo além dela mesma falando.
Deitada de costas para ele, Lizaura
murmurou na sua voz rouca e nada sensual:
- Que cartão?
- Chegou uma correspondência para mim
no escritório e era um cartão de crédito.
Súbito, Lizaura virou-se e apoiou o
cotovelo no travesseiro.
- Como pegou um cartão com o nome
cagado?
Por que manias tinha que falar tudo para
ela? Era o maldito hábito de querer contar tudo que lhe acontecia durante o dia,
por mais que ela não mostrasse nenhum interesse. O jeito como ela o encarava
agora fez Eunásio tremer por dentro; mesmo depois dos quarenta anos e com dois
filhos adolescentes sob o mesmo teto, Lizaura exercia aquele terrível poder em
diminuí-lo só com aquele olhar fixo e brilhante, e do jeito como soltava entre
dez palavras ditas, um palavrão.
- Aí que está - disse Eunásio, sentando-se
com as costas retas na cabeceira e com os braços ossudos cruzados no raquítico
peito. - Não pedi nada mas chegou assim mesmo.
Agora a curiosidade tomou conta da
mulher. Sobre o buço crespo e descolorido, seus lábios molhados arreganharam
num rosnado:
- E estava em seu nome?
- Bem... - Eunásio fez uma pausa e
mediu as palavras, - tinha o nome de
"Eunásio Pindo". Pode ser um homônimo meu.
Lizaura riu. Sua risada era cruel,
rouca, gutural.
- Essa não! Mais um idiota com esse nome
escroto!
Eunásio se contraiu, apertando ainda
mais as mãos ossudas nas costelas. Uma vez tive que
perguntar - lembrou-se, - Por mais que eu não quisesse perguntei o que havia com ela... e
Lizaura me respondeu...
Não queria alimentar essa lembrança,
por isso virou o rosto e estudou a única iluminação no quarto que vinha da
persiana semifechada da janela, um feixe amarelo oriundo dos postes de luzes de
mercúrios da rua. E um pedaço dessa claridade batia em cima no rosto de
Lizaura, deixando-a com uma aparência doente, como se tivesse hepatite ou
icterícia.
- Sei que meu nome não é popular - Eunásio
contemporizou. - Mas tem nomes piores por aí...
- Duvido - Lizaura arreganhou os lábios
que viviam molhados. Mostrou o resto dos
dentes que sobravam amarelos, mas que
com a luz da rua ficaram laranjas . - Às vezes fico pensando comigo mesma onde
foi parar sua inteligência? Não consigo acreditar que você tomou um chá de
burrice depois que saiu daquele lugar. Pense nisso, porra! Deu pra ficar tão
inocente que não enxergou o óbvio? - Lizaura ajeitou o cotovelo e aproximou o
rosto dele. Há muito tempo que não ficavam assim tão próximos, só que
antigamente o hálito dela era melhor. - Se chegou um cartão de crédito com esse
nome escroto, claro que é seu, merda! Como iam mandar para o sujeito errado
para a empresa que você trabalha?
Eunásio podia argumentar que talvez
fosse uma brincadeira do Maurílio, mas preferiu omitir essa parte. Se ela o
humilhava com pouco, sabendo que era caçoado na empresa como se fosse um novato
em seu primeiro emprego, aí mesmo ela, seus filhos e seu cunhado acabariam com
ele num piscar de olhos e palavras.
- Tem razão - Eunásio concordou. Sentia
suas mãos suadas embaixo das axilas. Estendeu os braços e ficou tentado em
tomar outro comprimido para enxaqueca.
- Já é tarde e você tem que acordar
cedo amanhã - Lizaura rosnou. - Só me diga o que fez com o cartão?
- Quebrei-o ao meio e joguei fora.
Lizaura arregalou os olhos e parecia à
beira de uma síncope homicida:
- Seu animal! Idiota! É um zé-mané mesmo! Merece
morrer na merda de tanta burrice!
Eunásio fechou os olhos. A voz da
mulher ecoava dentro do pequeno quarto de casal e retumbava nos seus ouvidos.
Basta. Chega. Eu mereço isso. Mereço.
- Fiz o que achei certo.- Tentou
mostrar firmeza nas palavras, mas a voz falhou.
- Esse seu "certo" sempre se
mostra errado, palerma - Lizaura contorceu o corpo mole para fugir de um buraco
no colchão. - Não enxerga nossa situação, cara? Temos dívidas até a raiz dos
cabelos, é conta pra tudo que é lado... E como sempre você não faz porra
nenhuma pra que a gente sair desse pesadelo... E quando surge uma oportunidade,
você joga fora! Nem parou pra pensar no limite desse cartão.
