I
Quando
deu por si percebeu que estava parado em frente do pequeno muro branco que
cercava a casa amarela. Por um momento continuou ali em pé, curioso com aquele
local. Sentiu uma leve brisa refrescando seu rosto apesar do céu azul sem
nuvens. Olhou para os lados e viu que não havia nenhuma casa vizinha. Tirando
aquela casa amarela, um vasto campo de um verde vivo e fulgurante enfeitava o
bucólico lugar.
O
que mais chamava sua atenção era o silêncio que imperava no lugar. Não ouvia
nenhum canto de pássaro, nem zumbido de inseto, nem o som do restolhar das
folhas. O silêncio era absoluto, quase palpável.
Atravessou
pelo portão aberto e caminhou lentamente pela alameda ornamentada por pedrinhas
circulares que massageavam seus pés descalços. Do portão até a varanda da casa
nem trinta metros chegava, e ele anotou mentalmente o mato que contornava a
alameda. No decorrer dos seus passos a brisa no seu rosto cessou de repente.
Mas apesar do sol não sentia calor.
Chegou
no final da alameda e subiu os três degraus que levavam até a varanda aberta,
desprovida de qualquer objeto e de móveis. Viu a porta da frente aberta e a
moça de uniforme branco, sorrindo.
Calculou
que ela não devia ter mais do que vinte anos. Não era bonita, mas tinha um
luminoso sorriso. Quando ficaram frente a frente, a moça de uniforme disse:
-
Seja bem vindo, Jorge. - Ela apontou para o interior da casa amarela. - Se
acomode em qualquer cadeira. Os outros já estão vindo.
Ele
continuou no mesmo lugar, surpreso.
-
Fui o primeiro a chegar?
A
moça de uniforme concordou.
-
Dessa vez não vou ouvir Gilda reclamando dos meus atrasos. - Jorge riu e entrou
na casa. Quando pisou na sala, o sorriso morreu nos lábios.
-
Não é possível - Jorge murmurou, espantado com o que viu. - A sala é muito
parecida... Não, quase idêntica à casa dos meus avós...
Diante
dos seus olhos viu uma sala de tamanho médio com uma mesa de madeira no formato
oval, cadeiras com encostos e assentos de palhas organizadas lado a lado pelas
paredes nuas. No lado direito tinha um arco que dava para o corredor com várias
portas fechadas. O cheiro de casa antiga instigou suas memórias afetivas.
Ouviu
a moça de uniforme falando atrás dele:
-
Pode escolher qualquer dessas cadeiras, Jorge. Quando todo mundo chegar, o
Doutor virá atende-los.
-
Essas cadeiras me lembram tanto quando visitava a chácara dos meus avós. Estou
impressionado com a semelhança delas - Jorge divagou. A moça não comentou nada,
ela voltou para o seu lugar na varanda, deixando ele sozinho.
Ouviu
a moça falando da varanda:
-
Por aqui, seja bem vinda, Simone.
II
Quando
ela atravessou o portão e pisou na alameda em direção da casa amarela, colocou
as mãos na boca para conter o grito e fascinada, arregalou os olhos. Seu
fascínio era tanto que sentiu uma leve e doce tontura. Mesmo com as pernas
tremendo foi andando pelo jardim da alameda.
Havia
uma infinidade de flores que não sabia qual ia admirar primeiro. A variedade
era imensa em cores e fragrâncias. Simone viu rosas vermelhas, rosas amarelas e
brancas, camélias, margaridas do campo, orquídeas, crisântemos, e mais um
tanto, tão bela como todas, que precisaria de uma enciclopédia botânica para
poder distingui-las uma a uma.
Simone
não se conteve e ajoelhou-se ao lado de
um buquê de chuva de prata, flor com pequenos botões branco, fina, delicada,
muito usada para dar acabamento em buquês e arranjos de casamento. Passou
levemente os dedos pela flor e ficou inebriada. Estava tão compenetrada que mal
ouviu seu nome sendo chamado. A contragosto ergueu os olhos e viu uma moça que
devia ter sua idade na varanda da casa acenando para ela.
Simone
levantou-se bem devagar e mesmo de pé continuou admirando a pequena flor. Só
depois que ouviu a moça a chamando novamente seguiu em frente. Quando se
aproximou dos degraus que levavam à varanda virou o rosto para trás para dar mais
uma olhada nas flores.
Ela
subiu os degraus e a moça de branco disse:
-
Seja bem vinda, Simone, por favor, entre e sente-se, assim que todos chegarem,
Dr. Carlos virá recebê-los.
-
Essas flores - disse Simone, - são fantásticas!
-
São seus olhos.
-
Não, é verdade. Nunca vi tantas espécies diferentes juntas no mesmo lugar.
A
moça de uniforme branco sorriu e apontou para dentro. Simone entrou pela porta
e viu um homem sentado em uma cadeira. Ao lado dele tinha uma mesa forrada com
uma toalha rosa clara com flores campestres desenhados à mão. Sobre a mesa, um
vaso vazio.
Cumprimentou o homem com um simples e tímido
aceno e sentou-se na cadeira ao lado.
Estudou
a sala. Gostou da cor das paredes, de um creme discreto, do quadro pendurado
que mostrava um campo de margaridas e das cortinas nas janelas.
-
Já veio aqui antes? - O homem sentado ao seu lado quebrou o silêncio.
-
Não - Simone respondeu, mantendo a voz em um tom baixo. - Mas se soubesse que
tinha esse lindo jardim, teria vindo.
-
Para mim é um jardim igual a tantos outros. - O homem comentou.
Quando
Simone ia replicar, ouviu vozes no lado de fora da casa.
III
Célia
torceu o nariz quando atravessou o portão. Pisava com cuidado enquanto
caminhava naquela alameda forrada de pedras sujas, e esnobou o pequeno jardim
que tentava a todo custo enfeitar aquela casa horrorosa. Quando subiu os
degraus para a varanda, deu uma parada para pegar seu lenço de seda na bolsa.
Viu que não tinha bolsa pendurada no seu ombro. Estranho. Nunca saía de casa
sem a bolsa e seus documentos.
Na
sua frente viu a moça de uniforme branco sorrindo para ela. Célia fechou a
cara, contrariada.
-
Seja bem vinda... - disse a menina, mas foi cortada abruptamente:
-
Pode anunciar que Célia Bangstorm chegou?
-
O doutor está aguardando a senhora. - disse a moça sorridente, não parecendo
contrariada de ter sido cortada.
Célia
olhou-a de cima para baixo e avaliou-a como se fosse um objeto sem valor. Achou
que fosse a criada da casa, mas o modo dela ali, sorrindo, não lhe agradou. Se
fosse sua empregada, a primeira providência seria que nunca, mas nunca mesmo,
devia exibir os dentes para um convidado.
-
Mas como não se faz mais empregados como antigamente... - disse Célia, passando
pela moça, exibindo sua elegância e altivez.
Avaliou
o casal na sala e mais uma vez fechou a cara.
-
Onde fui me meter..., pensou em voz alta.
-
A senhora pode escolher uma cadeira... - comunicou a moça.
-
Essas cadeiras estão limpas? Pelo jeito...
A
moça não respondeu, teve que voltar logo para a porta da frente.
Ainda
em pé, Célia avaliou aquela sala. Uma mesa comum com uma montanha de revistas
em cima. Nem precisava pegar um exemplar para saber que a edição mais nova de
uma dessas revistas devia ter uns cinco anos. Um arco levava para um corredor
escuro com várias portas enfileiradas fechadas.
-
Desde que me dou por gente não pisava mais nessas clínicas populares.
Se
dirigiu até uma cadeira, a mais afastada daquele casal estranho que não tirava
os olhos em cima dela. Automaticamente pôs a mão no braço e mais uma vez
percebeu que estava sem bolsa.
Deu
uns tapinhas no assento da cadeira para tirar qualquer partícula imunda de
poeira e só depois que julgou estar aceitável sentou-se empertigada com o queixo
levantado e os olhos analisando o estranho ambiente.
O
silêncio reinava na sala até o momento que ouviu a voz rouca falando alto lá
fora na varanda.
IV
-
Horácio, seja bem vindo - disse a mulher de uniforme branco.
Ele
ainda se sentia meio atordoado. Não lembrava que tinha marcado uma visita nessa
casa. Quando viu, atravessava o portão enferrujado pendurado toscamente pelo
muro de cimento cru e depois caminhou lentamente por aquela alameda cinza, de
terra batida, com plantas amareladas e murchas.