- Nem pensei nisso. Talvez nem tivesse
limite.
- Todos cartões de crédito tem um
limite, porra! Nem que fosse cem reais! Já dava pra pagar alguma coisa! Teu
nome tá sujo mesmo. Não faria nenhuma diferença se mexesse no limite.
Não, para mim nunca faz diferença. É
meu nome que sujou, não foi o seu e nem do seu irmã, pensou, amargurado.
Essas dívidas que ela falou nada mais era que os infindáveis crediários que
usou com os filhos naquelas lojas de marcas que eles tanto adoravam. No tempo
que trabalhou naquela outra empresa tudo era mais fácil, ele sempre dava um
jeito para pagar tudo, mas quando ficou três anos desempregado, tudo mudou, o
dinheiro ficou mais escasso, dependiam das economias que ele guardara, mas uma
hora a fonte secou mas a voracidade de consumir era inesgotável, por isso
chegaram nesse ponto crítico. Agora, há vinte e um dias no novo emprego, cuja
remuneração não chegava a nem um terço do que ganhava antes, sua mulher
acreditava que podia gastar como gastava antes. Enquanto ele enfrentava um
ônibus lotado para ir e vir do estaleiro, sua "prendada" esposa
aquecia o colchão da cama até dez horas da manhã e seus filhos, Valdo - que
faria dezoito anos em um mês - e Cininha, com dezesseis anos, estudavam e mal
paravam em casa, mas sempre exigiam mesadas para seus divertimentos. E Lizaura
era responsável para isso:
"Enquanto Pedrinho tem tudo do bom
e do melhor, nossos filhos têm essa pobreza de merda! Acha que eles não gostam
de vestir roupas de marca? Valdo sai com o primo e fica envergonhado com os
trapos que usa. E Cininha? Ela tem amigas, gosta de ir nas baladas. Ela me
disse que fica envergonhada quando uma amiga dela mostra uma pulseira nova que
ganhou dos pais. E a coitadinha nem pode contar com seu pai pra lhe dar uma
pulseira decente! Eunásio, tá na hora de criar colhão de homem de verdade para
mudar isso! Assuma para si mesmo que nossos filhos merecem muito mais que essa
esmola que você proporciona para eles!" - Era um dos discursos que Lizaura
repetia à exaustão, toda vez que Eunásio dizia que precisava economizar
dinheiro.
"Ela fala tanto dos nossos filhos?
Lizaura, você como mãe precisa enxergar o óbvio. Seu mal é querer passar a mão
nas cabeças deles sempre. Por causa dos seus mimos, você os estragou, deturpou
a verdade com um véu consumista. Por isso que os dois não querem nada com a
hora do brasil. Falam para você que não podem trabalhar porque estudam, mas sei
muito bem que a história é bem diferente."
Um dia foi pego de surpresa com a
ligação do diretor do colégio que Valdo estudava, solicitando sua presença com ele. Nessa época
continuava desempregado, com o as portas do mercado de trabalho trancadas para
ele.
Seu filho estudava em um dos melhores
colégios estaduais de Niterói, no Liceu Nilo Peçanha, e só conseguiu vaga
graças à amizade do seu tio Ambrósio com um vereador. Eunásio conhecia o
colégio só de vista, quando ia ao Centro, e na primeira vez que entrou no
saguão da escola ficou impressionado com o estilo neo-clássico e do tamanho da
escola. Um recepcionista o acompanhou até uma sala com piso de madeira corrida
no segundo andar. Ficou sentado reto em uma antiga cadeira ao lado da porta do
Diretor. Depois de quase uma hora suando mesmo com um antigo ventilador de teto
batendo preguiçosamente suas pás acima da sua cabeça, a porta da sala do
Diretor abriu e uma mulher que devia beirar os setenta anos pediu que ele
entrasse.
Quando viu aquele homem sentado atrás
de uma mesa secular, Eunásio calculou que devia ter entre 35 a 40 anos no
máximo. Ele era alto e deu a impressão que praticava esportes pelo tamanho do
tórax e dos grossos braços. Seu cabelo era grosso e cheio, e um cavanhaque
aparado.
O Diretor apontou para uma cadeira na
frente e disse, sério:
- Seu filho foi pego fumando maconha na
quadra de esportes.