O
céu acima também estava da cor de chumbo, mas não tinha nenhuma nuvem
carregada. Depois que atravessou, subiu os degraus de madeira podre e parou,
ofegante, diante de uma mulher de cabelos oleosos e olhos amarelados como se
tivesse icterícia
-
Aqui? - ele perguntou com sua voz de barítono. - Tem certeza que não errei de
casa?
Horácio
se contraiu quando a mulher sorriu. Faltavam-lhe três dentes na frente e o
resto eram amarelados e cobertos de tártaros.
-
Aqui mesmo. O Doutor está à sua espera.
-
Me disseram que era uma mansão. E isso aqui é uma casa caindo aos pedaços... e
amarela! Olha essas paredes descascando. Deve estar infestado de aranhas e ratos.
Não, com certeza errei. Vou conferir na minha agenda, vou te mostrar.
Levantou
as mãos e olhou-as, mais assustado ainda.
-
Onde está minha pasta? - Horácio perguntou, irritado. Mas não obteve nenhuma
resposta vinda daquela mulher estranha.
Como
ela apenas se limitou a sorrir, ele passou rápido e por pouco não esbarrou
nela.
Horácio
irrompeu na sala, e seu desagrado aumentou. Onde estava os móveis da casa? O
que via ali era apenas uma velha e carcomida mesa e cadeiras espalhadas pelo
sala. E três pessoas que nunca viu na vida.
-
Acho que vim no endereço errado - repetiu, nervoso. - Não me lembro que tenham
me falado que era nesse casebre.
A
mulher sorridente e banguela disse atrás dele:
-
O senhor está no lugar certo, Horácio.
Ele
se virou para ela e ergueu o indicador.
-
Não me lembro se dei permissão pra que me trate com essa intimidade, senhora. Prefiro
que me trate como doutor. Sou advogado e só estou à espera da minha nomeação
para Procurador do Estado para...
A
moça de uniforme branco o interrompeu:
-
Pode escolher uma cadeira, tenho que receber outra pessoa.
Ela
deu as costas e foi para a varanda. Uma coisa que Horácio mais odiava era ser
interrompido enquanto falava. Observou as três pessoas sentadas no canto da
sala. Tinha um homem com cara simplória, com todo jeito de ser um zero à
esquerda. Ao seu lado uma mocinha o encarava com curiosidade.Parecia zangada
com ele. Vai ver que não gostou do meu jeito, pensou. Em uma cadeira mais
afastada uma velha olhava para o teto. Essa tinha jeito de ter muito dinheiro.
Horácio aproximou-se dela, puxou a cadeira ao lado e disse educadamente:
-
Com licença.
A
velha nem se deu ao trabalho de responder, continuou fitando o teto como se não
estivesse ali.
Sem
sua pasta ele se sentia perdido. Se ao menos tivesse a agenda com ele poderia
puxar assunto com a ricaça. Sabia que era bom de papo e pessoas caíam na sua
lábia, e provavelmente essa velha também cairia na sua rede. Horácio vislumbrou
a chance de faturar em cima dela.
-
Vamos ver aonde isso vai dar - disse para si mesmo.
V
Sílvio
estava confuso. Nunca foi convidado para uma festa de aniversário, para ir ao
cinema com uma garota ou para passar um final de semana na casa de praia de
algum amigo ou parente. Na verdade, nunca teve um amigo de verdade ou uma
namorada. E nunca foi convidado para nada, já que sua vida só se resumia a uma
coisa: Visitar médicos ou ficar internado por conta do plano de saúde.
Mas
para sua surpresa era esperado na casa que à sua frente. Indeciso, não sabia se precisava
tocar a campainha ou bater palmas. Nem precisou nada disso; o portão estava aberto.
Mais adiante, no fim de uma pequena alameda, uma bonita moça de jaleco branco
acenava para ele. Ficou em dúvida se era para entrar ou não. Apontou para si e
perguntou:
-
Eu?
A
moça concordou com a cabeça. Receoso, atravessou a alameda em passos tímidos e
nervosos e observou o jardim em volta. Ficou preocupado com tanta vegetação.
Com tantas plantas e flores era o refúgio perfeito para todos tipos de insetos.
Coçou o braço nervoso. Só em pensar nisso começava sua alergia.
Chegou na varanda e ansioso, perguntou:
-
A casa é bem protegida?
-
Protegida como? - Perguntou a moça.
-
Tenho alergia ao vento e a mosquitos.
-
Não se preocupe com isso, Sílvio.
-
Como não vou me preocupar? É minha saúde que está em jogo. Por isso sempre ando
com um antialérgico...
Sílvio
ficou mudo. E com falta de ar. Não viu o estojo de remédios que levava sempre a
tiracolo. Apavorado, gemeu:
-
Sem meus remédios posso ter um ataque cardíaco ou um derrame... Não sei onde
posso ter deixado meu estojo!
A
moça de jaleco branco apontou a sala e sorrindo disse:
-
Não fique preocupado, Sílvio. Se acomode em uma das cadeiras; assim que o
Doutor chegar, poderá falar com ele sobre isso
-
Quem é esse doutor?
A
moça sorriu.
-
Ele vai lhe dizer.
Sílvio
sentiu uma ponta de alívio quando soube que falaria com um médico. Sua memória
andava falhando. Como foi se esquecer que iria para uma clínica de repouso?
Sílvio
entrou na sala e gostou do que viu e cheirou. O ambiente era claro e
antisséptico, com uma mesa forrada de toalha de linho branca, cadeiras também
brancas e um leve aroma de éter.
Fiscalizou,
temeroso, os quatro pacientes que chegaram antes dele. Não pareciam tão doentes
como ele. Mas doenças são traiçoeiras, ficam escondidas esperando o momento de
distração para se declarar. As pessoas podiam parecerem saudáveis, mas se
estavam ali na clínica, com certeza queriam se precaver como ele.
Puxou a cadeira ao lado de um sujeito que
devia sofrer de obesidade mórbida e sentou com as mãos entrelaçadas e os
joelhos tremendo.
-
Espero que à noite não faça muito frio. Me resfrio facilmente.
O
sujeito obeso lhe lançou um olhar estranho. Sílvio não gostou nada disso.
Abaixou a cabeça, juntou as mãos em punho na testa e balançou mais ainda os
joelhos, a ponto de chocarem um ao outro.
VI
Michelle
avaliou a casa amarela. Era cercada por um muro que devia medir um metro ou
menos e tinha um portão de madeira aberto que dava para uma trilha calçada de
terra marrom e seca. Pisou com cuidado para não levantar nenhuma poeira e sujar
sua roupa, mas conforme ia pisando a terra continuava incólume, firme. Caminhou
com desenvoltura pelo caminho, como sempre decidida, confiante que fazia sempre
o melhor.
Normalmente
os encontros eram em lugares mais discretos, bem longe de olhares curiosos.
Verificou se havia outras casas vizinhas e não viu nenhuma por perto. Até onde
sua vista alcançava era um mar verde de capim rumo ao infinito.
O
sol resplandecia mas ela não sentia calor. O clima era agradável, com um vento
suave tocando seus cabelos castanhos que tanto admirava.
Procurou
seu espelho para certificar que sua maquiagem não tinha borrado, mas não
encontrou espelho e nem sua bolsa. Olhou para trás, além do portão de madeira,
para ver se sua bolsa tinha caído, mas não vislumbrou nada, só o mar de grama
sacudida pelo vento que corria.
Michelle
deu de ombros. Tinha mais coisas para se preocupar do que um simples borrão de
batom ou um risco errado de lápis nos olhos. O tempo para ela significava
dinheiro, e não ia perder muito tempo nessa casa.
Subiu
os degraus gingando as cadeiras até a varanda onde uma garota, quase da sua
idade, a aguardava sorrindo.
-
Seja bem vinda, você pode entrar e sentar que o Doutor ...
Michelle
ajeitava os cabelos quando cortou-a:
-
Queridinha, não vou poder demorar muito porque tenho outros clientes para
atender.
-
Bem, quanto a isso, o Doutor...
-
Então o chame logo que estou com pressa - Michelle cortou-a novamente e quando
passou pela porta, estancou.- Ué? Quem são aquelas pessoas na sala? - perguntou
quando viu três homens e duas mulheres sentados em cadeiras de couro.
A
moça sorridente respondeu:
-
Também esperam o Doutor.
-
E vou fazer programa com eles? - Michelle perguntou, assustada.
-
Aqui ninguém vai fazer programa, Michelle.
-
Me disseram que...
-
Entre e sente naquela cadeira que está vaga, por favor. - A moça de sorriso
fácil disse gentilmente, mas Michelle percebeu um tom firme na voz e resolveu
obedecer sem retrucar mais.