Eunásio foi pego de surpresa. Não
conseguiu emitir nenhuma palavra devido ao choque. O Diretor permanecia ereto e
atlético na sua cadeira com a expressão no rosto fechada. Atrás dele haviam
dezenas de retratos na parede com antigos diretores que também o encaravam com
austeridade. Sua vontade foi que o chão abrisse embaixo dele para que pudesse
se esconder daquelas recriminações mudas. Mas tomou coragem e humildemente,
perguntou:
- Ele estava sozinho? - Foi a única
coisa que conseguiu pensou naquele instante.
O Diretor explicou que não, Valdo
estava com mais dois colegas.
- O problema é que os dois são mais
jovens que seu filho.
Naquele tempo Valdo tinha dezesseis
anos. Se os outros garotos eram mais novos, que idade teriam?
Durante quarenta minutos ouviu calado o
Diretor exaltando a saúde, o esporte, a importância dos conselhos dos pais
contra más companhias e blá blá blá... A única coisa que Eunásio fazia era
balançar a cabeça, concordando com cada palavra dita pelo atlético e saudável
Diretor.
Por fim ouviu o que não queria:
- Por consideração ao doutor Neivaldo -
Eunásio soube depois que esse doutor era o vereador amigo do seu cunhado - e ao
Sr. Ambrósio Lampréia, decidi não tomar nenhuma atitude mais drástica em
relação ao futuro do seu filho na minha escola. Se fosse outro aluno, já tinha
assinado o formulário da sua expulsão. Mas nesse caso, vou apenas suspender seu
filho por uma semana. Espero que ele reflita sobre esse castigo e que nunca
mais faça isso novamente. - O Diretor entrelaçou os grossos dedos da sua mão e completou:
- Espero também que o senhor mostre para seu filho que maconha não leva nada.
Pelas últimas palavras do Diretor
estava implícito que Eunásio era culpado pela transgressão do seu filho. Sua
vontade foi dizer que aquilo era coisa de adolescentes, mas as palavras
morreram na garganta. Preferiu ficar em silêncio e ficou aliviado quando saiu
daquela sala para bem longe dos olhares reprovadores do atlético Diretor e para
os outros rostos dos retratos da parede.
De noite, chamou Valdo para conversarem
na varanda da casa. O rapaz, contrariado, disse:
- Agora? O pessoal tá me esperando para
irmos a uma "rave" no...
- A "rave" pode esperar. O
assunto é sério. O diretor da tua escola...
Valdo riu.
- Ele chamou por causa daquilo?
- Foi.
A resposta que ouviu do filho estava
guardada dentro dele até hoje.
- Ainda bem que ele te chamou. Se fosse
meu tio, eu tava fodido agora.
Antes que Eunásio replicasse, o garoto
acenou para a rua. Um grupo de rapazes estavam parados na esquina.
Ele deu as costas e se apoiou no
pequeno portão de ferro, deu um impulso e pulou no outro lado. Enquanto isso
Eunásio continuava parado na varanda vendo seu filho se afastando gradualmente
na rua deserta.
Detestava aquela sensação de
inoperância com seu filho. Sabia que grande parcela de culpa era de Lizaura,
mas mesmo sabendo disso, aquilo lhe doía profundamente.
Mas também havia sua filha. Normalmente,
as filhas são grudadas com os pais, mas esse não era o caso de Cininha. No
tempo que procurava emprego não era raro ver sua mulher aos cochichos com
Cininha enquanto apontava para ele. Uma vez, ia para a cozinha beber água
quando ouviu, em alto e bom som, Lizaura falando com sua filha, no sofá de três
lugares da sala:
- Olha o meu exemplo. Preste bem
atenção, Cininha. Nunca se case com um derrotado.
E ainda viu o olhar de Cininha para
ele, um misto de espanto e asco:
- Eu, hein, prefiro morrer solteira!
Também nessa época sua filha, com
quatorze anos, aparecia em casa com um namorado diferente todas semanas. A
maioria eram rapazes da mesma idade dela, mas uma noite apareceu com um jovem
alto, com a barba por fazer, e que com certeza não tinha mais quinze anos.
- Mãe - anunciou Cininha, uma menina de
quatorze anos e de mãos dadas com o jovem. Eunásio jantava sentado no sofá,
equilibrando o prato de arroz, feijão e carne moída enquanto assistia o Jornal
Nacional. - Esse é Uidemar.
Lizaura veio da cozinha e enxugou a mão
com um pano de prato antes de apertar a mão do rapaz. Cininha nem se deu ao
trabalho de apresentar o pai. Lizaura era só dedos e mesuras com o garoto. E na
hora que perguntou a idade dele, Eunásio engasgou com a janta quando ouviu a resposta:
- Tenho vinte e seis anos, senhora - E
ainda tinha voz de malandro.
- Esquece senhora, me chame de Lizaura
- comentou sua esposa que nessa noite exibia um cabelo vinho tinto e como
sempre, o buço descolorido. Ela sorriu exibindo a falta de alguns dentes e
Eunásio teve impressão que ela também lançava um olhar guloso para o jovem.
Lizaura preparou uma comida especial
para Cininha e o novo namorado dela. Depois que comeram, se agruparam todos no
sofá de três lugares, expulsando Eunásio para a cadeira de fórmica que tinha
uma perna bamba.
Cada vez que Eunásio tentava puxar
conversa com Uidemar era interrompido por Lizaura, que estava sentada entre os
dois:
- Eunásio, vê se ferveu a água do café
- e outro momento que ele ameaçava falar, sua mulher o lembrava: - Já tirou
suas cuecas do varal? - E quando Eunásio ia protestar quando viu Uidemar
sugando os lábios de Cininha (aquilo nunca podia ser chamado de beijo) e com
uma mão boba nos pequenos seios da menina, Lizaura, que agora vinha do banheiro
depois de um banho e empesteada de perfume, advertiu: - Deixa os pombinhos em
paz, estrupício. Ao invés de ficar aí olhando os dois, pense primeiro em
arrumar um emprego para "tentar" ser novamente o homem da casa...
Cininha riu. Uidemar também riu.
Lizaura riu tanto que seus lábios molhados tremiam e o buço descolorido
dançava. E Eunásio apenas se levantou da cadeira trôpega de fórmica, e no mais
completo silêncio foi para a varanda, sentou na amurada, observou sem ver as
pessoas que iam e vinham pela rua e chorou.
Nesse tempo de desemprego houve outras
vezes que sentia o desespero minando dentro dele, principalmente quando chegava
em casa após mais um dia perdido à procura de trabalho.
Sua vida inteira só havia trabalhado de
contador em um só lugar, na mesma empresa. Foram vinte anos sem uma falta,
vinte anos dedicado ao sucesso da firma, vinte anos para o mesmo patrão. Mas
agora quando apresentava seu curriculo nas empresas, a resposta que tinha era
que não havia espaço para ele. Portas e mais portas trancadas para a única
coisa que sabia fazer.
Essas lembranças assolaram enquanto
Lizaura continuava com sua ladainha roufenha. Decidiu que não queria ouvir mais
nada nessa noite. Eunásio se enfiou debaixo do lençol, puxou-o até o queixo,
fechou os olhos e ficou no mais completo silêncio e acabou dormindo apesar de
Lizaura se queixando do seu eterno dom de ser fracassado e idiota.
Na manhã seguinte, Eunásio tinha a
cabeça enfiada em vários relatórios errados, acertando uma coisa aqui, anotando
com caneta vermelha os que não davam para acertar, tão compenetrado que mal
ouvia Maurilio e os outros conversando e nem o barulho do ar condicionado, mas
sentiu que cutucavam seu ombro. Saiu do transe que se encontrava e de repente
os sons vieram, Maurilio contando uma piada e Xuvisquem se dobrando em
gargalhadas, Birinha e Andrezinho discutindo futebol, o característico som do
ar condicionado e a voz de Kellerson, o contínuo viciado em palavras cruzadas dizendo:
- Seu Eunásio...
Eunásio levantou os olhos aumentados
pelas grossas lentes dos óculos e viu o envelope na mão do rapaz.
- Pro senhor. - disse Kellerson que
jogou o envelope em cima da mesa e saiu para entregar outras encomendas aos
colegas do escritório.
Eunásio largou a caneta em cima do
relatório e com a mão trêmula pegou o envelope com cuidado, como se pudesse
morde-lo. Era novamente um envelope antisséptico, impessoal, escrito à mão com
caneta azul o seu nome em letras miúdas: EUNÁSIO PINDO.
Rasgou o envelope e encontrou outro
cartão de crédito de cor preta com letras douradas, e junto dele um pequeno pedaço
de papel dobrado caiu de dentro sobre sua organizada mesa. Eunásio desdobrou o
quadrado de papel e leu as palavras que foram escritas à mão em uma caligrafia
infantil:
"Conforme solicitação, a segunda
via do seu cartão."
Continua.
No próximo capítulo:
OS COLEGAS DA EMPREITEIRA
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