Michelle
atravessou a sala e passou pelas pessoas sentadas com seu jeito desenvolto. Estudou
um a um e percebeu que não tinham perfil de quem faziam programas. Sentou-se na
cadeira vazia ao lado do sujeito com cara de honesto, cruzou as pernas e tateou
os lados do corpo, onde sempre guardava um maço de cigarros nos bolsos da calça
comprida. Mais uma vez não achou nada.
-
Droga, esqueci meus cigarros - disse para si mesma. Virou-se para o sujeito ao lado
e perguntou: - O senhor fuma?
O
homem respondeu, seco:
- Nunca fumei.
-
E espero mesmo que ninguém fume aqui dentro - disse outro sujeito, esse mais
novo. - Além de ser proibido fumar em lugar fechado, tenho alergia a fumaça de
cigarro.
-
Pela ausência de cinzeiros, com certeza ninguém pode fumar aqui dentro - opinou
a mulher que parecia ser a mais velha do grupo.
-
Sem estresse. Vou lá fora e fumo - disse Michelle. - Algum de vocês sabem me
informar onde posso comprar cigarros?
A
moça sentada depois do sujeito com cara de honesto respondeu:
-
Não vi nenhum bar e nem padaria aqui perto.
-
Só vi um grande descampado. Sem nenhum sinal de vizinhos - disse o homem gordo.
-
Tem razão, só vi um campo - disse o rapaz alérgico.
-
Tirando essa casa, não vi mais nada a não ser o campo de flores - disse a moça.
-
Droga - disse Michelle. - É mesmo. Quando fui ver se tinha esquecido minha
bolsa, também não vi nada.
O
homem gordo exclamou:
-
Como isso pode ser explicado? Estamos isolados no meio do nada?
A
moça sorridente veio da varanda e anunciou:
-
O Doutor está chegando.
Seis
pessoas olharam curiosas ao mesmo tempo na direção da porta da frente.
VII
O
Doutor era alto e magro e tinha os cabelos grisalhos. Grossas sobrancelhas
enfeitavam olhos claros e vestia camisa e calça branca como a moça sorridente
que os recepcionou na varanda. Ele bateu palmas e disse, alegre:
-
Muito bom que já chegaram. Estou feliz com a presença de vocês.
A
impressão que o Doutor causou em Jorge era
de um homem simples, franco, simpático.
Já
Simone achou-o atraente e bonito.
Célia
torceu o nariz. Ele podia ser tudo, menos um doutor.
Haroldo
analisou o homem como um provável cliente.
Sílvio
teve esperança que ele fosse um bom médico.
Michelle
se decepcionou. Aquele homem não tinha nenhum jeito de que fazia programas.
O
Doutor estendeu a mão para apertar as mãos do grupo sentado nas cadeiras, mas
Célia se recusou a dar a sua. O Doutor não se mostrou chateado com aquela
recusa e se apresentou:
-
Eu me chamo Carlos.
Jorge
ergueu o dedo.
-
O senhor me desculpe, mas não conheço...
Carlos
levantou as palmas para cima, sorriu e
respondeu:
-
Eu sei que vocês não me conhecem. Ainda
- enfatizou. - O importante é que eu os conheço.
-
Sério? - Sílvio perguntou. - O senhor é médico em que especialidade?
Ainda
parado no mesmo lugar e com a moça sorridente ao seu lado, o Doutor disse:
-
Vou responder a todas perguntas que queiram me fazer, mas isso será mais tarde.
Vocês devem estar cansados da viagem que fizeram. Precisam descansar um pouco,
por isso mandei que preparassem seus quartos.
-
Xiii... - fez Michelle, balançando a cabeça. Olhou seu pulso para ver as horas
e notou que também esquecera do relógio. - Não sei se vou poder ficar tanto
tempo aqui, eu...
Com
uma voz suave, mas ao mesmo tempo autoritária, o Doutor disse:
-
Você tem todo tempo do mundo. Eu só quero agora é que descansem da viagem.
Acreditem, vocês tem que repousar.
Depois vou conversar com vocês.
-
Aqui é uma clínica de repouso? - Perguntou Sílvio, esperançoso.
O
Doutor não respondeu. Apontou o corredor e disse:
-
Vão para os seus quartos agora e se acomodem. Logo vou chamar um em um para conversarmos.
Continua...
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